visao.sapo.ptvisao.sapo.pt - 22 abr. 09:53

Inteligência territorial e a diáspora portuguesa

Inteligência territorial e a diáspora portuguesa

LUXEMBURGO - Com “apenas” 2% da população europeia, Portugal fica, apesar disso, na metade superior do ranking dos países mais povoados, aparecendo de novo no 15º lugar da lista dos 28

Acaba de sair uma interessantíssima obra, editada pela Idioteque, que pretende fazer um profundo estudo sobre inteligência territorial, afirmando os modelos de governança, sustentabilidade e transparência como três dos seus pilares.

O coordenador, João Abreu, conseguiu concretizar esse objetivo recorrendo a um conjunto de investigadores, docentes, técnicos, empresários e dirigentes associativos, de diversas proveniências académicas e científicas, da gestão e contabilidade ao marketing, do direito à geografia.

João Abreu, além de mestre em marketing e licenciado em Direito, é generoso e considerou que a minha contribuição poderia ser útil nesta obra.

Custa-me recusar um desafio, ainda que o tenha aceite com um aviso ao coordenador da publicação: a minha colaboração teria um tom mais jornalístico do que académico e passaria inevitavelmente pela importância das comunidades no desenvolvimento sustentável das áreas geográficas de onde são originárias.

O desenvolvimento local está cada vez mais dependente da informação e do conhecimento que se concentra nas regiões ou localidades, por isso, a maioria das entidades com responsabilidades a esse nível deverão ter em conta a potencial contribuição das comunidades portuguesas emigradas que continuam extremamente ligadas ao território de onde são oriundas. Formal e informalmente, os emigrantes portugueses já são atualmente, por vários meios, dinamizadores do desenvolvimento local e devem ser considerados como um dos seus atores, apesar de não estarem presentes em permanência no território.

Esta foi a abordagem que escolhi para o referido artigo, deixando um aviso: o maior desafio para os decisores locais e regionais - e mesmo nacionais e europeus - será a identificação e coordenação desse saber-fazer proveniente da diáspora.

E estas considerações só podem ser feitas à luz da atual conjuntura europeia e do quadro legal das regiões na União, na qual Portugal representa no contexto da inteligência territorial muito mais do que 10 milhões de habitantes.

Temos por hábito ver Portugal como um país que parece mínimo no concerto global das nações e pequeno quando se olha para o mapa da União Europeia. A superfície total da UE é superior a quatro milhões de quilómetros quadrados. França é o maior país com 632 mil quilómetros quadrados, enquanto Malta é o mais pequeno com apenas 300 quilómetros. Portugal, com 92 mil quilómetros é duas vezes maior do que a Estónia ou os Países Baixos. Aliás, temos 15 países atrás de nós em termos de superfície na lista dos 28 Estados-membros.

Mas num contexto de inteligência territorial, a população é a variável mais pertinente. E aqui, uma vez mais, os números ajudam a perspetivar Portugal como um país mais relevante do que a impressão corrente. Com “apenas” 2% da população europeia, Portugal fica, apesar disso, na metade superior do ranking dos países mais povoados, aparecendo de novo no 15º lugar da lista dos 28.

Contudo, é necessário recordar que a população que conta para estas estatísticas é a residente no território nacional, excluindo os emigrantes portugueses que fazem naturalmente parte dos habitantes dos países onde residem.

Foi marcante a polémica entre as comunidades da diáspora quando a Federação Portuguesa de Futebol escolheu para o campeonato da Europa de futebol de 2016 o slogan “Não somos 11, somos 11 milhões”. A federação foi acusada de se ter esquecido dos vários milhões de portugueses que vivem fora das fronteiras de Portugal e que ninguém sabe ao certo quantos são. O número habitualmente referido será de cinco milhões de emigrantes e todos eles se sentiram excluídos com o lema da seleção, sobretudo porque o Euro 2016 se disputou no país da Europa com mais expatriados portugueses.

Os deputados eleitos pelas comunidades portuguesas chamaram então a atenção dos meios de comunicação para esta “desconsideração”. E o Governo manifestou “preocupação, tristeza e alguma indignação”, pela voz de José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. “Somos mais de 15 milhões de portugueses, entre os que vivem em Portugal, os emigrantes, os lusodescendentes e outros cidadãos com nacionalidade portuguesa”, disse à imprensa o governante em 2016.

Adotando esta perspetiva de um Portugal humano muito mais vasto do que as suas fronteiras graças à diáspora espalhada pelo mundo, as relações dos atores locais ou regionais com esses portugueses emigrados são determinantes para o posicionamento de um território dentro do país, mas sobretudo na Europa e no mundo.

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