observador.ptobservador.pt - 1 abr. 16:55

Suede, Londres, 1993: nesta perdição nasceu a britpop

Suede, Londres, 1993: nesta perdição nasceu a britpop

Desde 1970 que os jornais britânicos esperavam os novos Beatles. Com o primeiro álbum dos Suede, as expectativas eram correspondidas. Há 30 anos nascia um rótulo condenado. As canções permanecem.

Para as crianças nascidas nos anos 70 havia uma trágica tradição a que não conseguíamos escapar e que nos aterrorizava: estávamos a passear com a família quando uma velhinha ou um velhinho, amigos da família, nos perguntavam, mesmo à frente dos nossos pais, “gostas mais do papá ou da mamã?”. A reação à pergunta é de absoluto espanto – mas é possível preferir um ao outro? Mas esse espanto rapidamente dá lugar ao terror: e se por um instante o nosso rosto denunciar uma preferência por um deles, como é que o outro reagiria?; e – horror dos horrores – se essa preferência fosse real?

A ingenuidade de todas as crianças da geração de 70 morreu no preciso instante em que se deparou com esta forma subtil de tortura – e se apercebeu que só havia uma resposta possível – dizer “Dos dois”. A pergunta, percebíamos à segunda ou terceira vez que era feita, não era verdadeiramente uma pergunta – ninguém queria saber das nossas preferências sobre o que quer que fosse para nada; era apenas uma forma de aferir do nosso grau de civilidade, se sabíamos comportar-nos em sociedade. Rapidamente aprendemos os benefícios de, fora das quatro portas do lar, adestrar a hipocrisia.

A meio dos anos 90, os mais velhos de entre os indies criaram uma variação deste mind game; estava-se à conversa sobre música com alguém nos seus vinte e muitos, trintas, e um deles perguntava: “E preferes Oasis ou Blur?” Uma fratura subia das placas tectónicas até à fenda no cérebro para onde se esgueiram os terrores da infância – ingénuo, e tomando a pergunta por literal e binária, respondi Blur; de imediato fui condenado à Sibéria indie, o lugar mental onde se coloca quem não responde Pulp (Pulp era a resposta correta para os menos exigentes; os mais exigentes esperariam Pavement, exatamente por nada terem a ver com a britpop).

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