observador.ptObservador - 1 abr. 00:22

Costa e “Sabu, o Marinheiro” não percebem o país

Costa e “Sabu, o Marinheiro” não percebem o país

É a capacidade de compreender os cidadãos que distingue um político de, por exemplo, um notário. No pacote da habitação, Costa descolou do país. Mas há uma "ferramenta" do PREC que o pode ajudar.

É uma das frases políticas mais famosas de sempre. A 4 de junho de 1958, quando regressou ao poder na sequência de uma crise profunda na “Argélia francesa”, Charles de Gaulle subiu a uma varanda para proclamar, com os braços abertos: “Je vous ai compris!”. E prosseguiu: “Eu sei o que se passou aqui. Eu vejo o que vocês quiseram fazer”. Na verdade, as declarações de De Gaulle eram um bocado mais complicadas do que pareciam ao início, porque proclamavam uma empatia mas escondiam um plano, que terminaria pouco tempo depois com a independência da Argélia. Mas o ponto não é esse. O ponto é que, sendo os seus objetivos declarados ou dissimulados, De Gaulle tinha mesmo compreendido os “cidadãos” — tinha compreendido “o que se tinha passado ali” e tinha compreendido o que eles “queriam fazer”.

É essa capacidade de compreender os eleitores que distingue um político de, por exemplo, um notário. Sem ela, os governantes correm o risco de ir para um lado enquanto os governados vão para o outro. Esta semana, António Costa mostrou que pode estar a “descolar” do país, para usar a expressão de Marcelo Rebelo de Sousa. Perante as crescentes críticas da esquerda e da direita, do Norte e do Sul, de cima e de baixo à possibilidade de instituição e aplicação da figura do arrendamento coercivo (a que se soma também “uma nova geração de cooperativas”), o primeiro-ministro entrou numa espiral de incompreensão de que foi dando conta em várias declarações e entrevistas: primeiro, “achou estranho”; depois, declarou-se “surpreendido”; e, por fim, ficou “perplexo”.

Não pretendo, de maneira nenhuma, equivaler a política habitacional deste governo a uma tentativa de revolução comunista — a utilização de argumentos como esse mostram um desligamento da realidade tão grande, ou maior, quanto o de António Costa. Mas, com todas as enormíssimas distâncias entre uma situação e a outra, está tudo muito bem explicado num excerto célebre de um documentário sobre a ocupação da Herdade da Torre Bela, em 1975.

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