observador.ptObservador - 27 nov. 23:09

O lugar do pai

O lugar do pai

Eu não acho que hoje faça sentido falarmos duma função paterna. O amor de mãe e o amor de pai não têm que ser decalcáveis. Eles são indispensáveis e complementares, seja qual for o formato de cada um.

Pergunto-me, em muitos momentos, qual pode ser, hoje, o lugar do pai dentro duma família. Ele não é, de todo, o “pai tirano” doutras gerações. A referência distante, muito pouco envolvida nos momentos fundamentais do crescimento dum filho mas actuante quando se tratava de “educar”, essencialmente, pelo medo, pela intimidação e pela força. Nem o pai “encarregado de educação” do “poder paternal” que, sem ter os exageros do “pai tirano”, passaria pelo pressuposto que a “lei do pai” seria mais austera e, sempre que necessário, prevalente sobre a “lei da mãe”.

Hoje, o pai já não se barrica no “olhar do pai”, mais agreste, que colocava os filhos, independentemente da idade, mais ou menos “em sentido”. Nem se ancora em expressões como: “precisamos de ter uma conversa!” que traziam uma distância muitíssimo maior entre o pai e os filhos do que aquela que, esse mesmo pai, anos mais tarde, não tem, em relação aos seus netos, enquanto é avô. Conseguindo ser, nessas circunstâncias, ternurento, cúmplice, “fofo” e atencioso como não terá sido quando era “só” pai.

A verdade é que os dois formatos de cuidar que um pai, geralmente, tem enquanto pai e avô, parecem dar a entender que o pai assume, sem dar por isso, uma postura “apagada” em relação ao papel da mãe. E um espartilho de maior distância e de maior contenção, quando se trata de ser “só” pai. A mãe “esganiça-se” mas envolve-se em todos os momentos dum filho. Intervém, opina, exige, repreende e faz questão de ser “uma primeira figura” no crescimento dele. O pai alimenta alguma distância em relação a todas essas tarefas, como se elas fossem para além do seu papel de pai. Coloca-se como “terceiro” na relação entre a mãe e o filho. Alimenta (voluntariamente) a ideia de que será distraído e só intervém “a pedido” ou quando “toca a polícia”. E não contraria quem comenta que só consegue desenvolver uma tarefa de cada vez. Por mais que brinque. Que não esconda a sua bondade. Nem que deixe de intervir, convergindo para uma paridade com a mãe que, em boa verdade, acaba, ainda, por não ter.

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