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Amarelo, amarelaço, amarelusco, amarelante, amarelão

Amarelo, amarelaço, amarelusco, amarelante, amarelão

Antes de qualquer outra coisa, alerto para a necessidade de o título desta crónica ser lido com o sotaque brasileiro e com a entoação melódica do verso de Fafá de Belém. É o mínimo. J&aa

Antes de qualquer outra coisa, alerto para a necessidade de o título desta crónica ser lido com o sotaque brasileiro e com a entoação melódica do verso de Fafá de Belém. É o mínimo. Já está? Prossigamos.

Há dias, quando cheguei a Doha, os primeiros minutos na cidade suscitaram-me alguma estranheza. Tudo é amarelo. Ou bege. Ou branco-sujo. Ou um laranja muito tímido. Se retirarmos da análise a zona nova de Doha e a nova cidade de Lusail (que dentro de dias merecerá uma reportagem), isto serve para casas particulares, edifícios públicos, estabelecimentos de comércio e qualquer outro edifício que possamos imaginar. O próprio exterior do estádio Al Bayt, uma tremenda obra de arte, pretende não destoar desta lógica monocromática.

Também o ar e o céu nunca são 100% limpos, já que as poeiras do deserto lhes dão uma tonalidade amarelada — um pouco como vivemos em Portugal há algumas semanas, com as poeiras que viajavam do Norte de África.

Depois, os edifícios não ajudam a cortar o amarelo. Pelo contrário, reforçam-no. Mas há uma explicação para isto. Ou várias, sendo que todas fazem sentido.

Uma delas é a de que as altas temperaturas nesta zona do globo — e isto serve para o Qatar e o Médio Oriente, mas também para o Magrebe, por exemplo — recomendam o uso de cores leves que não promovam tanto o aumento da temperatura interior do edifício. Lógico.

Outra explicação é a de que os ventos do deserto trazem areias que facilmente sujarão pinturas diferentes da cor da própria areia. Lógico.

Há ainda outro motivo, que é a da uniformização. O primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly, chegou a dizer ao Guardian que “o plano é manter cores uniformizadas para os edifícios, em vez de um cenário não civilizado”. Não tão lógico, mas legítimo.

Então, qual é o problema? Orientação. Se juntasse todos os minutos em que andei perdido por os edifícios serem todos iguais, seria tempo de vida suficiente para escrever mais uns quantos textos destes. E mais interessantes, provavelmente.

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