expresso.ptAscenso Simões - 24 abr. 07:07

De Sebastião Bugalho a Bruno Gonçalves

De Sebastião Bugalho a Bruno Gonçalves

As escolhas que foram feitas pelo PS significam que o líder do partido apostou muito forte e quer ganhar com alguma folga. O PS não tem um cabeça de lista, mas três

Os partidos com assento parlamentar apresentaram já o seus cabeças de lista ao Parlamento Europeu. Quase todos apostam em figuras com vidas políticas longas, com carreiras conhecidas.

A Iniciativa Liberal, o Bloco e o PCP têm candidaturas fortes. Cotrim de Figueiredo, Catarina Martins e João Oliveira são velhos conhecidos dos portugueses, sabem representar bem (melhor do que os líderes dos respetivos partidos) os seus eleitorados potenciais.

O Chega apresenta uma figura a que não se questionará o conhecimento da política internacional e que simboliza o universo tradicionalista e ultraconservador. Tânger Correia era do Chega antes deste nascer, nunca deixou dúvidas sobre o seu posicionamento ao longo da sua carreira de diplomata.

O Partido Socialista apostou num novo tempo. A renovação total da lista é um risco e uma oportunidade. Um risco, porque há no PE um conjunto de dossiers que seriam melhor tratados por parlamentares já experientes, mas não deixa de ser verdade que a nova liderança socialista ambiciona uma nova linha de protagonistas que vai ter de reconstruir o partido e promover uma alternativa de Governo.

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Se quisermos, Francisco Assis pode ser o líder da lista a norte, representado um terço do eleitorado, Ana Catarina pode ser a cabeça de lista no centro-sul, representando outro terço, e Marta Temido será a primeira candidata para a Área Metropolitana de Lisboa que também significa o ultimo terço do eleitorado.

É sempre muito difícil saber o que vale uma lista em votos para uma eleição como esta. Pode valer alguma coisa se os debates forem muito bons, pode valer muito se os partidos fizerem uma campanha empenhada, forte e mobilizadora, o que não acontece deste 2004.

O PSD correu para este processo apostado em ter Rui Moreira como cabeça de lista. Não vale a pena negarem o namoro de hoje entre Montenegro e o alcaide do Porto, como não vale a pena esquecer o namoro de Costa, ao mesmo protagonista, nas autárquicas de 2021. A ambos, o “vice-rei das Índias” Moreira enganou. Nada lhe sobra agora que não seja a cadeira de Pinto da Costa, que irá disputar com António Oliveira depois da “morte” do eterno presidente.

A lista laranja é, como dizia Marques Mendes no passado domingo, um aglomerado de autarcas. Deus lhes dê um lugarzinho onde possam aprender línguas e viajar em executiva. Mas também é um grupo de nomes encimado por um promissor (?) político de direita.

Nilza de Sena, uma antiga Vice-Presidente do PSD e ilustre académica, escreveu sobre Bugalho “… gosto também do que muitos não apreciarão: os fatos, entre o conservador British e o casual chic. Não é comum num jovem da idade dele, pois não?”

Não lhe avalio o closet, porque não lhe antevejo a escolha entre os Churchs’s o os Crockett & Jones, também não posso ajudá-lo na arte de ser arrogante e convencido, mas o que posso antecipar é um fim semelhante ao da candidatura de Miguel Esteves Cardoso, mesmo que o novel candidato esteja tão distante da genialidade de MEC como a Terra de Neptuno.

Mas o PS não quis ficar atrás. Bruno Gonçalves é o cabeça de lista dos promissores políticos que os grandes partidos apresentam, é o challenger de Bugalho, um em primeiro, no laranja, outro e quarto, no rosa.

Gonçalves é o atual secretário-geral dos jovens da Internacional Socialista, é uma figura respeitada no universo dos Democratas & Socialistas europeus, é natural e residente no distrito mais jovem do país, é um político que não comenta só, que analisa, que aprofunda, que é consistente. Claro que não veste fatos à medida, que não circula entre os emergentes detentores de riqueza que gostam de ter a seu lado umas Barbies e um Ken’s, mas bem pode ser o número um do PS que se equipara ao outro da lista da Lapa.

Eu gosto do Bugalho. Gosto desde o tempo em que ele era uma criança e passeava pelo Parlamento no encalço do meu amigo Sérgio Sousa Pinto. Até gosto da sua indelicadeza, da sua altivez e da sua meninice de filho único (que não sei se é). E não deixei de gostar quando foi mal-educado com Miguel Prata Roque. Nesse dia atirei uma biografia de Tony Blair ao televisor, o Sebastião não sentiu nada, e o prejuízo foi meu.

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