Observador - 2 abr. 00:19
Invejável má reputação
Invejável má reputação
Já pensaram em coisa tão triste como ter nos outros a nossa vitória? Eu não quero que os outros sejam a garantia de que ganhei. No que diz respeito aos outros, ganhar tem sido o meu problema.
Segundo um estudo recente, os evangélicos são o grupo religioso menos apreciado nos Estados Unidos. Acrescentaria, sem qualquer base estatística para tal, que provavelmente o mesmo acontece na Europa. Como seria de esperar, isto tem suscitado o interesse de uns quantos. Não chega a primeiro lugar quem quer—só quem pode mesmo. E, vistas as coisas desta perspectiva, os evangélicos preparam-se para sofrer o que geralmente acontece com quem adquire a pior reputação: a inveja dos outros.
Ser apreciado é a pior coisa que pode acontecer. A pessoa fica atrelada ao apreço que os outros nos têm, canina e servil. Não é fantástico que hoje em dia, com o advento de tantos famosos, desfile diante dos nossos olhos o fenómeno inolvidável de uma multidão escrava da multidão? Considero um espectáculo único: multidões apaixonadas por multidões, num vórtex de canibalismo de aprovação. Que tempos privilegiados estes, de vermos sinais do Apocalipse tão nítidos no dia-a-dia mais banal.
Com a graça de Deus podemos admitir que o não-apreciado é livre como o apreciado nunca poderá ser. O não-apreciado adquiriu a qualidade de viver independentemente do que os outros pensam. É típico confundir o apreço com o amor e, nessa confusão, proclamar que o último vencerá—mas o que é assustador nessa frase é que, assim sendo, o amor, que está a ser confundido com o apreço, não respeita quem quiser viver sem ele. Estamos todos obrigados a ser derrotados pelo amor (que está a ser confundido com o apreço), é isso?
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