observador.ptObservador - 7 dez. 00:07

Ruben Amorim, o melhor por razões simples

Ruben Amorim, o melhor por razões simples

Ruben Amorim diz livremente coisas diferentes, fora do guião, que nos acrescentam qualquer coisa. Faz-nos pensar e ensina-nos coisas sobre o jogo ou sobre liderança. Ouvi-lo é o mesmo que aprender.

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Há uns meses que o digo, e o tempo tem vindo a comprovar esta taxativa afirmação: Ruben Amorim é o melhor treinador em Portugal e um dos melhores da Europa. Não quero começar a fazer comparações entre os treinadores que estão em cima da mesa – seria injusto para muitos cuja importância no futebol português é notória –, mas gostava que este modelo de treinador – do qual Ruben Amorim é paradigma – despontasse mais vezes. Seria um ótimo sinal para o desporto e para o futebol deste país. Um sinal de vivacidade, de saúde e de uma meritocracia que pudesse contrariar os vícios que este meio ainda tem. O sistema continua a promover outro tipo de treinador que não traz nenhum benefício ao jogo (a não ser manchetes nos jornais) e fico muito feliz por ver destacados aqueles que querem e conseguem fazer diferente e melhor.

E Ruben Amorim é melhor por muitas razões: porque ganha tanto ou mais vezes do que os outros; porque não lhe interessa ganhar de qualquer maneira; porque é um exemplo de liderança; porque é um exemplo para toda a sociedade e porque se aprende sempre qualquer coisa com ele.

Carreira construída com mérito e alicerces: Ruben Amorim foi jogador de alta competição, mas foi tirar o nível I de treinador desde o início até ao fim. Começou na 3ª divisão, foi campeão no Casa Pia (ainda que as ridículas burocracias do curso o tenham tramado), passou para o Braga B, posteriormente foi para a equipa principal do Braga e finalmente para o Sporting. É um exemplo de um percurso meritório, de alguém que aproveitou os benefícios de ser jogador sem ser levado ao colo por eles.

Percurso vitorioso: Ruben Amorim ganha muitas vezes e ganha bem, com brilhantismo, organização e critério. As suas equipas são verdadeiras equipas que sabem o que fazer em campo e fora dele. Além disso, do Casa Pia ao Sporting percebe-se que é ele o treinador pela maneira como as equipas jogam, e não se escuda em desculpas esfarrapadas que já cansam. Omeletes sem ovos não existem, mas existem omeletes extraordinárias com ovos que aparentavam ser banais.

Liderança invulgar: Ruben Amorim é um exemplo completo de liderança a todos os níveis. Não só pela capacidade de tirar o melhor de cada um, mas também pelo brilhantismo na gestão dos seus grupos e na comunicação. É o típico treinador que faz com que jogadores aparentemente medíocres se transformem em monstros da tática, do esforço ou do empenho. São já incontáveis os exemplos dos jogadores que lançou, dos jogos em que não tinha os melhores jogadores e conseguiu vencer com outros jogadores que supostamente não estavam tão preparados, dos jogos em que perdeu e transformou em gatilhos para as suas equipas melhorarem e vencerem depois disso. Todos recordamos o famoso mote “onde vai um vão todos” ou as suas declarações aquando da ausência de um dos melhores jogadores do Sporting: “Se tiver de falhar um joguinho ou outro, não há problema.”. Que é como quem valoriza o grupo, responsabiliza todos e diz: “O grupo está preparado”. E está mesmo.

Exemplo para a sociedade: Ruben Amorim carrega em si a responsabilidade de um educador e sabe exatamente qual é o seu papel na sociedade. Não se leva muito a sério, reconhece os seus defeitos com facilidade, tem imenso sentido de humor, contagia-nos com a sua paixão pelo jogo, numa forma despretensiosa e desempoeirada de quem sabe perfeitamente que em breve lhe vão acenar com lenços brancos porque o sucesso é instantâneo. Não enche o peito quando ganha – o que é sinal de que desconfia que qualquer dia vai cair com estrondo –, e quando perde faz-se Homem e engrandece a sua mais pura humanidade: não fala dos árbitros, das dificuldades que teve durante a semana, dos jogadores ausentes, do calendário apertado ou da pausa para seleções. Enfrenta a derrota como deve ser e olha para dentro de si e do grupo que lidera. A par disso, assistir às suas conferências de imprensa é um alívio para quem está farto dos mesmo chavões de sempre. Diz, livremente, coisas diferentes – fora do guião –, que nos acrescentam qualquer coisa. Faz-nos pensar e ensina-nos coisas sobre o jogo ou sobre liderança. Ouvi-lo é o mesmo que aprender.

Ruben Amorim é o melhor por uma simples razão: sabe perfeitamente que um treinador de futebol representa hoje em dia muito mais do que vitórias ou boas práticas de liderança. Nesse caso, não ganha por 3-1, ganha por 10-0.

Precisamos de mais gente assim no futebol, na esperança de que os que se mantêm íntegros não sejam engolidos pelo insucesso ou pela competitividade assassina que o desporto de alta competição traz consigo.

Venham mais como ele.

Francisco Guimarães tem 23 anos. É treinador de futebol desde os 15 anos em clubes como o Estoril Praia ou o Delhi United, da Índia. É comentador de futebol na Sport TV, embaixador para a integridade no desporto e foi cronista no jornal Record. É especializado em psicologia do desporto e está a concluir a sua formação como treinador, tal como uma licenciatura em Artes e Humanidades na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É membro dos Global Shapers desde 2020.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.

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