www.dn.ptdn.pt - 2 abr. 01:24

O papel positivo dos Zoos

O papel positivo dos Zoos

Recolher informação, fazer investigação, informar e consciencializar os visitantes para a importância de manter e proteger a biodiversidade. Os parques naturais assumem, mais do que nunca, um papel essencial na sociedade atual.

Longe vai o tempo em que os jardins zoológicos eram uma "simples" montra de animais enjaulados. Hoje adquirem um papel essencial na recolha de informação e investigação, assim como na preservação da biodiversidade, a par da consciencialização para a preservação do ambiente. Infelizmente é algo de que a maioria dos visitantes não se apercebe.

Um museu de animais. Era assim que há algumas décadas eram vistos os jardins zoológicos. Mas, lembra Teresa Guedes, responsável pelo Zoo Santo Inácio, nos Anos 90 começaram a existir novas regras, novas leis de acomodação de animais, assim como de apresentação dos mesmos ao público. Portugal não escapou a esta tendência. E se o Zoo Santo Inácio nasceu nessa altura - e assim, já ao abrigo da nova legislação e visão de como acomodar os animais - os zoos já estabelecidos, como o Jardim Zoológico de Lisboa, tiveram de se adaptar. Algo que, lembra Teresa Guedes, demora anos, acrescentando que o Zoo de Lisboa tem feito um trabalho incrível de adaptação.

Já o Zoo Santo Inácio, "foi um projeto criado pelo meu pai e pelos irmãos", revela, acrescentando que a ideia foi a de poder trazer alguns animais para um espaço onde "fossem eles próprios". O que significa isto? Que os animais no Zoo Santo Inácio em Avintes, a 20 minutos do Porto, vivem em "habitats grandes, amplos, onde podem exibir os seus comportamentos naturais".

Na prática isso obriga os visitantes a procurarem pelos animais e a conhecê-los e, com isso, afirma Teresa Guedes, "nós vamos querer proteger". Isto porque "só protegemos aquilo que conhecemos".

Toda a lógica do zoo assenta nessa premissa: conhecer os animais para, também, ajudar a salvá-los e a protegê-los. "Um parque zoológico, hoje, não é apenas uma montra de animais, não é o lado comercial de que se falava antigamente", afirma Teresa Guedes, realçando que hoje os parques não vendem ou compram animais. "Não há trocas monetárias, não fazemos negócios com os animais", afirma convicta, acrescentando que a receita é obtida através da bilheteira, do merchandising e de todas as compras feitas nos espaços comerciais.

Proteger a biodiversidade

Para quem considera que os parques não têm lugar na sociedade atual... essa ideia não poderia estar mais errada. Hoje os habitats naturais de muitos animais estão em risco, em grande medida pela intervenção humana: seja pela (ainda) existência de caçadores furtivos, pela ocupação das terras ou mesmo pelo flagelo do tráfico de animais. E não se pense que este tipo de ações ocorre apenas noutros continentes que não o europeu. Como refere Teresa Guedes, há uns anos o Zoo foi assaltado e roubaram animais "que no mercado negro valem milhares de euros".

A isto há ainda que acrescentar as mortes que são feitas porque há procura por parte da medicina tradicional chinesa ou mesmo para algo tão caricato (e corriqueiro) como espanadores - à conta disso os pandas vermelhos, aquele animal fofo e adorado de muitos é literalmente perseguido.

Esse é um dos papéis do zoo. Não só recolher informação sobre os animais - algo essencial quando se pretende protegê-los -, mas também consciencializar os visitantes para a importância da biodiversidade e de proteger a natureza. Principalmente se tivermos em conta que os números da biodiversidade "diminuem a olhos vistos" e que a "natureza não tem capacidade de se recuperar tão rapidamente".

Ainda na questão do tráfico é frequente os parques acolherem os animais que sofrem desta atividade cruel. E, muitas vezes, isso significa um acolhimento para a vida. Porque um tigre que tenha nascido em cativeiro nunca terá os instintos necessários para sobreviver no seu habitat natural, por exemplo. "A devolução à natureza passa por vários processos", explica Teresa Guedes, que acrescenta que há reservas específicas que "ensinam" os animais a adquirir os instintos que "perderam" em cativeiro. Isso passa, por exemplo, por um processo em que o contacto humano é muito reduzido para saber, mais tarde, sobreviver na natureza.

E aqui entra o outro papel dos parques naturais: a recolha de informação. "Para percebermos o que é um tigre na natureza temos de recolher dados, para conhecermos a espécie e podermos salvá-la", aponta Teresa Guedes, acrescentando que "para proteger a espécie há que conhecê-la". Informação que depois é partilhada entre todos os zoos, todos os parques naturais e todas as reservas.

Informação - bem, parte dela - que depois é igualmente partilhada com os visitantes. "Os parques zoológicos são visitados por mais de 140 milhões de visitantes por ano, no mundo", aponta Teresa Guedes, que acrescenta que são 140 milhões de pessoas com quem podem falar do que se está a passar. "É uma oportunidade incrível para mostrarmos às pessoas o trabalho importante que fazemos e para as angariarmos - connosco - para nos ajudarem a preservar", aponta.

Hoje, os parques zoológicos assumem um papel essencial na preservação da biodiversidade. Em parte porque recolhem a informação necessária para se poder conhecer as várias espécies e o que é necessário para restaurar os ecossistemas. Mas, também, porque ajudam a consciencializar a sociedade para a importância da preservação dessa mesma biodiversidade.

Sem esquecer o trabalho (árduo) da criação de espécies. O Zoo Santo Inácio, por exemplo, foi o primeiro zoológico dentro da vasta comunidade na Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA) a conseguir criar com sucesso a espécie Jabiru do Senegal - Ephippiorhynchus senegalensis. Sendo que, explica Teresa Guedes, não se trata de reproduzir apenas por reproduzir. Há um controlo rigoroso no sentido de manter a espécie pura, por forma a não haver problemas de consanguinidade e doenças entre os animais. Recentemente, por exemplo, dois dos bebés (que na prática já são adolescentes) foram para dois parques europeus. O objetivo é não só garantir a continuidade da espécie, mas, também, e a longo prazo, reintroduzi-la no habitat natural sempre que necessário.

"Os parques zoológicos têm três pilares: a preservação, a educação e a investigação", refere Teresa Guedes, que acrescenta que há ideias ambiciosas para ampliar o Zoo Santo Inácio que tem, hoje, 15 hectares, onde vivem 600 animais de mais de 200 espécies.

NewsItem [
pubDate=2023-04-02 02:24:00.0
, url=https://www.dn.pt/sociedade/o-papel-positivo-dos-zoos--16103174.html
, host=www.dn.pt
, wordCount=991
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2023_04_02_419372270_o-papel-positivo-dos-zoos
, topics=[sociedade, biodiversidade, animais, jardim zoológico]
, sections=[sociedade]
, score=0.000000]