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Visita de Juan Carlos a Espanha causa dores de cabeça à Casa Real e aos partidos

Visita de Juan Carlos a Espanha causa dores de cabeça à Casa Real e aos partidos

A presença do rei emérito foi, apesar de durar poucos dias, o suficiente para provocar ondas. Juan Carlos almoça esta segunda-feira com Felipe no Palácio da Zarzuela.

O rei emérito Juan Carlos I regressou a Espanha para uma curta visita, mas a primeira vez que o monarca afastado em 2020 na sequência de vários escândalos de corrupção e desvio de fundos volta ao país desde que se mudou para o Dubai há mais de dois anos está a levantar ondas.

Juan Carlos aterrou em Vigo na quinta-feira e regressa a Abu Dhabi já esta segunda-feira, depois de almoçar com o filho no Palácio da Zarzuela, que foi a sua casa durante 60 anos.

O rei Felipe e o Governo espanhol negociaram com Juan Carlos o que seria possível durante a visita: não lhe foi permitido, por exemplo, pernoitar na Zarzuela, já que o Governo espanhol considera que esta é, além de residência da família real, a sede da chefia do Estado espanhol.

Apesar disso, fontes governamentais queixaram-se ao diário El País que o rei emérito de 84 anos se comporta como “um adolescente caprichoso”, e que da Casa Real parecia vir um sentimento de que Juan Carlos é “impossível de controlar”, mesmo que prejudicasse o filho, o rei Felipe.

As distâncias foram marcadas e o almoço de Juan Carlos com o filho não aparece sequer no calendário oficial da Casa Real, pelo que é considerado um momento privado. Apesar disto, o almoço concentrou as atenções como nenhum acto oficial do rei há muito tempo, comenta o jornal espanhol.

A Casa Real desejava que a primeira visita de Juan Carlos desde que deixou o país para viver nos Emirados Árabes Unidos, seis anos depois de ter abdicado a favor do filho Felipe em 2014, fosse “discreta e austera”.

Mas Juan Carlos viajou num jacto privado para Vigo apesar de haver voos directos para Madrid, levantando questões sobre quem teria custeado a viagem (que seria assim contra o código de ética da Casa Real). E foi participar numa regata a Sanxenxo, que se tornou palco de uma enorme cobertura mediática, “como se fosse um acontecimento histórico ou uma visita de Estado”, descreve ainda o diário El País.

O palácio também teve de explicar por que razão Juan Carlos I não tinha começado a visita pela Casa Real e sim pela regata: a sua mulher, rainha Sofia, estava nos Estados Unidos para estar presente em actividades organizadas pelo Queen Sofia Spanish Institute e só chegou a Madrid no domingo, e por isso o encontro da família realizava-se apenas esta segunda-feira.

A visita aconteceu depois da decisão do Ministério Público de 2 de Março encerrar os casos pendentes que tinha sobre o rei emérito, que há um ano chegara a acordo com as autoridades fiscais de Espanha, entregando 4,4 milhões de euros ao fisco.

Depois de já não ter qualquer caso contra si a correr em Espanha, Juan Carlos deu conta a Felipe do seu desejo de visitar mais frequentemente o país. E prepara-se já para regressar em breve a Espanha, de 10 a 19 de Junho, para o campeonato do mundo da sua categoria de veleiros – nesta visita, o seu estado de saúde mais frágil fez com que não conseguisse participar na prova no sábado, mas este domingo conseguiu participar na regata, passando mais de três horas no mar.

O diário El País escreve que o problema da visita de Juan Carlos é também a divisão política que provoca: “O pior, no entanto, para o futuro da monarquia é que a visita dividiu os partidos políticos em dois grupos irreconciliáveis, entre os que desculpam qualquer acto ilegal que Juan Carlos possa ter cometido sob o manto da imunidade e os que desqualificam a Coroa pelos comportamentos pessoais do seu antigo titular”.

O líder do conservador Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, defendeu a visita de Juan Carlos, dizendo que não vê qualquer sentido em questionar se “um cidadão que não tem qualquer questão pendente e que além disso foi rei de Espanha durante várias décadas” pode visitar o país, acusando quem o faz de questionar a Constituição espanhola.

Já o partido Unidas Podemos, que participa na coligação do Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, tem outra opinião: “Qualquer pessoa que regressasse ao nosso país com o historial do rei Juan Carlos I seria detida na fronteira e levada à justiça”, reagiu o partido na sua conta oficial no Twitter.

O Unidas Podemos pediu recentemente que Juan Carlos fosse impedido de usar o título “rei emérito” na sequência da decisão de um tribunal de Londres que considerou que Juan Carlos não tem imunidade legal em Inglaterra após ter abdicado do trono. Será assim possível seguir com o processo em que a ex-amante do monarca, Corinna zu Sayn-Wittgenstein, que mora em Londres, acusa Juan Carlos de assédio.

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