ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 20 jan. 01:36

Boyan Slat. “Tive o momento eureka num restaurante em Portugal”

Boyan Slat. “Tive o momento eureka num restaurante em Portugal”

Tem 24 anos e quer livrar os oceanos do plástico. Ao i, mostra-se confiante no sistema que criou e acredita que a equipa vai conseguir ultrapassar as dificuldades

É jovem e rico. Porquê criar um sistema para limpar o Pacífico?

Desde tenra idade que me interesso por engenharia. Construí casas na árvore, depois tirolesas e eventualmente este fascínio evoluiu para coisas maiores. Aos 12, dediquei-me à construção de foguetes. Isso resultou num record no Guinness pelo maior número de foguetes de água lançados ao mesmo tempo: 213, a partir de um campo desportivo na minha cidade natal de Delft, um projeto no qual participaram 250 estudantes universitários. A experiência ensinou-me a entusiasmar e envolver pessoas num projeto não convencional. Depois, no verão de 2011, eu tinha 16 anos e estava a fazer mergulho na Grécia, quando de repente me apercebi de que estava a encontrar mais sacos de plástico do que peixe. Por isso, pensei: ‘Porque não podemos limpar isto?’. Toda a gente me respondeu: ‘Não há nada que possas fazer quanto ao plástico quando chega ao oceano’. E eu questionei se isso era de facto assim. Depois, para um projeto científico no secundário, dediquei um ano e meio a compreender o problema em si e porque é tão difícil fazer essa limpeza. Isso acabou por levar ao nascimento do conceito de limpeza passiva.

Como desenhou o sistema e como funciona?

O mais perto que estive de um momento eureka foi quando estava a fazer uns esboços num guardanapo num restaurante quando estava de férias em Portugal. Pensei: ‘Porquê movermo-nos pelos oceanos, se os oceanos podem mover-se através de nós?’. E então, o conceito de limpeza passiva nasceu: um sistema passivo com barreiras flutuantes e telas sólidas por baixo, detendo o plástico na sua viagem pelos giros oceânicos. As barreiras começam por o apanhar e depois concentram o plástico, propiciando uma recolha eficiente e a extração do plástico de uma unidade de retenção no centro da barreira, enquanto a energia para a recolha é fornecida pelas correntes oceânicas. Ir atrás do lixo com navios e redes seria caro, moroso, trabalhoso e levaria à emissão de grandes quantidades de carbono. É por isso que o The Ocean Cleanup está a desenvolver um sistema passivo, que se move com as correntes – tal como o plástico – para apanhar o plástico. O sistema passivo do The Ocean cleanup é composto por flutuador com uma tela impermeável por baixo, concentrando os resíduos antes de serem extraídos por navios de apoio.

O sistema foi lançado em setembro. Alguns cientistas argumentaram na altura que o sistema não ia resolver o problema, criando outros. Como tem corrido?

O sistema foi lançado no ano passado e ao longo da últimas semanas de operações recolhemos imensa quantidade de dados. Por exemplo: das velocidades do fluxo e das direções para o interior e em torno do sistema, que iremos usar nas próximas semanas para chegar a um entendimento mais detalhado daquilo que causa os efeitos observados e depois desenvolver as melhorias necessárias do sistema. Os dois aspetos que precisam de mais trabalho são as dificuldades na retenção do plástico – que pensamos conseguir resolver deixando o sistema mover-se mais rápido com o vento – e a fadiga do material – um tipo de problema muito comum que surge com o desenvolvimento do processo. Estamos a trabalhar arduamente em soluções para ambos. De resto, a limpeza tem tido perturbações, mas a verdade é que estamos a trazer para terra em média cerca de 2000 quilos de redes-fantasma e plástico extraído do sistema. É uma quantidade menor do que estavamos à espera a partir da eficiência de captura que tínhamos projetado com o sistema totalmente operacional, mas ainda assim é uma contribuição positiva. Claro que prevemos regressar a terra com muito mais plástico quando tivermos o sistema já com as alterações de novo em funcionamento.

Que tipo de plásticos encontraram no Pacífico?

As manchas de lixo no oceano não são ilhas sólidas. O plástico está sim disperso e forma campos massivos de resíduos, mas isso não significa que estas áreas não são altamente poluídas e não requerem limpeza. A concentração média da Grande Mancha de Lixo do Pacífico é de cerca de 60 quilos por quilómetro quadrado e com máximos de várias centenas de quilos por quilómetros quadrados. Para comparação: a algumas centenas de quilómetros da mancha, tem-se dificuldade em encontrar quantidades de 0,1 quilos por quilómetro quadrado. A informação mais recente recolhida pelo The Ocean Cleanup, bem como uma explicação da ciência da Grande Mancha de Lixo do Pacífico, pode ser encontrada no site. Os tipos de plástico encontrados no oceano variam consideravelmente: desde pequenos pedaços de plástico decomposto a paletes e a redes de pesca inteiras cheias de material.

Quais são os próximos passos do The Ocean Cleanup?

Vamos passar algum tempo no Havai, em Hilo Harbor, para determinar a gravidade dos danos e preparação de materiais necessários para reparação. Depois, plaeamos voltar à mancha dentro de alguns meses. O maior propósito por detrás do Sistema 001 é conseguir aprender o máximo possível para ajustar e melhorar o Sistema 002. Sempre tivemos a intenção de construir o Sistema 002 e depois de pormos o Sistema 001 de novo no oceano, iremos caminhar em direção à expansão.

Houve algo que vos tenha surpreendido durante o processo? 

No The Ocean Cleanup acreditamos que não se consegue resolver um problema se não o compreendermos na totalidade. Por esta razão, apostámos muito na investigação da poluição por plástico desde o início para nos guiar para o melhore conjunto de soluções. Este trabalho continuou em paralelo ao desenvolvimento e implantação da nossa tecnologia de limpeza. Na pesquisa de plástico no oceano, observa-se um desequilíbrio na quantidade de plástico que acaba no oceano e a quantidade de plástico que estamos a encontrar a boiar à superfície.

Acha que algum dia conseguiremos ter a tecnologia necessária para limpar todo o plástico que existe nos oceanos?

O objetivo do The Ocean Cleanup é livrar os oceanos do mundo inteiro de plástico. Perceber a fonte, o transporte e o destino do plástico do oceano serve esta missão e a da comunidade científica. As nossas equipas de investigação esperam fazer uma contribuição significativa em direção à redução do balanço de massa de plástico no Oceano global nos próximos anos. Compreender a formação de manchas de lixo e quantificar a sua persistência é uma questão-chave e nós iremos continuar a usar a missão do Sistema 001 para ganhar mais conhecimentos e alcançar os nossos objetivos.

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