Vítor Rainho - 4 jul. 08:02
Marcelo e a sua cruzada de rei do povo
Marcelo e a sua cruzada de rei do povo
Não existe, seguramente, figura portuguesa que nos últimos 48 anos mais fez pela boa convivência entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) – e, estou em crer, em Timor – do que Marcelo.
Marcelo Rebelo de Sousa é uma personagem que não deixa ninguém indiferente. Uns gostam, outros detestam-no. Uns acham que é um boneco, outros entendem que é uma espécie de rei do povo. Na mais recente polémica a história repete-se: uns entendem que Marcelo não devia ter ido ao Brasil a partir do momento em que soube que Bolsonaro não o iria receber, como estava previsto, para um almoço; outros entendem que Marcelo não tinha nada que se ter encontrado com Lula da Silva e que isso foi uma falta de respeito para com Bolsonaro. Há mesmo quem tenha dito que os encontros de Marcelo com Michel Temer e Lula da Silva revelam um certo “tique colonialista”.
E é sobre este ponto que quero escrever. O Presidente português, nas suas deslocações aos PALOP, é recebido como um herói, notando-se bem que as palavras racismo quase só rimam com profissionais das ONG e com alguns ressabiados de ambos os lados do Atlântico. Ainda há uns meses estive na Guiné-Bissau e ouvi vários relatos de como estiveram à espera de Marcelo mais de 100 mil pessoas – numa população que não chega aos dois milhões.
Em Moçambique, foi o que se viu. Um mar de gente feliz por estar perto de alguém que simboliza o passado e o presente das relações entre os dois países. Em Angola o cenário não foi diferente, tendo ainda a vantagem de mostrar ao povo que um Presidente não precisa de ser uma figura que está escondida num bunker e que não se mistura com as populações.
É óbvio que há feridas entre Portugal e esses países, mas o tempo tratará de as sarar. Afinal, ainda não passaram 50 anos desde que os PALOP deixaram de ser um povo colonizado por Portugal. Mas se olharmos para o Brasil, só meia dúzia de intelectuais é que se refere à colonização, algo que nós também poderíamos falar em relação aos romanos, aos árabes, celtas ou visigodos. O que, como sabemos, é um verdadeiro disparate. Faz parte da história.