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A chama académica

A chama académica

O movimento estudantil não foi feito por líderes natos que já viviam nessa condição antes das crises que marcaram o seu tempo. Pelo contrário, foram mesmo as vivências que experienciaram, as manifestações que fizeram, as leis que passaram, que os to

Se há força motriz que tem potência suficiente para modificar o tecido social de um país é a comunidade académica. Fica evidente o carácter perene do movimento académico português quando observamos a sua cronologia. Começando nos anos 50, com o MUD juvenil, passando pelos anos 60 e 90, com a RIA - Reunião Inter-Associações e com as manifestações contra o fim da lei da propina e, mais recentemente, pelas manifestações anti-"troika”. Esta continuidade repousa na força estudantil agregada, potenciada pela vontade colectiva de querer mudar o status quo e não numa persona que actue como líder.

Como dirigente de uma associação juvenil não apenas estudantil , tenho vindo a permitir, a mim mesmo, a análise da situação associativa que a academia vive nos dias de hoje.

rnaram líderes. O movimento académico não necessita de líderes. A nossa força contínua reside no nosso respeito pelas instituições que integramos. Essas instituições são, em si mesmas, as nossas líderes, na medida em que respeitamos o trabalho democrático que é realizado, pelos vários integrantes de cada associação. O movimento académico necessita, isso sim, de instituições fortes e unas. Instituições essas que possibilitem a realização de um programa, também ele uno, que permita a união característica dos períodos que mencionei no início deste texto.

No que diz respeito ao estado actual dos meios e mecanismos representativos dos estudantes, a sua ineficiência é latente. Confundem-se os conselhos, os senados e as federações, bem como as suas competências políticas. O saltitar, por parte dos estudantes, de um órgão para o outro é sintoma evidente dessa mesma sobreposição. O desconhecimento da maioria dos estudantes – e desinteresse dos restantes pelas eleições para as associações não é causa, é consequência. O desejo de continuidade das direcções em ofício, aliado com as suas mega-estruturas e com os mais de 90% de abstenção que chegam a acontecer, tornam essa mesma permanência não de pessoas, mas de corrente anti-reformista de uma facilidade tremenda.

Há, portanto, duas soluções que são prioritárias. A primeira, recaindo sobre a falta de interesse dos jovens enquanto eleitores, passa por fazer chegar, através de canais pouco dispersos, as decisões tomadas, acções realizadas e programas assumidos aos estudantes que por isso são afectados. Possibilitando o seu conhecimento sobre o que se passa nos salões nobres, salas de reunião e conselhos, os estudantes terão, como sempre têm, uma palavra a dizer.

A segunda, recaindo sobre os actuais e futuros dirigentes académicos, tem como principal fim, a reforma do método de funcionamento das instituições. Isto passa não só por se fazerem ouvir no meio dos estudantes, como também ouvir os mesmos. Realizar assembleias e auscultar aqueles que representamos é da maior importância quando é esse mesmo o nosso propósito. Efectivamente, isto só será possível quando não houver canais de comunicação dispersos e que se sobreponham.

Pede-se, consequentemente, aos (futuros) líderes académicos que, perante os problemas que lhes são colocados, procurem consensos e não divisões, sabendo que isso apenas será possível através de trabalho árduo e bastante perseverança. Exige-se, assim, que aqueles que pensam ser uma mais-valia nestes lugares, se candidatem aos mesmos. Caso contrário, o vácuo de poder será contraproducente, tanto para as instituições como para os estudantes.

É claro que há problemas no nosso meio, mas é ainda mais nítido que a chama estudantil não se apagou. Está cá, apenas à espera do próximo balão de oxigénio.

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