expresso.ptexpresso.pt - 24 abr. 19:41

Como é que o governo podia festejar o 25 de abril em "grande estilo" com os empresários? Com menos impostos e não só responde a têxtil

Como é que o governo podia festejar o 25 de abril em "grande estilo" com os empresários? Com menos impostos e não só responde a têxtil

Em Frankfurt, onde vão comemorar os 50 anos da revolução a trabalhar e a lutar pelas exportações, os empresários do sector têm uma mão cheia de sugestões para o novo governo celebrar a data

A descida dos impostos é um pedido recorrente dos empresários sempre que são questionados sobre as prioridades de um novo Governo ou Orçamento de Estado. Em Frankfurt, na Alemanha, onde duas dezenas de empresas portuguesas do sector têxtil estão esta semana para promover os seus produtos junto de clientes internacionais, na feira de têxteis técnicos Texhtextil, a descida do IRC lidera o ranking das sugestões que foram dadas ao Expresso sobre a melhor forma do atual Governo celebrar a data “em grande estilo” com a indústria portuguesa.

Provavelmente não irão usar cravos vermelhos na lapela, mas apresentam mais de uma mão cheia de ideias que “têm tudo a ver com liberdade”, “igualdade e reciprocidade” e “a abertura ao exterior”, vão repetindo nos diferentes stands por onde o Expresso passou. Tudo em 7 pontos:

1 – Apoios à internacionalização

“Estamos numa feira internacional. É aqui, na Messe de Frankfurt, que estes empresários vão celebrar o 25 de abril a trabalhar para exportarem mais e chegarem a mais mercados por isso vamos pedir atenção especial aos apoios e incentivos à internacionalização”, afirma Mário Jorge Machado, presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.

Num país de micro e pequenas empresas, “muitos só conseguem sair e mostrar o que fazem ao mundo com apoios e faz sentido estarem juntos, sob a bandeira do From Portugal, que também é uma forma de ganhar relevância”, acrescenta o empresário e dirigente associativo sublinhando a “urgência de trabalhar a frente externa, até porque a taxa de cobertura das exportações já caiu abaixo dos 50%.

2 – Menos regras e barreiras

“Acima de tudo, era importante facilitar o caminho das empresas e levantar barreiras porque continuamos a ter muitos obstáculos para trabalhar”, afirma Diana Pires, fundadora e diretora-executiva da IHCare, focada em soluções inovadoras patenteadas para produtos hospitalares como lençóis técnicos que se transformam em banheiras com garantias hidrof��bicas, antivirais, antibacterianas e de impermeabilidade, onde um doente pode ser lavado sem ser preciso mudar a cama.

Esta antiga enfermeira que partiu da sua experiência profissional para desenvolver uma ideia de negócio desenvolvida com um orçamento de 1,2 milhões de euros que já começa a ser usada em algumas instituições em Portugal, está a abrir caminho nos EUA, Canadá e Alemanha, e promete reduzir os descartáveis hospitalares, fala da sua empresa para exemplificar como a máquina do Estado “pode dificultar em vez de facilitar a vida aos empresários”: “Apresentamos um projeto de financiamento no âmbito do PT2020 em 2021 e o IAPMEI só fechou o projeto de apoio em 2024”.

Na mesma linha, Rui Martins, administrador da Inovafil, empresa com um volume de negócios de 22 milhões de euros e 120 trabalhadores, fala do reforço dos apoios às empresas e “de celebrar a liberdade com liberdade”. “Ainda temos de viver com muitas regras, da legislação laboral aos impostos, sem falar dos inúmeros constrangimentos burocráticos. Seria bom dar às empresas mais liberdade para trabalhar, em especial quando objetivo é inovar, criar valor acrescentado e internacionalizar”.

3 – Igualdade na concorrência com países terceiros

Mário Brito, diretor-geral da Smart Inovation, uma empresa de Barcelos com soluções patenteadas à prova de mosquitos e bactérias, coloca a tónica nas exportações, onde as empresas têm de jogar os seus trunfos para ultrapassarem “os constrangimentos de um mercado limitado como o português”.

Considera que se a revolução dos cravos e a democracia “ajudou a abrir Portugal ao mundo e os negócios também”, “há neste momento pequenas grandes dificuldades diárias que passam, por exemplo, pelo facto das empresas portugueses e europeias terem de lidar com regras de concorrência desiguais face a importações de outros países, designadamente da Ásia”.

Hélder Rosendo, diretor de negócios da TMG Textiles , uma das unidades de negócios de um grupo que emprega 1.400 pessoas e fatura 135 milhões de euros de acordo com a informação apresentada num ecrã dedicado à TMG no stand da Techtextil, aponta exatamente na mesma direção: “O princípio da igualdade, no que respeita aos negócios, não pode ser esquecido. Neste momento exige-se tudo aos europeus sem reciprocidade nas obrigações impostas nas compras a terceiros”.

“O governo devia de ser advogado dos interesses da indústria portuguesa e europeia na UE, para assegurar reciprocidade nas regras relativas à concorrência”, afirma este responsável que justifica a estreia da empresa na Techtextil pela aposta em criar uma equipa mista que cruza a área têxtil com o do segmento automóvel, com a fatia principal do negócio do grupo, e encontrar” desafios para novas soluções que puxem pela capacidade de inovação interna”, visível, por exemplo, numa malha 100% em fibra de polipropileno para desporto, leve, durável, respirável, com gestão de humidade, e monomaterial, o que facilita a reciclagem, ou num assento para automóvel com um revestimento que incorpora pó de canhamo

4 – Tarifas de acesso à rede

João Almeida, admistrador da JF Almeida, empresa de têxteis-lar de Guimarães que emprega 800 pessoas e entrou o ano à espera de fechar o exercício com um volume de negócios de 65 milhões de euros, 10% acima do ano passado, elege a redução das tarifas no acesso à rede elétrica como “uma boa forma de celebrar abril dando mais liberdade de trabalhar às empresas”.

A tendência, explica, é de crescimento das tarifas e na sua empresa, apesar de todo o investimento feito em painéis solares, o custo da energia ainda representa, em média, 20% dos custos de produção, adianta.

5 – investir cada vez mais na transferência de conhecimento entre universidade e empresas

Para Raul Fangueiro, presidente da Fibrenamics — Instituto de Investigação em Materiais Fibrosos e Compósitos, que junta universidades, empresas e municípios, celebrar e continuar o espírito de abril passa por “persistir e insistir na sistematização deste processo de capacitação empresarial, através de uma contínua e eficiente aposta na transferência de conhecimento e competências, que diariamente são gerados nas universidades”

Para perpetuar o legado deste período revolucionário, é crucial continuar a investir na geração, valorização e transferência de conhecimento, assegurando que Portugal se mantém na vanguarda da inovação global. A manutenção deste esforço é essencial para a competitividade nacional e para a afirmação de Portugal como um líder em I&D no cenário internacional”, defende o investigador.

Sublinha que “a Revolução do 25 de Abril foi um marco histórico no contexto político de Portugal representando, também, uma transformação significativa nos domínios do conhecimento e da Investigação e Desenvolvimento (I&D) nacionais. Uma mudança de paradigma que permitiu a emergência de um ambiente académico caracterizado pela liberdade intelectual e pela investigação desprovida de condicionamentos ideológicos: o que se traduziu numa notável capacitação de recursos humanos e numa maior integração de novas competências e recursos no tecido empresarial português”.

6 - Estabilidade

“Garantir estabilidade” é uma base essencial de trabalho que continua a tardar depois de “anos e anos de estrangulamentos, mesmo em tempo de liberdade, da justiça, à burocracia ou aos impostos”, diz Paulo Neves, presidente da Coltec, uma empresa com 43 anos, 53 trabalhadores, 8 milhões de euros em vendas e um investimento recente de 5 milhões de euros que permitiu modernizar a têxtil de Guimarães, otimizar processos e duplicar capacidade de produção e logística. A trabalhar para diferentes sectores, da saúde á moda, têxteis-lar, construção, automóvel ou calçado, acredita que com regras mais ágeis e funcionais “Portugal poderia ter ido mais longe no que respeita às exportações”.

7 – Impostos, com descidas de IRC e IRS

Para a generalidade das empresas ouvidas, a redução da carga fiscal seria a conquista mais desejada nos 50 anos da revolução. “Uma notícia para celebrar seria a redução do IRC, até como prémio de investimento em Investigação e Desenvolvimento, modernização e qualificação de recursos humanos”, sugere António Teixeira, da Penteadora, com 300 trabalhadores e um volume de negócios de 18 milhões de euros.

Vítor Abreu, presidente da Endutex, um dos maiores produtores nacionais de têxteis técnicos, celebraria a descida do IRC para as empresas, associando esse benefício a incentivos ao investimento. Celebraria, ainda a descida do IRS para os trabalhadores, “eternamente penalizados pelas horas extraordinárias”.

“50 anos após p 25 de abril, Portugal tem mesmo de aprender a olhar para as políticas fiscais como um prémio para quem investe, inova e garante postos de trabalho”, conclui Nuno Vito, diretor comercial da Cordex, um grupo com negócios na área profissional (indústria e serviços), agrícola, pesca e aquacultura, com 600 trabalhadores, empresas em Portugal e no Brasil e vendas de 120 milhões de euros, mais de 90% das quais na exportação. À techtextil trouxe fios especiais para aplicação em indústrias diversas, da construção às redes de segurança e geotêxteis.

A jornalista viajou à Alemanha a convite da Messe Frankfurt

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