observador.ptObservador - 1 abr. 00:20

A beatificação do assassino Abdul Bashir

A beatificação do assassino Abdul Bashir

Caso o assassino fosse um português católico, o dr. Ventura nunca lhe dedicaria um discurso irado e as boas almas nunca se dariam à trabalheira de o absolver mediante sucessivos “contextos”.

Não imagino forma mais entediante de começar um texto do que com “De acordo com dados oficais do Conselho Europeu”, mas um dia não são dias. De acordo com dados oficiais do Conselho Europeu, quase todos os ataques terroristas cometidos na UE durante a última década, à média grosseira de uns cem por ano, têm uma de quatro origens, ou inspirações: o jihadismo; o separatismo; a extrema-esquerda e, num contributo surpreendentemente baixo face ao rebuliço alusivo (uns 2 ou 3%), a extrema-direita. Nenhum dos ataques aconteceu em Portugal, desfeita que nos afasta das nações desenvolvidas e que tentamos contrariar na medida do possível.

É injusto desvalorizar o esforço com que, em tempos recentes, o nosso país tem procurado arranjar um arremedo terrorista a que possa chamar seu. Se um grupo de marmanjos invade um campo de treinos para insultar e agredir futebolistas, isso é obviamente terrorismo (por azar, o tribunal discordou). Se passa pela cabeça de um rapazola matar colegas de universidade, isso é naturalmente terrorismo (por desleixo, o tribunal discordou). Se um informático divulga mails privados de um clube desportivo, isso é francamente terrorismo (por incúria, A Bola ainda não faz lei). Se um líder partidário se aproveita do homicídio de duas mulheres a cargo de um afegão para fazer propaganda eleitoral, isso é evidentemente terrorismo, pelo menos na opinião de um sujeito que assina crónicas no Expresso apesar de não saber escrevê-las (por fatalidade, ninguém as lê).

Aparentemente, o que não é terrorismo de certeza absoluta é o duplo homicídio cometido pelo tal afegão. Curioso. Por uma vez, houve uma confluência de critérios que aproximavam o sucedido de uma parte considerável dos atentados cometidos por essa Europa afora. Por uma vez, Portugal desprezou à partida a hipótese de conseguir o seu atentado. Num ápice, meio mundo irrompeu a garantir que o assassino não era terrorista. No instante seguinte, quase se garantiu que o assassino não é sequer um assassino.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.

NewsItem [
pubDate=2023-04-01 01:20:50.0
, url=https://observador.pt/opiniao/a-beatificacao-do-assassino-abdul-bashir/
, host=observador.pt
, wordCount=361
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2023_03_31_1702031877_a-beatificacao-do-assassino-abdul-bashir
, topics=[opinião, crime, imigração, andré ventura]
, sections=[opiniao, sociedade]
, score=0.000000]