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Visão | Portugueses de 30 anos: Confissões de um jovem Europeu otimista

Visão | Portugueses de 30 anos: Confissões de um jovem Europeu otimista

Como é ter 30 anos hoje? André Vieira nasceu em 1993, ano em que a primeira VISÃO saiu para as bancas e partilha a sua visão

Nasceu em 1993 ou tem 30 anos? Como vê Portugal e o mundo? O que o preocupa?
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Para otimistas irritantes que acreditam cegamente no progresso da medicina e que acham que vão estar por cá até aos 100, 30 anos é uma idade bonita. Ainda me considero jovem, sei muito pouco sobre praticamente nada e mudo de opinião com muita frequência. Mas há algo em mim que se tem vindo a consolidar de forma consistente: sinto-me profundamente Europeu e cada vez mais otimista em relação ao futuro.

Nasci em Lisboa em 1993, numa família que na altura se poderia classificar de classe média. A 1 de novembro desse ano, entraria em vigor o Tratado de Maastricht, um milagre político que oficializava a criação de um projeto visionário e um dos mais extraordinários exemplos de cooperação na história recente da humanidade – a União Europeia.

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Habituei-me a dar como adquiridas algumas ideias que hoje percebo serem de uma enorme fragilidade: instituições democráticas, liberdade de expressão e livre circulação de pessoas, bens e serviços. Completei a maior parte dos meus estudos sem pagar um cêntimo, viajei pela Europa sem parar nas fronteiras e sei que se tiver um acidente ou ficar doente posso ser tratado num hospital público sem ter de pedir um empréstimo.

Em 2018 calhou-me a sorte grande e integrei os quadros permanentes da Fundação Gulbenkian, uma instituição que trata bem as pessoas e um dos melhores sítios para trabalhar em Portugal na área da cultura. Sei que tenho uma situação privilegiada em relação à maioria dos jovens da minha idade, mas ainda não consegui comprar uma casa em Lisboa.

Não me considero nem de esquerda nem de direita – penso que o Estado existe para proteger as pessoas mais vulneráveis e corrigir os desequilíbrios que acontecem de forma quase inevitável nas sociedades, mas não sei o suficiente sobre finanças públicas para perceber qual a melhor forma de o fazer. Estou convencido de que parte do desinteresse dos jovens pela política está relacionado com um sistema eleitoral em que somos chamados a participar uma única vez de 4 em 4 anos, ficando completamente reféns do que os governos decidirem fazer durante esse período. Creio que precisamos de um sistema mais participativo, com mais momentos em que os cidadãos possam dar a sua voz e avaliar o trabalho dos políticos.

Para saber mais

Sempre admirei muito os portugueses – latinos mas reservados, pessimistas mas desenrascados, obedientes mas inconformados – e não trocaria Portugal por absolutamente nada. Os nossos índices de produtividade podem continuar a ser baixos, os impostos demasiado altos e os salários desajustados do custo de vida. Há muito por fazer. Mas Portugal está irreconhecível e inquestionavelmente melhor em quase todos os parâmetros de desenvolvimento.

Custa-me ouvir-nos dizer tão mal de nós próprios e confesso que me arrepio com a frase “no meu tempo é que era bom”. Revolta-me que ninguém se lembre do quão cinzento, fechado e subdesenvolvido o nosso país era há 50 anos atrás e tenho pena que a União Europeia não faça um melhor trabalho de divulgação e de aproximação aos cidadãos.

Muitas pessoas não fazem a menor ideia de quanto do nosso crescimento económico se deve à integração na CEE em 1985, da quantidade de projetos financiados por fundos europeus e do papel regulador e por vezes invisível das instituições europeias – da colaboração científica e tecnológica à proteção ambiental e segurança alimentar.

Só consigo ser otimista em relação ao futuro. Chamem-me ingénuo, mas acredito profundamente no projeto europeu. Acredito na capacidade mobilizadora de seres humanos que se juntam para lutar por uma vida digna. Acredito na partilha de ideias e na internet como cérebro global da humanidade. E acredito no poder do bom jornalismo como farol da democracia que torna cada vez mais difícil que a corrupção e as injustiças passem despercebidas.

André Vieira nasceu em Lisboa em 1993. É licenciado em Estudos Gerais pela Universidade de Lisboa e continua a procrastinar na entrega da tese para conclusão do Mestrado em Gestão na Católica Lisbon School of Business & Economics. Trabalha atualmente na Fundação Calouste Gulbenkian, onde é responsável pela Comunicação e Marketing das temporadas Gulbenkian Música.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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