www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 13 jun. 08:01

Abram alas para os desinfluenciadores digitais

Abram alas para os desinfluenciadores digitais

AirPods Max por 629 euros? Deixem-se disso, auscultadores de fios servem perfeitamente. Um cobertor com peso que custa 150 euros? Não delirem. Uma mala Mary-Kate da Balenciaga por 2.790 euros? Chamem a polícia, que isto é um assalto.

Bem-vindos à era da desinfluência, onde criadores online vos tentam convencer a não comprar o último grito de alguma coisa.

É uma tendência crescente que visa desmotivar a compra, a perfeita antítese de tudo o que vimos em anos e anos de influenciadores digitais. Trata-se de uma evolução curiosa num mercado que tem passado por grandes transformações desde os tempos áureos, em que bastava uma publicação no Instagram para fazer esgotar um produto.

Agora, são os desinfluenciadores digitais que estão em alta. Usam as suas plataformas para desencorajar compras desenfreadas e torcer o nariz a tendências sobrevalorizadas, por uma variedade de razões. Já repararam que as pessoas realmente ricas não se cobrem de logótipos caros da cabeça aos pés? Usam produtos de qualidade - caros, sem dúvida - mas sem alarido. A ostentação impulsionada por tendências online está basicamente fora de moda.

Depois há a questão da sustentabilidade. Vídeos de compras por atacado em sites chineses muito baratos, como Shein, Temu e Wish, foram populares durante uns tempos mas promoveram um comportamento de consumo absolutamente insustentável. O custo ambiental da moda barata é significativo, não só em termos da produção mas também do desperdício que cria quando a tendência sai de moda em três meses e vai parar à lixeira. E isso é algo que a Geração Z em particular não está disposta a aceitar.

Tal nota-se no crescimento da moda em segunda mão e dos negócios de economia circular. Apps como Thread Up, Poshmark, Vestiaire Collective, Rotaro, By Rotation, The RealReal e outras permitem comprar itens de qualidade, marca e em bom estado por uma fracção do preço. Não só abrem portas para marcas de luxo que de outra forma não chegariam às mãos de muita gente como fazem circular uma economia nada sustentável.

Um estudo da Cross-Border Commerce Europe aponta para que o mercado europeu de moda em segunda-mão duplique nos próximos cinco anos, atingindo um total de 34 mil milhões de euros. E um relatório recente da ThredUp, publicado em Abril, referiu que este segmento vai crescer três vezes mais rapidamente que o mercado global até 2027, impulsionado pelos consumidores da Geração Z.

É neste contexto que os desinfluenciadores ganham força. Numa peça da CNN, o presidente do Ruby Media Group Kris Ruby descreveu a tendência como o desencorajar da compra de certos produtos que são "indulgentes, ineficazes ou não valem o dinheiro." No The Guardian, a onda foi descrita como "retaliação contra o consumo exagerado". A Dazed explicou a génese do movimento como "uma intervenção" direccionada ao comportamento colectivo de consumo.

Mas todos apontam, de uma maneira ou de outra, que a tendência está a degenerar numa espécie de influência ao contrário anexada àquilo que os influenciadores fazem para ganhar a vida: vender. Dizem para não comprar o produto X por ser caro e sobrestimado, mas apontam para uma alternativa supostamente melhor e mais barata. É um "spin" daquilo que começou por ser um movimento genuíno de alerta para o consumismo excessivo e insustentável.

Seja como for, a previsão é de que esta tendência vai continuar a crescer e talvez tenha impactos verificáveis. Numa altura em que metade dos Estados Unidos está engolida em fumo vindo dos incêndios loucos no Canadá, o Reino Unido está sob aviso de calor excessivo e a habitual soalheira Los Angeles está há semanas sob um tépido céu nublado, a exigência de sustentabilidade vai tornar-se cada vez mais não negociável.

E vejamos: alguém precisa mesmo de um micro-ondas ligado a uma assistente digital? Ou uma escova eléctrica com seis pontas amovíveis que custa 500 euros? Uma mala que custa dois meses de renda? I rest my case.

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