sol.sapo.ptsol.sapo.pt - 19 set. 10:30

Um caso para Perry Mason

Um caso para Perry Mason

Jess Willard era tão grande e tinha tanta força que matou Jack Young no ringue. Depois, Dempsey desfê-lo de pancada

Jess Myron Willard era um típico cowboy das planícies do Kansas. Calmeirão abrutalhado, com 1,99 de altura, tinha uma certa dificuldade em exprimir-se num discurso coerente e isso, como era de esperar, não contribuiu para que colecionasse amigos. Nada na sua bisonha existência deixava adivinhar que viesse a ter um futuro minimamente interessante até ao dia em que um daqueles fura-vidas ligados ao mundo do espetáculo se deixou fascinar pela forma como empilhava fardos de palha de dezenas de quilos com a desfaçatez de um Sansão de trazer por casa. Jess não tardou muito a ver-se no meio de um ringue de boxe ainda que revelando uma muito particular contrariedade: «Não sinto nenhum prazer em magoar pessoas. Parece-me algo estúpido de se fazer».

Os jornalistas aproveitaram essa deixa para descreverem o estilo do Gigante de Pottawatomie como sendo preguiçoso. Basicamente, Jess mantinha-se o mais quieto possível enquanto os opositores procuravam agredi-lo ao ponto de tentarem derrotá-lo nem que fosse por pontos. Debalde. Willard aguentava-se, dotado de uma paciência bovina. Depois atingia o ponto de saturação e esmurrava os adversários com toda a força de punhos que possuía, e não era propriamente uma imagem bonita de ser ver quando dentes à mistura com esguichos de cuspo e sangue se espalhavam em redor.

No seu quinto combate como profissional, no início do ano de 1913, coube a Jess defrontar uma das grandes esperanças do boxe, um rapazito chamado Jack Young, que tinha a alcunha de O Boi. A forma como o miúdo se mexia entonteceu Willard que o via esquivar-se por uma nesga de cada vez que acabava de ser atingido com um golpe audacioso. Encheu os pulmões de ar e tomou a decisão inevitável: esperou. De repente, Young cometeu um erro e deixou o maxilar ao alcance de um gancho de direita do matulão do Kansas. Parecia que Jess acabara de desferir uma pancada de camartelo na fachada do Woolworth Building cujos 55 andares e 241 metros de altura erguidos em plena Broadway só seriam ultrapassados, 13 anos mais tarde, pelo arranha-céus da Chrisler. Young estava longe de ser um edifício. Mas desabou em ruínas.

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