www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 7 dez. 07:01

Dá-me mais gasolina

Dá-me mais gasolina

Há uma t-shirt à venda na Amazon que mostra um indicador de combustível vazio ao lado da frase ″Quem votou em Joe Biden deve-me dinheiro para a gasolina.″ O ralhete é dirigido aos eleitores democratas nos Estados Unidos e faz uma ligação entre o aumento dos preços nas bombas de gasolina com a eleição de Biden. Ir abastecer está a tornar-se uma dor de cabeça, com os preços nas bombas em máximos de sete anos.

Há uma t-shirt à venda na Amazon que mostra um indicador de combustível vazio ao lado da frase "Quem votou em Joe Biden deve-me dinheiro para a gasolina." O ralhete é dirigido aos eleitores democratas nos Estados Unidos e faz uma ligação entre o aumento dos preços nas bombas de gasolina com a eleição de Biden. Ir abastecer está a tornar-se uma dor de cabeça, com os preços nas bombas em máximos de sete anos.

Ao longo de 2021, ao falar com apoiantes do ex-presidente Donald Trump ou simplesmente independentes que não gostam de Biden, ouvi este argumento repetidas vezes. Biden foi eleito e os preços aumentaram, logo Biden não só é culpado pelo encarecimento da gasolina, como também não está a fazer o suficiente para limitar este aumento.

Digamos que nos Estados Unidos ninguém sabe realmente o que é pagar caro pela gasolina, porque o preço por galão (3,78 litros) é muito mais baixo do que qualquer coisa que alguma vez tenhamos visto em Portugal, ou na Europa no geral. Mas a verdade é que os preços têm escalado sem parar no último ano, e não se antevê que o movimento inflacionário que está a encarecer toda a vida norte-americana vá inverter em breve.

O interessante é ver conservadores, acérrimos defensores de um estado mínimo, a clamar por intervenção para que os preços da gasolina não subam tanto. Isto que estamos a ver chama-se lei da oferta e da procura. Os custos da energia, no geral, estão a subir - desde a gasolina ao gás natural e ao carvão. Aumentar o fornecimento de crude teria o efeito de diluir os preços, mas, ao contrário do que acontece numa qualquer monarquia do Médio Oriente, aqui as empresas de energia não respondem ao ocupante da Casa Branca. Respondem aos investidores e accionistas. O seu interesse é fazer mais dinheiro, não manter a inflação baixa ou ajudar um político a manter os eleitores calmos. E a OPEC, a quem a administração Biden pediu para aumentar o crude disponível no mercado, negou o pedido.

O presidente optou pela libertação de reservas estratégicas de petróleo, numa tentativa de aumentar o combustível disponível e fazer baixar os preços, mas o efeito desta medida é limitado e só deve fazer-se sentir lá para meados de Dezembro.

A verdade é que Trump não foi directamente responsável por gasolina barata e Biden não é directamente responsável pela gasolina cara. Um professor de ciência política que entrevistei recentemente disse que esta é uma discussão frequente nas aulas e que os alunos pedem muitas vezes coisas contraditórias: que a Casa Branca deixe os mercados funcionar e ao mesmo tempo intervenha quando os preços sobem muito. Isto não é compatível. Ou bem que querem o capitalismo a funcionar livremente, ou admitem que o mercado não é perfeito e precisa de limites.

A falácia que se encontra bastas vezes é que o funcionamento sem freios do capitalismo beneficia a concorrência e, como tal, os consumidores, e que a intervenção governamental só introduz burocracia e ineficácia. Poucas coisas são assim, a preto e branco, com arestas limpas. Mas o que se vê no terreno simplesmente não é isso.

NewsItem [
pubDate=2021-12-07 08:01:00.0
, url=https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/da-me-mais-gasolina--14385391.html
, host=www.dinheirovivo.pt
, wordCount=519
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2021_12_07_759466472_da-me-mais-gasolina
, topics=[opinião, economia]
, sections=[opiniao, economia]
, score=0.000000]