www.publico.ptpublico.pt - 22 abr. 06:20

Cartas ao director

Cartas ao director

Políticos e magistrados

O PÚBLICO de sábado vale bem mais do que 2 euros, pelos comentários de António Barreto, intitulado “Vítimas da injustiça. E da Justiça”, e outro de João Miguel Tavares sob o título “Porque é que não tenho nenhuma pena da classe política”. Completam-se um ao outro e ambos descrevem aquilo que eu e muitos outros cidadãos pensamos mas não sabemos dizer da forma sábia, rigorosa e corajosa como eles fazem. A ambos cumprimento, felicito e agradeço.

Vou divulgar o mais amplamente possível estes comentários de dois independentes analistas sobre a nossa triste realidade que nada melhorou com o 25 de Abril: a Justiça! Resta-me divulgar o mais possível as duas maravilhosas crónicas que me fizeram reflectir nesta frase de autor anónimo: quando, na idade própria, um cidadão não recebe as doses adequadas de “chá” de ética e moral, de nada vale que, uns anos mais tarde, tal cidadão frequente a universidade, nomeadamente uma faculdade de Direito e um Centro de Estudos Judiciários. Ganham títulos de doutores, mas sem serem uns senhores!

José Madureira, Porto

A morte das mercearias

A propósito do anúncio do encerramento da Mercearia do Bolhão, a mais antiga da capital do Norte, remontando ainda, aliás, a sua fundação aos tempos da monarquia, são elucidativos os comentários do proprietário, cujo lamento pelo fecho da loja centenária se impregna de uma raiva assaz mansa, de que é alvo, claro está, o “capitalismo selvagem”.

Pondo de lado, desde logo, o drama idiossincrático (“pequeno‑burguês”, diriam os marxistas), o que importa aqui reter é a crescente destruição da memória da cidade, ou seja, a homogeneização apátrida do território, do qual desaparecem paulatinamente, à sombra da especulação imobiliária e do turismo de massas, todas as referências históricas dos lugares que vivificam a relação dos habitantes com o espaço que lhes pertence. Ora, quando se perde esse sentimento de pertença, por força da “turistificação” — infrene — em curso, só resta o trauma do impossível regresso ao passado, ganhando este, patologicamente, os contornos irremediáveis de um “país estrangeiro”.

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Perseguição política?

O primeiro-ministro, em reacção aos últimos desenvolvimentos da Operação Influencer, considerou há dias que "o processo está a correr bem" e revelou-se pouco disposto a dizer mais fosse o que fosse. Depois das europeias se verá?... Ora, é lamentável que um chefe do Governo mostre tamanha insensibilidade, ainda para mais depois de o Tribunal da Relação ter criticado todo um comportamento do Ministério Público face a várias pessoas e relativamente ao seu antecessor, que esteve aliás na origem do seu pedido de demissão.

Como cidadão tenho para mim que a razão de o processo permanecer em investigação, após a pronúncia da Relação, visa desvalorizar as opiniões de juízes que não seguem as orientações dos procuradores e forçar a que tudo continue, mesmo que aparentemente assente numa mão cheia de nada. Depois esperar o que António Costa possa vir a fazer face à perspectiva de uma presidência do Conselho Europeu. Desde logo não lhe criar campo fácil e, se a pressão internacional for mesmo no sentido de uma candidatura, quem sabe se novos rumores e sombras poderão aparecer?!... Perpassa nisto toda uma suspeita de perseguição política inadmissível, que só acentuaria os receios de todos aqueles, como escrevia na sexta-feira a excelente colunista deste jornal Carmo Afonso, para quem "fomos lesados e a democracia foi lesada". Ora, Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa, do alto das suas magistraturas de influência, deveriam ser os primeiros a combater, com urgência, tamanhas evidências!

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Rui Moreira independente?

Rui Moreira, o apregoado e de início muito elogiado independente que se candidatou à Câmara Municipal do Porto, e alegadamente venceu por ser independente, será assim tão independente? Quem votou sempre em Rui Moreira foi o centro-direita e a direita? Mas, sem dúvida, Rui Moreira ganhou. Rui Moreira foi e é o presidente da CMP. Sendo que, apesar de continuar alegadamente independente, participou activamente na última campanha eleitoral pela AD. Apesar de ser "independente", desde há algum tempo é apontado como o cabeça de lista às europeias do PSD. A que nunca disse sim, mas nunca disse não. E agora, quando o PSD é Governo minoritário, quando se fala nas listas do PSD para as europeias, Moreira já não será só o cabeça de lista, como um putativo candidato a comissário europeu. E ficam só e unicamente umas pequenas dúvidas, que quem souber explicar, se quiser esclarecer o faça, ou até o próprio. De facto, ser independente existe? Rui Moreira foi mesmo independente, ou foi um conjunto de factores que o ajudou a ser eleito para a CMP? E agora, esta aberta aproximação ao PSD é só de agora? Ou uma vez no poder, sempre vontade de estar no poder.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

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