eco.sapo.pteco.sapo.pt - 25 jul. 13:33

Monchique ainda aguarda reparação dos danos do incêndio de 2018

Monchique ainda aguarda reparação dos danos do incêndio de 2018

Passados quase três anos há quem ainda aguarde por uma solução para a sua casa e há quem tenha perdido a esperança de reabilitar o seu património.

Em Monchique, ainda se aguarda a reparação de grande parte dos danos do incêndio de 2018, que durante uma semana consumiu mais de 27 mil hectares de floresta e terrenos agrícolas e destruiu dezenas de habitações.

Passados quase três anos há quem ainda aguarde por uma solução para a sua casa, há quem já tenha conseguido uma nova habitação e há quem tenha perdido a esperança de reabilitar o seu património.

Alferce é uma das freguesias onde é fácil encontrar vestígios do incêndio, com muitas árvores queimadas e algumas casas destruídas pelo fogo ainda bem visíveis, como a que José António tinha arrendada.

“Estavam ali pessoas a viver, ardeu e tiveram de sair, porque a casa ficou como está agora. Com o problema da falta de dinheiro não a vou poder reconstruir tão cedo”, lamenta já que, como se trata de uma segunda habitação, ficou fora dos apoios garantidos pelo Governo.

Também a propriedade onde cultivava citrinos biológicos que exportava para a Alemanha foi afetada, tendo submetido um projeto para apoios, que foi aprovado, mas a necessidade de se endividar fê-lo desistir da ideia.

“Tinha que pagar tudo à cabeça e depois receber a apoio. Para isso tinha que recorrer a bancos e acabava por não conseguir suportar a minha parte”, sustenta, adiantando que acabou por vender o terreno estando a “tentar viver” com o dinheiro que recebeu.

Com a responsabilidade de gerir uma área de 90 hectares e pouco menos de 500 habitantes, o presidente da Junta de Alferce lamenta que, passado este tempo, ainda não tenho sido reposta a “normalidade” já que ainda haja “casas e atividade florestal e agrícola por recuperar”.

“Não fomos todos competentes para dar a resposta que era necessária”, aponta José Gonçalves.

Numa freguesia com “grande parte do território” incluído na reserva agrícola ou ecológica nacional ou na Rede Natura 2000, o autarca aponta a “dificuldade com a legislação”, a existência de “algumas ampliações” ilegais ou a “falta de capacidade das famílias” em completarem os projetos, como algumas das razões para a não recuperação das casas.

O governante queixa-se que a legislação não permite a deslocalização das habitações caso estejam num zona de “risco muito elevado ou elevado”, mesmo que se adotem medidas como “sistemas automáticos de combate a incêndios” ou outras que permitiram manter as populações nas zonas de baixa densidade. “É uma legislação que terá de ser alterada”, destaca.

A cerca de sete quilómetros percorridos em estradas estreitas e sinuosas fica a Picota, local onde vivia Roquelina Varela, com o irmão e a cunhada, mas o fogo tornou a casa inabitável e uma discordância com uma outra irmã não permitiu que fosse reabilitada.

A solução encontrada pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) e o município foi adquirirem uma nova, para onde se mudaram há dois anos, depois de um a residirem numa casa emprestada pela paróquia.

É na nova habitação que, anos 76 anos, revela que finalmente viram o problema “resolvido”, mas que não esquece o que aconteceu em 2018 já que ficou apenas com a roupa que “tinha vestida”.

Este é um dos quatro casos que foram resolvidos, três por compra e uma por reabilitação num processo que o presidente da Câmara aponta como “muito longo”.

Rui André explica que alguns casos “foram excluídos” por razões várias e apenas 26 foram aceites para apoio, sendo que algumas pessoas não mostraram vontade em avançar com o processo.

Nesta altura há “sete agregados em casa arrendadas”, as quatro que foram resolvidas e 12 casos que estão “em fase ou arranque de obra”.

O autarca manifesta discordância com a não inclusão das segundas habitações no apoios, defendendo que se poderia ter encontrado uma solução que permitisse abrigar os arrendatários e recuperar o património do proprietário.

Em relação à recuperação da área florestal ardida, destaca alguns projetos interessantes de “replantação e reconversão”, mas alerta que o processo para se redesenhar a paisagem está “aquém” do que esperava.

“A burocracia e o facto de o Governo não estar a abrir mais avisos para os proprietários têm levado a que esta janela de oportunidade se esteja cada vez mais a fechar e temo que ela se possa perder”, realça.

As novas regras que limitam as áreas de plantação de eucalipto podem, segundo o autarca, fazer com que algumas empresas de celulose “saiam do concelho”, deixando os terrenos nas mãos dos proprietários e “sem gestão”.

Pode haver um problema sério no futuro para Monchique, já que a atividade florestal é um importante ativo económico no concelho, gerador de emprego e de riqueza. Certamente há muita coisa a corrigir no ordenamento, mas essa mudança tem de ser feita com as pessoas”, sustenta.

Para Rui André, o futuro passa também pela elaboração de várias áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP), uma delas envolve a criação de um “anel ecológico e de proteção” à volta da vila de Monchique e das Caldas, que incluí um “corredor ecológico” entre os dois núcleos para que “nunca mais” o fogo entre na vila.

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