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Bruce Liu, na rota das grandes salas

Bruce Liu, na rota das grandes salas

Prodígio brilhou no penúltimo dia do Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu, que ocupou várias salas, nenhuma das quais responde favoravelmente a um público cada vez mais exigente.

A chegar ao fim da sua 17.ª edição, o Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu (FIMPViseu) propôs, para a passada sexta-feira, um recital com um jovem músico de carreira internacional, já bem conhecido do público da cidade, uma vez que, dois anos antes de conquistar o primeiro prémio no 18.º Concurso Internacional de Piano Chopin, o canadiano Bruce Liu (nascido em Paris, em 1997, e criado em Montreal) havia convencido o júri do Concurso Internacional de Piano de Viseu de 2019 a entregar-lhe, também, o primeiro prémio. Em 2024, passou pela Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu com o variado programa de recital com que se tem apresentado nas mais diversas salas de concerto, um pouco por todo o mundo, concebido de forma a privilegiar a exibição técnica do intérprete.

Após uma breve introdução pelo director do FIMPViseu, José Carlos Sousa, e os mecenas do concerto (Quinta do Perdigão e Quinta das Marias), Bruce Liu atacou a Sonata n.º 2 op. 35, em Si bemol menor (1837-1839), de Chopin (1810-1849). Antes ainda de ser perceptível o domínio do intérprete sobre a partitura, já o instrumento se mostrava aquém do desejável em termos sonoros (tímbricos, essencialmente). Bruce Liu lidou bem com as condições possíveis e brilhou com o mesmo à-vontade com que teria brilhado com o melhor piano de concerto.

Bruce Liu

Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu
Sexta-feira, 19 de Abril, 21h00
Obras de Chopin, Kapustin, Haydn e Prokofiev

A sonata mostrou bem a envergadura com que se lançou à profusão de notas, mas também a facilidade de contenção nas regiões mais delicadas da partitura (como o trio do terceiro andamento) e o controlo quase mecânico de dinâmicas uniformemente evolutivas. Contrastando com Chopin, o pianista interpretou de seguida as swingadíssimas Variações op. 41 (1984) de Nikolai Kapustin (1937-2020), música de audição fácil que se move em harmonias jazzísticas conjugando citações diversas, a mais óbvia das quais a melodia popular lituana de que Stravinsky se serviu na introdução da sua Sagração da Primavera.

Nos antípodas de Kapustin, foi com o classicismo da breve Sonata em Si menor, Hob. XVI:32 (1776), de Joseph Haydn (1732-1809), que Bruce Liu continuou, após o intervalo, a exibir a sua versatilidade, mudando logo depois para a linguagem de Sergei Prokofiev (1891-1953), com a Sonata n.º 7, op. 83, em Si bemol maior (1942).

Foto Bruce Liu é já bem conhecido do público da cidade de Viseu, onde assinou actuações coroadas em 2019 e 2021 Luís Belo/FIMPViseu

Se a anunciada Sonata op. 31 n.º 3 A Caça caíra do programa, Beethoven acabou por não ficar esquecido entre os números extra-programa. O primeiro brinde ao enorme entusiasmo do público foi a Gnossienne n.º 3, de Erik Satie. O segundo regresso ao palco valeu-lhe o terceiro andamento da referida sonata de Beethoven; um terceiro regresso concluiu com o quarto andamento, já com pequeninos sinais de cansaço que se traduziram por pequenas máculas na limpidez de algumas linhas. A cada vez, o público ergueu-se em esfuziantes aplausos. Porém, este não parece ter sido o único momento que fez as delícias dos viseenses, que rapidamente esgotaram seis dos 20 concertos do FIMPViseu.

Por isso, mas também pela persistência de quem promove e investe, ano após ano, na realização de um evento com a dimensão do FIMPViseu, é evidente que a cidade de Viseu merece um espaço adequado à realização de concertos, com um bom piano e programação regular, já que nenhum dos diversos espaços pelos quais o festival se estendeu (além da Aula Magna do Politécnico de Viseu, o Museu Nacional Grão Vasco, o Teatro Viriato, a Igreja da Misericórdia, o Auditório da Escola Secundária Emídio Navarro e o Pavilhão Multiusos) responde favoravelmente a um público cada vez mais rendido à música e mais exigente.

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