expresso.ptexpresso.pt - 8 mai. 12:00

Ouvir o corpo e fazer visitas regulares ao ginecologista são aliados para diagnóstico precoce do cancro do ovário

Ouvir o corpo e fazer visitas regulares ao ginecologista são aliados para diagnóstico precoce do cancro do ovário

A maioria das 600 mulheres diagnosticadas por ano, em Portugal, apresenta a doença em estado avançado. Sendo uma neoplasia silenciosa, diagnosticar precocemente é o grande desafio

Segundo um estudo realizado pela GSK, mais de 35% das pessoas desconhecem os fatores de risco do cancro do ovário. Os mais relevantes são: a idade (mulheres acima dos 50 anos), o facto de nunca terem tido filhos, menopausas precoces ou menarcas tardias e a componente genética. “O que nós sabemos é que se tiver um familiar de 1º grau com doença do ovário, tem 7% de hipóteses de a vir a desenvolver. Se tiver dois familiares nesta situação, o risco aproxima-se de 9%”, sublinha Mariana Malheiro, oncologista no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e na CUF Tejo. Sendo uma doença silenciosa, estar atenta aos primeiros sinais é crucial. “Numa fase inicial, os sintomas costumam ser dores abdominais e sensação de barriga inchada”, refere Mariana Malheiro. Só numa fase mais tardia é que o cancro do ovário dá outro tipo de sintomas. “Falta de ar, perda de apetite, emagrecimento, náuseas, inchaço no corpo inteiro e cansaço são os mais comuns”, diz a especialista.

Check-up (pelo menos) uma vez por ano

Manter uma vigilância ativa é fundamental para prevenir o aparecimento de doenças. João Casanova, ginecologista oncológico na Fundação Champalimaud, esclarece que para as mulheres saudáveis “o razoável é dirigirem-se ao ginecologista uma vez por ano ou quando tenham sintomas ou sejam referenciadas pelo médico de família”. Em termos de exames, “a ecografia ginecológica deve ser feita anualmente e o papanicolau deve ser feito de três em três anos”.

Dentro das doenças que afetam as mulheres, os cancros ginecológicos são uma fatia importante, sendo que o cancro do colo do útero e o cancro do endométrio são os mais comuns e os cancros do ovário, da vulva e da vagina os menos vulgares. Não obstante, no que toca à taxa de letalidade, o cancro do ovário é o que lidera a lista. “O diagnóstico precoce é o grande desafio para o cancro do ovário. Só conseguimos diagnosticar 20% das doentes em fases iniciais. Além disso, ao contrário do que acontece com o cancro do colo do útero, para o qual existe rastreio, para esta neoplasia não há”, lembra Filipa Silva, oncologista na Fundação Champalimaud.

O cancro do colo do útero, apesar de ter uma incidência elevada entre a população feminina — sensivelmente 860 novos casos só em 2020 —, pode ser prevenido de forma eficaz através da vacina contra o HPV. Para o cancro do ovário, João Casanova indica os dois fatores preventivos mais relevantes: hábitos de vida saudáveis e uso prolongado da pílula. “Tomar a pílula é um fator protetor importante para esta neoplasia, e, quanto mais anos a mulher o fizer, menos risco terá.”

“Os cuidados de saúde primários deveriam ser a primeira linha de contacto entre o doente e os cuidados de saúde (dois terços da população vai primeiro ao médico de família quando suspeita de cancro). Mas como há falta de recursos, as doentes entram, muitas vezes, pelo serviço de urgência ou nos hospitais privados em estados mais avançados”, diz Filipa Silva. Tal como acontece com outras neoplasias malignas, a pandemia paralisou a referenciação pelos cuidados primários, atrasando consultas, exames, cirurgias e, consequentemente, os diagnósticos de cancros femininos.

Cláudia Fraga, 54 anos (à data da foto), faz parte dos cerca de 19% de mulheres com cancro do ovário em estado avançado que sobrevivem a esta doença António Pedro Ferreira A sobrevivente Cláudia

Corria o ano de 2015 quando Cláudia Fraga sentiu uma dor forte — como se fossem picadas — do tórax até às virilhas. O cansaço extremo que a invadiu ao acordar no dia seguinte impediu-a de esperar. Nessa mesma manhã apressou-se a sair de casa, dirigindo-se à Fundação Champalimaud, onde realizou os primeiros exames, que confirmaram a existência de um tumor que viria a revelar-se maligno. A rapidez com que reagiu salvou-lhe a vida — de setembro (altura do diagnóstico) a outubro (mês em que realizou a cirurgia), o tumor cresceu de forma galopante, passando de 12 a 28 milímetros. É por isso que Cláudia deixa o apelo a todas as mulheres: “Não ignorem os sinais do vosso corpo e dirijam-se aos centros de referência. Confiem nos médicos especializados.”

Em 2019, após ter completado todos os tratamentos e já livre da doença, o cancro voltou a bater-lhe à porta, desta vez mais agressivo, com metástases no intestino. Seguiu-se quase uma mão-cheia de cirurgias, tratamentos e uma ostomização — operação que liga o intestino a um canal alternativo com o exterior. As cicatrizes que ficaram não são mais do que marcas de resiliência e superação, vestígios do caminho, nem sempre fácil, de quem sobreviveu a dois cancros do ovário. Para ajudar outras mulheres, Cláudia criou a associação Movimento Cancro do Ovário e Outros Cancros Ginecológicos (MOG), à qual preside. O objetivo é simples: melhorar a vida das doentes e das suas famílias, porque, como explica, “os nossos companheiros, os filhos e todos os que gostam de nós também sofrem muito”.

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