visao.ptSARA SANTOS - 24 abr. 08:00

Visão | A mente tortuosa de P. Brotero

Visão | A mente tortuosa de P. Brotero

P. Brotero é um fascista envergonhado, de laivos nazis, que encontra inspiração na figura do velho Torquemada, o famoso inquisidor

Quer as mulheres na cozinha, caso se portem bem, ou na cadeia se por acaso não seguirem a sua cartilha ideológica e insistirem na IVG. Mas quer mais. Como compara os homossexuais a animais, provavelmente pensará num dos seus delírios vê-los numa jaula em qualquer zoo ou então vê-los exterminados, como fez o seu padrinho e inspirador Adolf Hitler.

Se pudesse, P. Brotero acabaria com a democracia e regressaria feliz aos tempos de velha senhora, quando o país era aquele paraíso rural de analfabetismo, pobreza e fome. Regressaria de bom grado ao tempo em que não havia estado social nem pensões de sobrevivência, e só os filhos das “boas famílias” estudavam na universidade, mas havia respeitinho. É verdade que também não havia serviço nacional de saúde e as pessoas morriam muito mais cedo, incluindo crianças, mas ao menos os velhos não constituíam um peso para a família, segundo o pensamento broteriano.

Nesses saudosos tempos não se viam piercings nem tatuagens, os homens andavam sempre de cabelo curto, fato e gravata e as mulheres de saia abaixo do joelho. Tinham uma Nossa Senhora e um retrato de Salazar a embelezar a sala ou, os mais pobres, nas paredes escuras e húmidas da barraca onde se abrigavam.

P. Brotero tem ódio ao 25 de Abril de 1974 – gostava de lhe fazer o enterro – porque tem ódio ao direito à diferença e à igualdade de oportunidades, essa perigosa ideia de comunistas e outros inimigos de Deus, da pátria e da família. Por ele, acabava com os sindicatos e sacrificaria sem problema a liberdade de associação, de expressão, de imprensa e de consciência. E claro, Portugal voltaria a ser um país católico como deve ser.

P. Brotero recorda com saudade os tempos em que um encarregado de educação de fé não católica tinha que apresentar um pedido por escrito em papel azul de vinte e cinco linhas ao director da escola do filho, para que este fosse dispensado da disciplina de Religião e Moral. Católica, claro.

Há quem pense que P. Brotero tem ódio também às mulheres mas não é verdade. Ele apenas as quer proteger dentro de casa, até porque sabe que “há coisas que só elas podem fazer”, o que não deixa de ser verdade, embora eu suspeite que as coisas a que P. Brotero se refere são diferentes daquelas em que eu estou a pensar.

Por isso entende que era preferível que elas não desempenhassem qualquer profissão, muito menos a trabalhar com homens ou, que loucura!, a liderá-los. Ainda recorda com saudade o tempo em que as enfermeiras e as professoras não podiam casar sem autorização oficial. Isso, sim, é que era um país arrumado.

P. Brotero alinha com os sectores mais ultramontanos a recusar que as mulheres assumam cargos de liderança na religião, como se não tivessem sido cooperadoras de Jesus e dos apóstolos, não fossem baptizadas tal e qual como os homens e S. Paulo não tivesse escrito: “não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

Também pensa que as mulheres “donas-de-casa” não precisam de ter uma conta no banco e se calhar nem têm discernimento para votar, quanto mais para passar a fronteira sem a assinaturazinha do marido.

P. Brotero tem um problema conceptual. Ele acha que identidade não é algo que também se pode construir, mas remete-a para uma dimensão quase transcendental e mítica. Se é mulher, a sua identidade passa necessariamente por ser católica praticante, recatada, competente com rendas e bordados, dona-de-casa, com muitos filhos e poucos estudos. Nada de anticoncepcionais nem outras modernices.

P. Brotero e os amigos ganharam novo fôlego depois de oito anos de governo dos “esquerdalhos”, e quando a direita radical cresce e o país tem uma maioria de deputados da direita. Finalmente. Agora sim. Já se pode sonhar em voltar a proibir a IVG, as aulas de cidadania, educação ambiental e direitos humanos. Sobretudo já se pode pensar em voltar a enfiar as mulheres dentro de casa, que é o lugar delas.

Ele sabe que não vai ser fácil em democracia, mas confia que, havendo um estatuto fiscal de dona-de-casa elas vão-se atropelar a correr para dentro de portas e deixarem aos homens o espaço público. No fundo, no fundo, os talibãs afegãos é que têm razão. Shiu!… mas isto não se pode dizer.

Infelizmente P. Brotero não é uma personagem de ficção de mau gosto. É mesmo verdade.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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