expresso.pt - 24 abr. 15:00
Cravos em papel, croché e joalharia: como a arte ajuda a semear Abril
Cravos em papel, croché e joalharia: como a arte ajuda a semear Abril
Um pouco por todo o país, multiplicam-se oficinas de criação de cravos duradouros para celebrar o cinquentenário da Revolução. Papel, croché, joalharia e serigrafia são meios para diálogos de compaixão e liberdade
É uma quinta-feira em 1974. O restaurante SIR, no extravagante edifício Franjinhas, em Lisboa, preparava-se para celebrar o seu primeiro ano de atividade. No dia, o patrão informou os funcionários de que afinal não haveria festa. Estava a acontecer uma revolução. Pediu-lhes que levassem os cravos vermelhos e brancos que haviam de distribuir pela clientela, para que não murchassem. Celeste pegou num molho dos vermelhos e apanhou o metro para casa. “Porque é que o gerente comprou cravos e não malmequeres ou rosas não sei, mas talvez estivessem mais baratos”, contava, em 2018, ao Expresso. “Apeei-me no Rossio e vi as chaimites. Estavam no início da Rua do Carmo.” Meteu conversa com um militar no cimo de um tanque, que lhe pediu um cigarro. “‘Não tenho um cigarro, mas tenho um cravo’, disse-lhe. Tirei um, dei-lho, e ele pô-lo no cano da espingarda”. No caminho para o seu quarto numa pensão do Chiado, foi distribuindo os cravos pelas tropas revoltosas. Relata-se também que as floristas do Rossio repetiriam o gesto, distribuindo a flor vermelha. Celeste Martins Caeiro, ou Celeste dos Cravos, como ficou a ser conhecida, passou a ter folga do restaurante nos 25 de Abril que se seguiram.
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