observador.ptObservador - 28 nov. 00:20

Portugal na cauda da Europa

Portugal na cauda da Europa

O afastamento do pelotão da frente prende-nos num círculo vicioso: os mais qualificados procurarão oportunidades noutros países, agravando o empobrecimento e o enfraquecendo o potencial de crescimento

As previsões para o crescimento económico colocam Portugal cada vez mais na ponta da cauda da União Europeia. Nos media destacou-se que ‘até a Roménia’ nos deverá ultrapassar em 2024 em PIB per capita. De facto, há 20 anos, a Roménia ocupava o último lugar deste ranking, com um PIB per capita que correspondia a 27% do da UE (Pordata). Em 2021, o seu PIB per capita era já praticamente igual ao de Portugal, correspondendo a 73% do da UE. Um progresso notável, o da Roménia.

No ano 2000, após quatro décadas de forte crescimento económico e convergência, o nível de riqueza gerado por português atingiu 85% do valor da UE. Foi o melhor resultado alcançado desde o século XIX – ver, por exemplo, o artigo do historiador económico Nuno Palma. Entre 1960 e o ano 2000, Portugal fez parte das 10 economias da OCDE que mais cresceram. Nessa época, vivíamos convencidos que iríamos alcançar o ambicioso, e mobilizador, objetivo lançado pelo primeiro-ministro Cavaco Silva de integrar o pelotão da frente. Esta analogia velocipédica transmitia a ambição de vencermos o atraso estrutural da economia portuguesa em relação aos países mais desenvolvidos da UE.

No entanto, a ambição não se cumpriu. Desde o início do século XXI, as taxas de crescimento económico caíram para valores muito baixos, tendo registado valores negativos em seis anos. Entrámos novamente numa trajetória de divergência e afastámo-nos do pelotão da frente. Em 2021, o PIB per capita correspondia a 74% do da UE. Entre 2000 e 2021, Portugal passou da 15ª para a 21ª posição no ranking do PIB per capita. Assim, como podemos ver na figura, Portugal está cada vez mais próximo da ponta da cauda da Europa.

A queda de Portugal no ranking do PIB per capita da UE é muito preocupante e merece todo o destaque que tem tido nos media. Em primeiro lugar, um PIB mais elevado é uma condição necessária para erradicar o flagelo da pobreza infantil e na população mais idosa. Por outro lado, o afastamento do pelotão da frente prende-nos num círculo vicioso: os mais qualificados procurarão as melhores oportunidades de carreira noutros países, acentuando o empobrecimento do país e o enfraquecendo o seu potencial de crescimento.

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