www.publico.ptpublico.pt - 29 nov. 05:30

Cartas ao director

Cartas ao director

Lágrimas por um goleador

A primeira página do PÚBLICO de domingo anuncia a morte, qual bala assassina, de Fernando Gomes. (Gomes, simplesmente.) O adeus do goleador‑mor do FC Porto traz‑me à memória as tardes radiofónicas e dominicais da minha infância. Eram tardes de sol, mas recebo a notícia num domingo de chuva…

Numa análise marxista da realidade social, “o futebol é o ópio do povo”… Em termos psicanalíticos, por outro lado, diríamos que os estádios são dantescos “tubos de escape”, potenciando, portanto, o selvagem “retorno do recalcado”… (Que o diga a mãe do árbitro!)

Tudo isto pode ser verdade, mas está muito longe da meninice que vivi. Agora, confesso, só me interessa recordar a superior elegância dos remates à baliza de Gomes — e o orgasmo do golo. Ainda ressoa em mim, arrepiando‑me, o grito do locutor da rádio: “Gooooooloooo! É golo do Gooomes!” No Universo nada mais importava. Apenas prestávamos culto à Nossa Senhora do Ó da Bola, do mundo, da Terra inteira… “Até sempre, Gomes!”

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Afinal, há fronteiras

Sim, é possível ser-se radicalmente contra a invasão da Ucrânia pela Rússia e, em simultâneo, reconhecer nos EUA os grandes colectores dos lucros da guerra, e pensar que a ideia de alargar a NATO nunca foi boa. Perceber a política agressiva do Kremlin não é o mesmo que aceitá-la.

A recusa de interpretar certos efeitos de causas duvidosas, só porque estas são “ocidentais”, não é análise desapaixonada, mesmo se ela vem de Teresa de Sousa (T.S.), uma analista de corpo inteiro, conhecedora como poucos da realidade internacional, apesar de subordinada à sua concepção de democracia, imutável com actores e geografias alternativos.

Compreende-se que o PÚBLICO, atendendo às barbaridades da guerra, tenha uma posição editorial predominantemente anti-Putin. Mas sei que o jornal nunca escamoteará outras vertentes de análise que não as que Teresa de Sousa utiliza no seu “Sem fronteiras” de domingo passado. Aliás, foi no PÚBLICO da véspera que tive acesso ao artigo de Azeredo Lopes. A “universalidade” do pensamento de T.S., que parece evidente a quem lê os seus textos, não é, obviamente, a verdade definitiva. E as “fronteiras” com que quer confinar as esquerdas europeias, autênticas “más companhias”, são legítimas para T.S.? Talvez para Stoltenberg, esse ideólogo de “primeiríssima água”...

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

A pata na poça

Sempre ouvi dizer que é mais difícil tentar corrigir/disfarçar uma gaffe do que cometê-la! Ora isto ficou bem patente nas recentes atitudes do nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.).

A primeira gaffe de M.R.S. foi aquela “boutade” do esquecermos isso agora e pensarmos na bola/selecção. Depois, chegado ao Qatar, pareceu-lhe necessário “emendar a mão” e pôr-se a perorar sobre as políticas e atitudes do país anfitrião do Mundial de Futebol. Foi descabido.

Não entendo como é que uma alminha nada e criada em berço de oiro, como é o caso de M.R.S., desce à baixeza de tecer críticas à casa e aos hábitos de um seu anfitrião. E ainda menos o entendo se pensar que nem sequer é para granjear simpatias cá dentro, uma vez que já nem pode concorrer a novo mandato presidencial.

Era expectável e plausível a reacção do Qatar — e eu senti vergonha!

Teresa Silva-Gayo, Lisboa

Salários baixos

É absolutamente lamentável, triste e vergonhoso o que se passa em Portugal. Milhões de pessoas estão na pobreza ou no limiar dela, embora muitos deles tenham trabalho diário permanente. Os salários recebidos são, em grande parte dos casos, totalmente desadequados das tarefas que executam e, talvez por isso, haja tanta falta de mão-de-obra, qualificada ou não em Portugal. Para além da falta de habitação e creches gratuitas, existe uma incerteza no futuro em Portugal, porque até hoje nenhum Governo, PS ou PSD, foi capaz de abordar o futuro com seriedade, firmeza e competência. É triste ter trabalho diário permanente e viver no limiar da pobreza, e por isso António Costa tem obrigação de resolver, de uma vez por todas, esta aberração desumana e incompreensível que existe em 2022 em Portugal.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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