expresso.ptexpresso.pt - 20 set. 00:00

“Sign O’ The Times” de Prince ganha edição obrigatória para colecionadores

“Sign O’ The Times” de Prince ganha edição obrigatória para colecionadores

33 anos depois, “Sign O’ The Times”, obra-prima de Prince, ainda é um disco à frente do seu tempo. Agora, há muito mais para ouvir

Basta voltar a escutar os primeiros segundos de ‘Sign O’ The Times’, canção-diamante que dá nome ao nono álbum de estúdio de Prince, para perceber por que razão o génio de Minneapolis era, e continua a ser, mesmo depois de morto, considerado um visionário. Por muito que a nossa memória nos pregue partidas e nos prenda à ideia de que os anos 80 não teriam sobrevivido sem aqueles sintetizadores irrequietos, é inegável que um disco com uma abertura deste calibre não encaixa bem em qualquer década subsequente (mesmo uma daquelas que ainda não vivemos). Um disco categoricamente intemporal: é assim que o sentimos, 33 anos depois de ter visto a luz do dia pela primeira vez. O dilema pateta de escolher entre “Sign O’ The Times” ou “Purple Rain” como melhor momento discográfico do percurso do músico é, claro, uma questão de gosto ou, como disse ao Expresso Matt Fink, teclista que acompanhou o músico até 1991, “a beleza está nos olhos de quem vê” (ou nos ouvidos de quem ouve). O que ressalta das 16 canções que completam o mais reputado longa-duração de Prince é um ecletismo que tanto gira a agulha para o hip-hop em ‘Housequake’ como saca de uma balada clássica chamada ‘Slow Love’ ou mergulha sem pruridos na pop mais orelhuda num dueto com Sheena Easton (‘U Got the Look’). Regressar ao álbum de 1987 é uma experiência semelhante à de escolher, em 2020, uma playlist com a fina nata das canções: haverá sempre uma ou outra, com sorte muitas, que nos deixam vidrados. “Não há uma canção que se destaque, para mim. É isso que considero tão bom acerca da natureza eclética do Prince e dos vários estilos e influências que são veiculados em todas aquelas diferentes canções”, confessa Fink, elemento dos Revolution que permaneceu ao lado do músico mesmo depois da dissolução da banda, no ano anterior à edição de “Sign O’ The Times”. “Claro que em canções como ‘Starfish and Coffee’ se sente muito a influência de Joni Mitchell, mas depois tens ‘Strange Relationship’, ‘If I Was Your Girlfriend’, ‘Play in the Sunshine’ ou ‘It’s Gonna Be a Beautiful Night’: todas são muito diferentes umas das outras e todas têm uma sonoridade única”, defende o teclista, “outros artistas tendem a soar ao mesmo, de canção para canção, mesmo que as progressões de acordes sejam diferentes, mas, neste álbum, não há nada que soe igual”.

Mais de três décadas passadas, “Sign O’ The Times” regressa às lojas naquela que poderá ser considerada a sua versão “definitiva”. Intitulada “Super Deluxe Edition”, traz não só as canções que o mundo ouviu nos anos 80 como uma batelada (várias dezenas) de faixas inéditas, guardadas religiosamente no mítico cofre da mansão de Paisley Park. “É uma sala bastante grande, com uma porta de cofre gigante, com combinação, e com controlo de humidade no interior”, revela Matt Fink, “estive lá dentro, a olhar para todas aquelas gravações, todas devidamente etiquetadas, mas nunca tive acesso livre. Não podia entrar quando quisesse para fazer o que quisesse”. Foi nessa sala que estiveram bem guardados, até agora, os resultados das sessões feitas, ainda com os Revolution, para dois discos que nunca chegaram a ser ouvidos pelo público, “Dream Factory” e “Crystal Ball”. É desse período que nascem, por exemplo, temas como ‘The Ballad of Dorothy Parker’, ‘Strange Relationship’ ou ‘Starfish and Coffee’, todas elas inclu��das em “Sign O’ The Times”, mas também ‘Witness 4 The Prosecution’, inédito que serviu para apresentar esta versão completista do álbum. “Quando o duo Wendy & Lisa foi trazido pelo Prince para cantar e tocar, especialmente, em grande parte desse álbum chamado ‘Dream Factory’, sei que estive numa sessão em casa dele, mas não me recordo em que canções toquei”, diz o teclista, “foi tudo muito rápido. ‘Vem cá ter, vamos trabalhar aqui numas coisas’. E, depois, aquilo ficou na prateleira, não foi a lado nenhum. Mas agora toda a gente pode ouvir. E é fantástico poder escutar ‘All My Dreams’, adoro essa canção. Tudo o que vem do ‘Dream Factory’ é mesmo muito bom. Devia ter visto a luz do dia antes e ainda bem que está a acontecer agora”. Fink, na verdade, não sabia qual era a real intenção de Prince com aquelas sessões, assumindo mesmo que não fazia ideia em que álbum encaixaria a canção que coescreveu com ele, ‘It’s Gonna Be a Beautiful Night’. “Foi gravada num soundcheck da ‘Parade Tour’, em 1986, quando estávamos na Europa”, recorda, “foi um improviso que, mais tarde, resultou noutra coisa. Ele gravou aquele groove no ensaio e disse ‘vamos lá explorar isto um pouco mais’. Depois, trouxe-nos a letra e a melodia. O [saxofonista] Eric Leeds teve dedo naquilo e eu também, mas o Prince fez a maior parte da produção. Acabou no ‘Sign O’ The Times’, mas se ele tinha isso planeado naquele momento, penso que não. É impossível saber, porque ele nunca nos contava, antecipadamente, aquilo que estava a pensar fazer. Simplesmente aparecia e dizia ‘aqui está a gravação, comecem a ensaiar’. No outro dia, alguém do grupo antigo partilhou no Facebook uma folha dele que dizia: ‘Aqui está a lista de canções que vamos tocar na Parade Tour. Aqui estão as cassetes. Vão aprender e apareçam nos ensaios. E apareçam a horas senão serão multados em 250 dólares.’”

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