eco.sapo.pteco.sapo.pt - 24 abr. 08:51

Há PME que já ponderam venda face a exigências de sustentabilidade

Há PME que já ponderam venda face a exigências de sustentabilidade

O diretor-geral da COTEC vê um risco de que as PME percam clientes caso não se adaptem às novas exigências, e afirma conhecer casos de empresas que ponderam alienar um negócio.

A Associação Empresarial para a Inovação (COTEC) está a tomar um papel de mediadora entre as grandes empresas e os respetivos fornecedores, num esforço de clarificar qual a informação base que as normas europeias exigem, em termos de sustentabilidade, afirmou o diretor-geral da associação, Jorge Portugal.

O líder da COTEC vê um risco de que as pequenas e médias empresas percam clientes caso não se adaptem às novas exigências, e afirma conhecer casos de empresas que, “perante a dimensão do investimento necessário para adaptar os seus processos produtivos às novas exigências e aos novos standards de sustentabilidade”, estão a considerar alienar um negócio.

Através do estatuto Inovadora Evolution, que a COTEC está agora a lançar, que esta agência pretende apoiar as empresas nesta adaptação, que se trata também de um processo de inovação, do ponto de vista de Jorge Portugal.

Quando é que as empresas podem candidatar-se [ao estatuto Inovadora Evolution]?

Todas as empresas que vão ter este ano o estatuto de Inovadora podem candidatar-se. Vão conseguir ter este rótulo de que deram o primeiro passo para reportar, aquelas que ainda não reportavam, porque nós temos Inovadoras que são grandes empresas, que já reportam fatores de sustentabilidade. Mas aquelas empresas que não reportavam ficam com este reconhecimento de que estão a reportar.

Para ter o selo é preciso apenas reportar ou reportar e ter determinados resultados?

Neste primeiro momento o que vamos reconhecer é que a empresa vai reportar. Por uma razão muito simples: porque as empresas partem de níveis muito diferentes. Não faria sentido estar a comparar empresas que estão em setores diferentes, e com níveis diferentes das mesmas variáveis, e depois dizer esta está melhor e esta está pior… Pior ou melhor relativamente a quê? A melhor referência é a própria empresa. O que nós este ano vamos fazer é reconhecer que a empresa reportou e que existe um perfil de base, um perfil de partida, e depois no próximo ano, se a empresa concorrer novamente, nós já vamos poder perceber se a empresa melhorou ou não relativamente ao reporte deste ano. Para isso, as métricas têm que ser calculadas sempre da mesma maneira. E é nesse sentido que nós estamos a trabalhar num modelo. É fazer com que o modelo de base de reporte voluntário do EFRAG [Grupo Europeu de Consultoria para o Reporte Financeiro] seja aplicado nas mesmas condições para as empresas, e que as empresas saibam efetivamente responder às variáveis, recolher essas variáveis e fazer esse cálculo.

Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 27MAR24 Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital VerdeHugo Amaral/ECO Mas então vão simplesmente receber a informação sobre se as empresas reportam ou não, ou vão também ser uma ajuda ativa para as empresas que querem reportar, mas que ainda não o conseguem?

Temos que ser uma ajuda ativa. Não pode ser de outra maneira. Colocarmos o modelo disponível não era suficiente, porque o modelo na sua base tem muitas ambiguidades do ponto de vista de cálculo. Opções de cálculo diferentes. E por isso, das duas uma: ou se define exatamente uma forma rigorosa e estandardizada, como é que aquelas variáveis são calculadas. Ou então umas vezes o modelo sai com olhos azuis, outros com olhos verdes, olhos castanhos, para a mesma realidade. E mais do que isso. De um ano para o outro, a mesma empresa poderia interpretar os indicadores de forma diferente. Por isso, o nosso trabalho na COTEC foi, ou está a ser, definir exatamente essas opções de cálculo e de recolha de variáveis. E depois testar com os nossos associados e os nossos parceiros que já estão a reportar. E com isso temos aqui um modelo consistente, comparável entre setores, entre empresas e comparável entre diferentes momentos da sua recolha.

No fundo identificaram as métricas que, de acordo com a regulação que já foi emitida, são essenciais para as empresas…

…regulação voluntária. Porque as empresas, as PME, não estão abrangidas agora nestas obrigações de reporte, só as empresas de maior dimensão. Mas elas vão ser obrigadas a reportar indiretamente, porque as maiores empresas vão ser obrigadas [a reportar] e estas empresas, mais pequenas, estão na cadeia de abastecimento e são fornecedores das empresas maiores. Portanto, para garantir aquilo que nós chamamos um novo nível de transparência e traçabilidade radical na cadeia de produção, vai ser necessário calcular emissões do tipo três. E para isso todos os fornecedores que estão na cadeia, independentemente se são PME ou não, vão ter que reportar também. Não há ainda a obrigatoriedade das PME reportarem por um lado, mas há a necessidade dos clientes que são obrigados a reportar recolherem essa informação do lado dos seus fornecedores.

Exatamente. Então, nesse caso de quantas métricas é que estamos a falar, que as pequenas empresas vão ter de passar a reportar aos seus clientes?

Esse é o principal problema, porque nesta altura, não há nenhuma indicação… Tem a ver com o nível de materialidade — materialidade significa quais são os indicadores importantes para o negócio de uma determinada empresa. E, portanto, cada empresa vai considerar os indicadores dessa materialidade. O que cria aqui uma situação bastante particular, que é: uma empresa fornecedora, que trabalha com diferentes fabricantes, pode ter de cada cliente diferentes exigências de reporte, e diferentes variáveis. Já ouvimos das empresas dizer que os seus clientes estão a pedir questionários de mais de 100 perguntas, 150 perguntas. Agora imagine o que é uma pequena empresa ter pessoas só a recolher informação e responder a questionários dos clientes. Por isso, nesta perspetiva, o que nós estamos a fazer na COTEC, e aproveitando este modelo voluntário, é dar este sinal às empresas maiores que vão começar a questionar e dizer “olhe, tem aqui um modelo mínimo, que é um modelo que podem pedir aos vossos fornecedores e que vos permite recolher também uma base de informação que é compatível com os standards de reporte”. Portanto, na prática, estamos aqui a criar uma espécie de uma mediação, naquilo que é informação de base, que qualquer empresa necessitará de pedir aos seus fornecedores.

Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 27MAR24 Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital VerdeHugo Amaral/ECO Independentemente da especialidade da sua atividade.

Independentemente da sua especialidade, da sua materialidade. Neste modelo voluntário, já agora, não exige materialidade. Tem essa vantagem, portanto é um modelo genérico. Estamos a falar de um conjunto mínimo de variáveis. Tem aqui a possibilidade de poder trabalhar neste conjunto de partida e depois, à medida que vão ganhando experiência, vão alargando este conjunto e até incorporando a sua própria materialidade e, de certa maneira, também trabalhando com a sua cadeia de abastecimento. Isto em cascata.

Para uma empresa que já tem experiência na recolha e tratamento desta informação, não é um grande problema. Para quem não tem experiência de recolha desta informação e sistematização, mas no cálculo dos indicadores indiretos, exige aqui algum cuidado.

Então, quais as principais métricas? Aquelas que são incontornáveis?

Deste modelo mínimo, eu diria que desde já estamos a falar as métricas de base, que são emissões. Estamos a falar de consumo de energia, de fontes renováveis e não renováveis. Estamos a falar de emissões tipo um e tipo dois, que na prática é importante para depois calcular aquilo que são as emissões tipo três dos fornecedores. Estamos a falar de poluição do ar, da água e do solo. Estamos a falar de biodiversidade, utilização de de água e variáveis associadas com a economia circular. E aqui tem a ver com o conteúdo reciclável, matéria prima reintroduzida no processo produtivo. Tem a ver com taxas de reciclagem, com a geração anual de resíduos e tem a ver com o quanto é que desses resíduos são usados para reciclagem. Algumas destas variáveis são muito difíceis de calcular, algumas são mais fáceis. Por isso, agora é importante que as empresas fiquem sensíveis que estas variáveis são uma base que foi negociada por um conjunto de especialistas, no meio de todas as variáveis possíveis. Do lado social, estamos a falar de indicadores de equidade salarial, equidade de género, acidentes de trabalho… Evidentemente, estas variáveis são muito mais simples de calcular. Muitas delas as empresas já estão a reportar para outros fins. Para uma empresa que já tem experiência na recolha e tratamento desta informação, não é um grande problema. Para quem não tem experiência de recolha desta informação e sistematização, mas no cálculo dos indicadores indiretos, exige aqui algum cuidado.

Como é que as pequenas e médias empresas podem lidar da melhor forma com estas exigências para terem realmente capacidade de resposta?

As empresas em geral têm que ter um bom sistema de informação que ligue aquilo que são os sistemas operacionais com os sistemas de gestão. Que permita calcular de uma forma expedita e sistemática os indicadores necessários. Agora, efetivamente, as empresas vão ter que dedicar pessoas e tempo a produzir esta informação. Mas eu diria que é um bom investimento. Nesta altura, é importante, numa primeira fase, deixar as empresas respirar. É preciso dar tempo para que as empresas possam começar a olhar para isso, para que dediquem recursos, para que comecem a olhar para os seus sistemas de informação e comecem a recolher esta informação de forma sistemática e possam reportar aos seus clientes. Depois, num segundo passo, começar a sistematizar essencialmente como é que vão melhorar estes indicadores, estes e outros. E eu diria, num terceiro passo mais à frente, começar a olhar para estes indicadores quase como condições, aliás, como aconteceu na fase da qualidade. As empresas que não tinham certificações de qualidade não podiam ser fornecedoras de determinados clientes. Eu diria que vai acontecer um momento no futuro em que uma empresa que não atinja determinados níveis de sustentabilidade não vai poder ser fornecedora de um determinado cliente, seja pela sustentabilidade ambiental, seja pelas práticas sociais. Nessa perspetiva, eu diria que é a altura para aquelas empresas que não estão a fazer, começarem a olhar para estes indicadores. Temos aqui ainda algum tempo. Estamos a falar de três a cinco anos. Mas nós antecipamos que as empresas que vão neste momento estar abrangidas vão começar já, e já estão muitas delas a contactar os seus fornecedores.

Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 27MAR24 Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital VerdeHugo Amaral/ECO Fazendo a transição entre este tsunami regulatório e o lado prático: do feedback têm tido das pequenas e médias empresas, a sustentabilidade é sobretudo um fardo ou já se consegue reconhecer aqui alguma oportunidade?

Depende qual é que a perspetiva da empresa perante a inovação e perante a capacidade tecnológica própria. Se a empresa aposta na investigação, no desenvolvimento e na melhoria contínua da eficiência do seu modelo de negócio, eu diria, isto é sempre uma oportunidade, porque é sempre uma oportunidade de reduzir custos, utilizando menos matéria prima, usando fontes de energia renováveis, produzindo menos resíduos ou aqueles resíduos que se produzem serem valorizados em termos de matérias primas ou outros fluxos, entre outros.

Mas as PME já conseguem ver essa oportunidade?

As que inovam, sim. Agora, se a empresa não está focada nesses ganhos de eficiência material e eficiência produtiva, é evidente que tem mais dificuldades. Isso exige ter, obviamente, capacidade interna. Mas, porque a empresa não pode incorporar tudo, é uma decisão estratégica, de colaboração externa, nomeadamente com fornecedores, com clientes e, acima de tudo, com a academia. Hoje temos uma academia e sistema científico que está disponível para trabalhar com as empresas, para resolver problemas de sustentabilidade, de eficiência operativa e de utilização de recursos com as empresas. Mas é preciso que as empresas também deem esse passo. E nisso nós vemos que, de facto, há aqui um caminho ainda para fazer por parte de muitas empresas. Isso pressupõe também que a empresa tenha internamente recursos capacitados para falar com a academia, com os investigadores, não só explicar os problemas, mas também para trabalhar em conjunto na resolução desses problemas. E esse é um trabalho que algumas empresas já estão a fazer. Das 38.000 exportadoras, apenas uma em cada dez tem investigação e desenvolvimento próprio, ou seja investe em investigação e desenvolvimento. Das empresas que dizem que têm atividades de inovação, apenas uma em cada 20 ou 25, cerca de 5% a 6%, colabora com a academia. Portanto, estamos ainda longe, por exemplo, daquilo que se passa nos países mais avançados em inovação, nos quais estamos a falar praticamente de mais do dobro deste número de empresas que colaboram com a academia. A academia é um parceiro incontornável nesta altura.

Nós temos ouvido agora no mercado algumas empresas que, perante a dimensão do investimento necessário para adaptar os seus processos produtivos às novas exigências e aos novos standards de sustentabilidade, nomeadamente ambiental, que estão a considerar, por exemplo, alienar um negócio.

Temos aqui uma porta aberta. No entanto, como também reconhece, muitas empresas estão num estágio muito inicial deste processo. Vê um risco relevante de as pequenas e médias empresas perderem os seus clientes, se não se adaptarem?

Esse risco existe. E nós temos ouvido agora no mercado algumas empresas que, perante a dimensão do investimento necessário para adaptar os seus processos produtivos às novas exigências e aos novos standards de sustentabilidade, nomeadamente ambiental, que estão a considerar, por exemplo, alienar um negócio. A dizer “é melhor vender agora, enquanto o negócio tem valor, do que mais à frente não termos a capacidade de investimento e aí sim o negócio perde todo o valor”, porque entretanto o cliente diz “eu exijo um nível de standard ambiental na vossa produção” de que não estão capazes.

Mas estamos a falar de que fatia do tecido empresarial português que está com problemas mais graves em adaptar-se?

Não temos esses dados. Temos vindo a recolher dados episódicos, portanto relatos de empresas que se colocam disponíveis para poderem ser adquiridas por outras empresas. Agora, o que eu posso dizer é que, se olhar para o Eurobarómetro associado à sustentabilidade, do Indicador Europeu de Portugal, as empresas em Portugal estão, em alguns indicadores de eficiência material e de recursos, abaixo daquilo que é a média europeia. E por isso eu diria que, independentemente do que dizem as estatísticas, vemos efetivamente que há empresas em todos os setores de atividade, que estão a fazer já este caminho do ponto de vista de adiarem a eficiência do negócio, a sustentabilidade. Apenas uma em cada dez tem capacidade de investigação e desenvolvimento ou investe. Portanto, agora pode fazer as contas de quantas é que podem estar em risco se efetivamente estes standards e exigências ambientais forem apertadas.

Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 27MAR24 Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital VerdeHugo Amaral/ECO Nove em cada dez?

Eu não quero dizer isso, mas diria que há uma forte ligação entre a capacidade de investigação e desenvolvimento própria e a capacidade de as empresas se adaptarem. Diria que muitas destas empresas que hoje são exportadoras e que não investem em investigações e desenvolvimento próprio, vão ter que o fazer no futuro e no muito curto prazo.

As empresas têm que continuar a investir, mas tem que haver, obviamente, aqui um apoio. Até porque há uma lógica de intervenção, porque se as empresas não conseguirem fazer esta transição, há muitos empregos que se perdem.

Mas então vê que sejam necessários auxílios financeiros a estas empresas, para que possam passar a ter essa capacidade de investir, na inovação que se está a exigir?

Tem sido um pouco a lógica da política do Pacto Ambiental Europeu, que é a promoção, da transição para uma economia mais digitalizada e mais sustentável. A Europa quer limpar o mundo e ter a liderança nesse processo de tornar o mundo mais limpo e mais sustentável. Mas há aqui uma dimensão de competitividade que, no curto prazo, é muito importante garantir. Nesse aspeto, nós defendemos que deve haver uma transição para uma cadeia de valor mais sustentável mas, ao mesmo tempo, não pode haver um prejuízo na competitividade das empresas. E é nesse sentido que as políticas públicas, os instrumentos de política pública, são importantes. No sentido de ligar o investimento em investigação e desenvolvimento aos processos produtivos. As empresas têm que continuar a investir, mas tem que haver, obviamente, aqui um apoio. Até porque há uma lógica de intervenção, porque se as empresas não conseguirem fazer esta transição, há muitos empregos que se perdem. E atenção, muitas vezes as pessoas dizem: as PME estão nas cadeias de abastecimento, se esta se perder, virá outra. Mas não é verdade. Muitas das nossas PME estão em locais no país nos quais são grandes empregadoras a nível local. E, portanto, a sustentabilidade das PME, por comparação com as grandes empresas, é um fator também de sustentabilidade e coesão territorial. Elas podem ser grandes empresas a nível local.

Nesse caso, a distribuição de fundos comunitários está a ser bem feita? Pergunto-lhe porque ressalva aqui a importância das PME a nível nacional, mas também sabemos que os fundos do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] estão a ser sobretudo dirigidos para grandes projetos de grandes empresas. Precisávamos de fundos comunitários que apoiassem mais em particular as PME nesta transição?

Nós precisamos de investimento empresarial, dirigido à competitividade, à internacionalização, à inovação. Esse investimento tem que ser feito, existam ou não existam fundos públicos. Aliás, até podemos ver que as empresas não devem fazer depender os seus investimentos de se houver ou não fundos. Os apoios devem ser exatamente isso mesmo, apoios ao investimento privado. Ponto um: é preciso que as empresas tenham a estrutura de capital adequada para fazerem esta jornada e não é possível uma empresa procurar internacionalização e ao mesmo tempo inovação sem uma estrutura de capital suficientemente robusta para fazer essa jornada.

Mas as PME não estão a ficar esquecidas no que se trata de apoios à transição?

Eu julgo que não. Este novo programa do Portugal 2030 tem a questão da sustentabilidade bem marcada. É importante que haja uma ligação efetiva entre aquilo que são os apoios à investigação para alargar a tal base, para serem não apenas uma em cada dez, serem duas em cada dez, três em cada dez, quatro em cada dez, cinco em cada dez. Essa uma em cada dez já está a fazer o seu caminho e vai buscar apoios. O que nós precisamos é que mais empresas criem essa capacidade. E agora a pergunta é: mas como? Desde logo criando internamente capacidade para fazer investigações e desenvolvimento através, por exemplo, da contratação de doutorados. As empresas que têm uma função de investigação e desenvolvimento forte podem ter o peso de doutorados em termos da sua ou das suas equipas de investigação a um nível de até 30%. E depois há outro tema muito importante: não basta apenas criar novas novas tecnologias e implementá-las nos seus processos produtivos. É preciso criar condições para as proteger. E, nesse quadro, nós vemos que muitas empresas, não estão particularmente preocupadas com a proteção do seu ativo incorpóreo, dos seus ativos intangíveis, do seu conhecimento, da sua propriedade intelectual industrial. Ainda esta semana lançámos uma iniciativa para capacitar as empresas para protegerem melhor os seus ativos intangíveis. Na prática, mais capital humano, mais investimento em investigação, mais colaboração com academia e maior nível de proteção são elementos essenciais de uma receita para as empresas investirem num processo de crescimento internacional sustentável.

Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 27MAR24 Jorge Portugal, Diretor-Geral da COTEC Portugal, em entrevista ao ECO/Capital VerdeHugo Amaral/ECO Que vantagens é que podem esperar as empresas que se esforcem para avançar neste caminho?

Uma das coisas é o próprio financiamento. O estatuto Inovadora nasce como forma de reconhecer as empresas que estão a fazer este caminho e que tem já um processo de inovação que, na prática, significa uma adaptação sistemática às condições de mercado e às suas exigências. Mas também serve para reduzir a assimetria de informação que existia nesta matéria entre os bancos e os investidores e as próprias empresas. Sabemos que hoje a própria banca está submetida a obrigações de encarecer o seu custo de capital se não conseguir demonstrar que efetivamente o seu financiamento, a sua carteira de clientes, está a evoluir no caminho certo. Portanto, nessa perspetiva, uma nota muito positiva é: as empresas que já estão nesse caminho e, portanto, que podem efetivamente demonstrar através da nossa certificação Inovadora ou no Inovadora Evolution, serão certamente reconhecidas com uma relação ainda mais profícua com a banca e com os seus investidores, com o mercado em geral. Aquelas que não estão ainda nesse caminho podem perceber que esse caminho é o único possível. Ou então, alternativamente, podem vender o negócio a alguém que saiba fazer esse caminho. Portanto, é nessa perspetiva que vemos que, efetivamente, é preciso alargar este núcleo, este núcleo vital da economia portuguesa.

Mas quão mais barato se pode tornar o financiamento? Tem alguma quantificação?

A banca dirá quanto é o acréscimo de spreads relativamente a uma empresa que é inovadora, face a uma empresa que não é inovadora. Mas posso dizer que de facto pode ser, num contexto em que as taxas de juros estão mais elevadas, cada vez maior a diferença.

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