expresso.ptexpresso.pt - 2 abr. 10:55

Tornados nos Estados Unidos já mataram 26 pessoas. Há uma semana, um fenómeno muito parecido fez outras tantas vítimas

Tornados nos Estados Unidos já mataram 26 pessoas. Há uma semana, um fenómeno muito parecido fez outras tantas vítimas

O mês de março é o início da “temporada dos tornados”, porém não é costume registarem-se tornados que duram tanto tempo, percorrem tantos quilómetros e com diâmetros de túnel tão abrangentes. O centro-norte dos Estados Unidos, mas também os estados do sul, tiveram um mês particularmente destrutivo. Os sinais estão lá, porém ainda faltam dados e investigação para que a ligação direta entre estes fenómenos e as alterações climáticas possa ser estabelecida

São já pelo menos 26 as vítimas mortais de uma série de fenómenos climáticos extremos que no último fim de semana arrasaram o sul e centro-norte dos Estados Unidos. Arkansas, Illinois, Alabama e Indiana são alguns dos estados mais afetados. A destruição material em algumas cidades, principalmente Little Rock e arredores, no Arkansas, está a ser descrita como “devastadora” pelas autoridades locais. Nas zonas mais afectadas vivem cerca de 85 milhões de pessoas.

Só no estado do Tennessee morreram nove pessoas, no Arkansas há notícias confirmadas de quatro mortos, um número igual foi registado no estado do Illinois, onde parte do Apollo Theatre ruiu pouco tempo antes do início de um concerto com várias bandas de metal. No Arkansas, a governadora, Sarah Huckabee Sanders, declarou estado de emergência e ativou 100 membros da Guarda Nacional para ajudar as autoridades locais a responder.

As quatro mortes no Arkansas aconteceram na pequena cidade Wynne, onde vivem cerca de 8.000 pessoas. Foi uma das zonas mais destruídas. A Associated Press, que tem repórteres nas zonas que sofreram o maior impacto do tornado, dá conta de telhados arrancados, algumas casas mais frágeis totalmente destruídas, árvores partidas, muitas janelas arrancadas e muitos objetos caseiros espalhados nas estradas: roupa, brinquedos, móveis, isolamento das paredes, loiça. Uma moradora, Ashley Macmillan, disse à agência de notícias que se tinha apertado com o marido, o filho e o cão da família numa pequena casa de banho, enquanto rezavam. “Dissemos adeus uns aos outros porque pensávamos que estávamos mortos”, descreveu. A queda de uma árvore danificou seriamente a casa, mas ninguém ficou ferido.

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No Tennessee, as a maioria das vítimas mortais, sete das nove, são de McNair, um condado perto de Memphis, que acompanha a margem do Mississipi. O presidente da câmara ordenou uma busca casa a casa, para ver se há mais mortos, ou pessoas com ferimentos graves, imobilizadas debaixo de escombros.

Em Belvidere, Illinois, onde mais de 200 pessoas se tinham juntado para vários concertos de metal, Morbid Angel como cabeça de cartaz, a noite acabou em pânico, quando o tecto do Apollo Theatre caiu sobre quem esperava o início do espectáculo. Os primeiros salvamentos foram feitos pelos próprios espectadores. Morreu uma pessoa e três ainda não estão fora de perigo, segundo as últimas atualizações dos serviços médicos da zona.

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Além dos tornados, que são a parte mais devastadora do “sistema de tempestades” que afetou os Estados Unidos nos últimos quinze dias, muitas localidades tiveram de lidar com queda de granizo acentuada, pedaços que, no Illinois, chegaram a ser do tamanho de uma bola de baseball. Os fogos também devastaram algumas regiões, porque a intensidade do vento faz propagar as chamas com muita rapidez.

Alterações climáticas e tornados? Há sinais

Há uma semana, outras 25 pessoas morreram no estado do Mississipi, e uma no Alabama depois de uma série de tornados, com durações superiores ao considerado normal, ter passado pelos dois estados. Um tornado corre por quatro a seis quilómetros, muitos dos registados nestas áreas mantiveram-se ativos ao longo de mais de 70 quilómetros. O olho do tornado tinha mais de cinco quilómetros de diâmetro, o que ajuda a explicar porque é que foi tão destrutivo.

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A rádio pública dos Estados Unidos (NPR) pediu a vários investigadores que tentassem explicar aos seus ouvintes e leitores, que ligação existe entre os fenómenos dos últimos dias e o aquecimento global - e a conclusão é que não há respostas definitivas. A maioria dos estudos, porém, aponta para a provável ligação entre a formação de tornados e outros fenómenos, esses sim, diretamente criados pelas alterações climáticas.

Os cientistas sabem que o clima quente é um um dos principais ingredientes na formação destas tempestades complexas, que trazem vários tipos de eventos extremos, como tornados, mas a ligação direta ainda não está estudada - e esse é o principal problema, não haver muita investigação sobre o tema. Um tornado não é um furacão, um furação é normalmente muito mais poderoso. Mesmo assim, há pelo menos 1200 tornados todos os anos nos Estados Unidos. “Menos de 10% das tempestades produzem tornados, o que torna difícil tirar conclusões firmes sobre os processos que levam a que eles ocorram e sobre como eles podem ser influenciados pelas mudanças climáticas”, disse Harold Brooks, cientista de tornados do National Severe Storms Laboratory, à Associated Press.

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Alguma coisa está a mudar - e isso é verificável com dados. A chamada “temporada dos tornados” de 2022, que tem em março um dos meses mais problemáticos, foi a mais devastadora desde os anos 50. Pelo menos 236 foram registados nesse mês do ano passado.

A tempestade que fez 25 vítimas mortais no Mississippi, e que aconteceu apenas uma semana antes da desta sexta-feira, tinha começado uma semana antes, na Califórnia. Em Los Angeles não se registava um tornado tão forte desde 1983. O “Washington Post” fez uma análise às temperaturas do início de março e notou que muitos estados registaram valores consideravelmente mais altos do que em anos anteriores. O ar quente e húmido, explicaram os cientistas ao Post, exacerbado pelas temperaturas anormalmente altas da superfície do mar no Golfo do México, ajudaram a dar força à tempestade. “Os ventos quentes do sul alimentaram a tempestade ao nível do solo, enquanto os ventos do oeste geraram uma mudança na velocidade e/ou direção do vento que pode levar ao desenvolvimento de tornados”, lê no artigo.

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John T. Allen, professor de meteorologia na Central Michigan University, escreveu uma coluna de opinião do “USA Today” onde argumenta que, apesar de não haver ainda forma de ligar os tornados em específico ao aumento da temperatura, “há claramente um aumento do número de tornados a leste”, ou seja, “as projeções climáticas para o final do século XXI sugerem que as condições favoráveis ao desenvolvimento das fortes tempestades que produzem tornados vão aumentar na América do Norte, e o impacto pode ser maior no inverno e no outono”, acrescentou.

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