ionline.sapo.ptVítor Rainho - 23 abr. 11:21

Quando o justo paga pelo pecador

Quando o justo paga pelo pecador

Quem tanto fala em racismo e xenofobia bem podia fazer um estágio de duas semanas por aquelas bandas e tentar mudar algumas mentalidades.

No domingo fui a uma cervejaria de Alcântara e percebi, quando entrei, que havia problemas com um grupo de três homens, bem ou mal bebidos, que se recusava pagar a conta, alegando querer fazê-lo noutro dia. Depois de muitas conversas, e já com o segurança do espaço ao barulho, tentou-se por todas as maneiras que a coisa fosse resolvida a bem, notando-se que o empregado, na casa dos sessentas e alguns, mostrava sinais preocupantes de nervosismo. A conversa acabou no exterior, e penso que ficou resolvida, pois quando a Polícia chegou já não teve de intervir. Dez minutos depois chegou outro grupo de homens, estes bem mais novos – mas da mesma ‘família’ –, e fizeram o seu pedido, algo que o empregado desorientado e ainda nervoso com o que tinha passado, demorou algum tempo a satisfazer.

Enquanto comia os meus caracóis, fez-me alguma confusão perceber que os novos clientes estavam a ser olhados com desconfiança por causa dos seus ‘compadres’, mas tudo acabou por correr normalmente. Percebi que saíram felizes. Na mesa de trás da minha, estava um homem que andará pelos 70 anos, e que transportava um saco de plástico com vários documentos lá dentro. Tinha vários boletins de Euromilhões, entre outra papelada que caiu no chão, e apesar de outro cliente se ter oferecido para lhe pagar alguma coisa, recusou. Apenas bebeu a sua cerveja preta sem álcool, e antes de sair disse uma frase curiosa, à mangas de Alcântara: “O gajo que inventou o dinheiro devia ser enforcado”.

Como já se percebeu, ali entram todos, mas há uns que acham que não precisam de obedecer às regras mínimas de civilidade. E são esses que fazem com que os partidos extremistas cresçam cada vez mais, além de prejudicarem os ‘seus irmãos’. Não é por acaso que em Alcântara todas as cervejarias fecham a 24 de julho, pois não querem debater-se com a invasão de clientes indesejados, que, no final, tudo fazem para não pagar a conta.

Há uns bons anos, o meu amigo Aguinaldo Varela acabou por desistir do seu Solar de Alcântara, por, entre outros motivos, não estar disposto a ver hordas de clientes que não querem pagar a conta. Como não podemos enforcar o ‘gajo que inventou o dinheiro’, o melhor mesmo é começar a atuar contra os abusos, nem que se tenha que levar ‘evangelizadores’ antirracistas que expliquem que quem come, paga, à semelhança do comum dos mortais.

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