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Soluções de crédito verde favorecem compra de carros elétricos

Soluções de crédito verde favorecem compra de carros elétricos

Instituições apostam na oferta de produtos com taxas bonificadas para viaturas de baixas emissões, com reduções até 1% nos juros. Financiamento tem vindo a recuperar desde a pandemia, mas há entraves à normalização do mercado

Ano após ano, os automóveis elétricos e híbridos plug-in ganham peso no total de vendas em Portugal e os números da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) comprovam-no. Em 2019, os consumidores nacionais adquiriram 13 023 veículos, valor que disparou 278% para 36 258 unidades em 2022. A expansão do mercado, alavancada pelas políticas de descarbonização da economia, fez nascer novas abordagens ao crédito. O eco-financiamento é hoje uma realidade no portefólio de soluções das instituições financeiras em Portugal, que tornam mais vantajosa a compra de um veículo de emissões reduzidas.

O objetivo destes produtos é captar novos contratos de financiamento, mas as estratégias adotadas para lá chegar variam. Existem instituições que oferecem taxas de juro bonificadas, com reduções até 1%, e carregadores domésticos ou cartões de mobilidade elétrica para abastecimento na rede pública. É o caso do Montepio Crédito, que avançou para este mercado em 2021 como forma de antecipar "questões de compromisso com a visão de sustentabilidade da ONU e da Comissão Europeia", explica Pedro Gouveia Alves. O CEO refere-se à necessidade de, cada vez mais, as instituições financeiras contribuírem para a canalização de crédito com impacto positivo na transição climática.

Por outro lado, a redução de risco é um fator que pesa na formulação deste tipo de propostas. "Viaturas mais amigas do ambiente do ponto de vista da emissão de CO2 tenderão a estar associadas a operações com um perfil de risco menor", acrescenta Pedro Gouveia Alves, que aponta como exemplo o valor da viatura enquanto garantia ao longo do contrato. "A consciência ambiental desde logo denota um cliente com perfil de risco menor e com um pouco mais de capacidade financeira", diz.

Tendo em conta que a Comissão Europeia estabeleceu 2035 como prazo para o fim da produção de motores a combustão, um veículo a gasóleo ou gasolina poderá sofrer uma desvalorização mais acelerada com o aproximar dessa data.

Além do Montepio Crédito, também o Novo Banco e o ActivoBank são algumas das instituições que disponibilizam taxas de juro reduzidas na compra de veículos eletrificados. A abordagem da Volkswagen Financial Services, o braço de financiamento de um dos maiores construtores automóveis, é diferente.

"Não é propriamente através de uma taxa de juro mais baixa, mas pela combinação de vários fatores", afirma Alexandre Vasco. O responsável de Business Line Digital and Direct acredita que o que preocupa um cliente na compra de um elétrico "não é tanto a taxa que vai pagar, mas sim, o valor do carro daí a uns anos". Com isto em mente, a instituição compromete-se com uma determinada avaliação do veículo no final do contrato de crédito e permite ao cliente escolher, nessa altura, se pretende ficar com o automóvel ou devolvê-lo. "Como há um valor final garantido que assegura ao cliente um valor futuro, isso baixa a prestação e ele não tem de estar preocupado; mas também inclui um pack de manutenção", esclarece.

Leasing em queda livre
Apesar de as vendas de automóveis novos terem aumentado 2,8% no último ano, o mercado continua a registar uma quebra acima de 30% quando comparado com valores pré-pandemia, em 2019. A recuperação mantém-se a baixa velocidade, influenciada em grande medida pelas dificuldades sentidas na produção, pela escassez de componentes e consequente falta de automóveis para entrega, e tem impacto direto no número de contratos de financiamento.

"Estamos ainda longe de voltar aos níveis pré-pandémicos dentro do crédito automóvel, mas temos de ser otimistas", diz Duarte Gomes Pereira. O secretário-geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) mostra-se particularmente preocupado com a redução abrupta do segmento de leasing (contrato de aluguer), quer em novos quer em usados, que se tem verificado desde 2020.

De acordo com dados do Banco de Portugal, em janeiro de 2020 foram celebrados 1083 contratos de leasing (para novos e usados), enquanto no primeiro mês de 2023 o valor caiu para 137. "Isto é fruto dos limites das taxas máximas definidas pelo Banco de Portugal", aponta a ASFAC. O mecanismo para o cálculo dos valores máximos a cobrar pelas instituições financeiras tem como base a média praticada pelo mercado no trimestre anterior, acrescida de 25%. O problema, refere a associação, é que a subida permanente e acelerada da Euribor, com relação direta no custo do dinheiro para os bancos, torna impraticáveis os valores máximos definidos pelo regulador. "Não há rentabilidade, é impossível", afirma.

A solução passa pela revisão deste mecanismo, de forma a encurtar o período sobre o qual a média é calculada. "A média pode ser aferida no próprio mês ou no anterior, ou então estar indexada à Euribor ou à taxa de financiamento da república", sugere Duarte Gomes Pereira. A questão está a ser estudada com o Banco de Portugal, assegura a ASFAC.

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