expresso.ptexpresso.pt - 21 abr. 15:22

“A Sociedade da Neve” venceu os Prémios Platino do cinema ibero-americano

“A Sociedade da Neve” venceu os Prémios Platino do cinema ibero-americano

O filme do espanhol Juan Antonio Bayona, que se tornou num dos maiores êxitos da Netflix, venceu seis das sete categorias para que estava nomeado. Numa edição que homenageou a atriz Cecilia Roth e sem portugueses no palmarés, houve um coro de protesto em defesa do cinema argentino contra a política cultural do Governo do país. A 11ª edição dos Prémios Platino foi uma vez mais transmitida pela RTVE, canal da televisão pública de Espanha

O filme “A Sociedade da Neve” - que aborda a sobrevivência da equipa uruguaia de râguebi cujo avião se despenhou na Cordilheira dos Andes, em 1972 - somou este sábado no México

seis estatuetas Platino à sua já longa lista de prémios conquistados, incluíndo os 12 Goyas que venceu em fevereiro.

Depois da estreia no Festival de San Sebastián do ano passado e de uma passagem pontual nas salas, a obra do espanhol Juan Antonio Bayona tirou extraordinários benefícios da difusão global na Netflix, tornando-se num dos maiores êxitos (e no filme de língua não-inglesa mais visto) da história da plataforma de streaming.

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Coprodução entre Espanha, Uruguai, Chile e Estados Unidos, "A Sociedade da Neve" conquistou este sábado seis dos sete prémios Platino para que estava nomeado, incluíndo o de Melhor Filme, Melhor Realizador (Bayona) e Melhor Ator (foi premiado o uruguaio Enzo Vogrincic, que interpreta o estudante universitário Numa Turcatti). Foi ainda distinguido nas áreas técnicas de fotografia, direção de som e montagem.

O segundo filme mais premiado da noite foi também um êxito de estima em todo o mundo e um dos mais controversos do ano, “20.000 Espécies de Abelhas”, auspiciosa estreia na longa metragem de Estibaliz Urresola Solaguren, cineasta basca, de 39 anos. “20.000 Espécies de Abelhas” aborda o tema da identidade de género na infância e venceu quatro prémios, incluíndo o de Melhor Primeira Obra e Melhor Atriz Secundária (Ane Gabarain).

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O Platino de Melhor Atriz ibero-americana distinguiu a catalã Laia Costa por “Un Amor”, de Isabel Coixet, ao passo que o de Melhor Ator Secundário foi para Jose Coronado em “Fechar os Olhos”, de Victor Eríce (que já havia vencido o Goya).

A homenageada da noite foi a atriz argentina, há muito radicada em Espanha, Cecilia Roth, rosto que dispensa apresentações pela sua importância em várias obras de Pedro Almodóvar como "Tudo Sobre a Minha Mãe". A atriz, de 67 anos, recordou o abandono forçado de Buenos Aires rumo a Madrid, com a família, em 1976, logo após o Golpe de Estado que colocou a Ditadura Militar ao poder.

Cecilia Roth tocou então em tema sensível que culminou na solidariedade mostrada em palco por Juan Antonio Bayona: "Argentina, estamos juntos!" A política cultural do atual governo de Javier Milei está a desmantelar o cinema e o audiovisual argentino a uma velocidade vertiginosa desde a sua chegada ao poder em dezembro.

"A produção está paralisada pelo bloqueio imposto ao INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales), que é o centro nevrálgico de fomento à indústria do nosso país”, referiu em entrevista prévia à cerimónia um dos artistas nomeados, o cineasta argentino Benjamín Naishtat. “A situação já não era boa, agora é catastrófica. O INCAA, financiado por taxas sobre a publicidade, tem 80 anos de história e é responsável pelo sucesso do cinema argentino em todo o mundo. Mas o recém-nomeado presidente do instituto, um economista, Carlos Pirovano, não teve pejo de afirmar que não vê filmes nem lê livros. É este o estilo anarco-capitalista do atual Governo de extrema-direita. Uma provocação permanente.”

“Provavelmente, não haverá cinema e audiovisual argentino nos Prémios Platino de 2025 porque a produção está parada”, adiantou o também argentino Daniel Burman, nomeado por “Iosi, el espía arrepentido”, minisérie da Amazom Prime Video. “A cultura não está em perigo porque transcende os governos, ninguém conseguirá derrotá-la. O que está em perigo são as indústrias culturais, que já de si são vulneráveis. A cultura foi sempre apoiada na história da nossa democracia desde 1983, inclusivé pelos governos mais liberais, como o de Carlos Menem. Sempre se compreendeu que a indústria cultural trazia imenso valor agregado e era fundamental na construção identitária do país.” Esta ideia foi agora travada, salientou Burman: “No discurso do Governo atual, a cultura é o inimigo.”

A atriz Cecilia Roth, a homenageada desta 11ª edição D.R.

Organizados pela Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais e pela Federação Ibero-americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais, os Prémios Platino realizam-se desde 2014 e são uma ótima ideia de promoção do cinema ibero-americano falado em castelhano e português (assim como o galego, o catalão e o basco do nosso país vizinho), reunindo, pela proximidade dos idiomas, os dois países da Península Ibérica a toda a América Latina. É uma iniciativa que celebra as cinematografias de 23 países e tem uma audiência com enorme potencial, de quase 700 milhões de pessoas.

E contudo, as obras de língua portuguesa, sejam elas portuguesas ou brasileiras, tardam a ter um reconhecimento significativo neste evento dominado por Espanha. Este ano, Portugal foi apenas representado pela longa-metragem de animação "Nayola", de José Miguel Ribeiro, e pela coprodução portuguesa minoritária de "Mataram o Pianista", outro filme de animação, realizado pelos espanhóis Fernando Trueba e Javier Mariscal. O vencedor desta categoria foi o também espanhol "Robot Dreams", de Pablo Berger.

Este desequilíbrio merece reflexão da parte dos organizadores dos Platino. Só a título de exemplo, refira-se que a Seleção Oficial do maior festival de cinema do mundo – Cannes - apresenta este ano duas longas-metragens de língua portuguesa no concurso principal: "Grand Tour", de Miguel Gomes e "Motel Destino", do brasileiro Karim Aïnouz. Não há, no mesmo concurso, qualquer obra de língua castelhana a disputar a Palma de Ouro.

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