jornaleconomico.ptFilipe Garcia - 31 mar. 01:07

M e A pensam que somos tolos! | O Jornal Económico

M e A pensam que somos tolos! | O Jornal Económico

Porque se em 2022 alguns fingiram que não viram a inflação que aí vinha, com isso comprimindo os salários, no ano em curso o grande esbulho continua a fazer ...

Li as declarações de M e não quis acreditar na desfaçatez. Tendo desempenhado funções de alto funcionário público, após o qual transitou para um Banco, era famoso por ter casacos pendurados, em dois andares diferentes, dando sempre a sensação que andava algures por ali. Sem que fosse visto em lado algum.

Depois de alguns anos, foi para o Governo. Vários atos da sua governação suscitaram desde sempre suspeita e nos ��ltimos tempos tem-se visto acossado pela Justiça. Mas a desfaçatez, quando indagado a que título recebia transferências monetárias regulares de um dado grupo financeiro, estando no Governo, confessou que sim, as recebeu, iludiu o fisco, mas já regularizou a situação. Perante a estupefação geral, afirmou que todos recebiam.

Deixe-me dizer-lhe, caro M que não é verdade. Recebeu o M e duas mãos cheias de indivíduos, via saco azul, a fazer fé em notícias antigas dos jornais. Um punhado de personagens como o M. A sua amoralidade, a tua falta de ética de trabalho e o demais que os tribunais vierem a provar, a si lhe dizem respeito. O que não lhe dá o direito de nos tomar como tolos.

Na mesma linha esteve A. Contam as lendas que terá começado como operário, antes de se ter tornado empresário e ter obtido reconhecimento social. De bons empresários está o país precisado. Daqueles que vejam mais al��m, que desafiem convenções e estruturas de mercado imobilistas, que promovam a inovação, o emprego e a qualificação dos trabalhadores.

Sem aqueles que arriscam os seus capitais, que não se conformam, viveremos mais pobres. Mas o busílis vem quando alguns se acham pensadores, intelectuais de fino recorte ou economistas encartados. Um pouco como aqueles jogadores, virtuosos, de futebol, quando desatam a dar entrevistas e a fazer considerações sobre a ordem política e social. Sai disparate.

Com A foi pior. Ao contrário dos futebolistas, ele participa há muitos anos em areópagos sérios, pelo que é pouco honesto dizer que a culpa da grande redistribuição de rendimentos, em curso, se deve aos impostos indiretos.

Era importante que A tivesse puxado as orelhas aos concessionários de bens públicos, aos incumbentes de serviços básicos, aos hospitais privados, aos detentores de software e ferramentas informáticas de produtividade, entre outros, por terem aumentado os preços muito acima daquilo que querem pagar aos seus trabalhadores e do que a generalidade das famílias consegue suportar.

Porque se em 2022 alguns fingiram que não viram a inflação que aí vinha, com isso comprimindo os salários, no ano em curso o grande esbulho continua a fazer o seu caminho. Em que os rendimentos fluem dos trabalhadores e dos clientes para os acionistas e os gestores das grandes empresas.

As dirupções nas fábricas chinesas, ditadas pela pandemia e pelo confinamento forçado, são coisa do passado e a procura está a ajustar-se rapidamente nos principais mercados de produtos e serviços, com os preços a descer.

O mesmo se passa com os preços da energia. E não obstante a financeirização dos mercados de futuros de mercadorias alimentares, a concentração dos produtores de sementes (tema em que a UE deveria ser mais interventiva) e o cenário de guerra na Ucrânia, que contribuem em sentido contrário, talvez A pudesse pedir às grandes empresas para não se aproveitarem da alta de inflação para incrementarem as margens. Atente-se que o problema não está na distribuição alimentar, cujas margens não têm aumentado.

São as margens das grandes empresas, não os salários comprimidos, ou os impostos indiretos, que provocam a grande redistribuição e nos deixam, enquanto cidadãos, mais pobres. A este ritmo, seremos ultrapassados também pela Albânia.

Naturalmente, este texto é mera ficção, como terão percebido.

NewsItem [
pubDate=2023-03-31 02:07:27.0
, url=https://jornaleconomico.pt/noticias/m-e-a-pensam-que-somos-tolos-1012681
, host=jornaleconomico.pt
, wordCount=590
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2023_03_31_1691398053_m-e-a-pensam-que-somos-tolos-o-jornal-economico
, topics=[ue, inflação governo, opinião, redistribuição, economia, grandes empresas, salários, colunistas]
, sections=[opiniao, economia]
, score=0.000000]