jn.pt - 7 dez. 00:01
Cabrita no sapato e no sapatinho
Cabrita no sapato e no sapatinho
Não há maneira de os portugueses se livrarem de Eduardo Cabrita. Dá-se um pontapé numa pedra e logo aparece uma trapalhada com o ex-ministro da Administração Interna envolvido, direta ou indiretamente, com ou sem culpa própria.
Esta persistência mediática é mais preocupante especificamente para um português, António Costa, que continuará a absorver estilhaços do trajeto sinuoso de Eduardo Cabrita no Governo. Em boa verdade, António Costa merece-os: não há memória de um ministro ter resistido a tantos episódios sombrios, conservando a pasta até ao dia em que foi conhecida a acusação do seu motorista, ao qual é imputado um crime de homicídio por negligência, num acidente que custou a vida a um trabalhador.
Três dias após a demissão, Eduardo Cabrita volta à ribalta, à boleia de um lapso de uma procuradora, que se terá enganado no número de pessoas que seguiam na viatura. Naturalmente, Eduardo Cabrita não tem culpa, mas poderá, no limite, beneficiar com este engano, na hora de se apurar sobre quem incide a responsabilidade pela velocidade a que seguia o automóvel, bem acima do limite imposto por lei. O ex-governante era "passageiro", como fez questão de sublinhar, resta saber se está definitivamente apeado. Esse será o desejo do primeiro-ministro, por esta altura a olear a máquina socialista para a campanha que se avizinha. Se Eduardo Cabrita continuar a aparecer todos os dias no caminho de António Costa, não é absurdo pensar que esta omnipresença será danosa para o PS. Eduardo Cabrita é uma pedra no sapato para qualquer político que o tenha protegido. Simultaneamente, e porque o Natal está à porta, pode muito bem funcionar como uma prenda no sapatinho de Rui Rio, se o líder do PSD e candidato a primeiro-ministro colocar em campo, na aproximação às eleições, a mesma garra que se viu quando teve de ir a votos dentro do próprio partido.
Chefe de Redação