visao.sapo.ptClara Cardoso - 6 dez. 08:30

Visão | A evolução da Covid em Portugal nos últimos 3 meses

Visão | A evolução da Covid em Portugal nos últimos 3 meses

Analisando os últimos 3 meses há tendências interessantes a considerar e explicações que poderão ajudar-nos a encarar melhor o futuro

Vivemos hoje muito apreensivos com a evolução dos números da Covid. Estamos na 5ª vaga, o que significa, primordialmente, um número crescente de doentes infetados. Mas também significa mais óbitos e mais internamentos, ainda que de forma mais moderada.

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  1. Os novos casos

De outubro para novembro registamos um grande salto no número de infetados (quase o triplo), quando de setembro para outubro tínhamos assistido a uma significativa redução (-34,1%). Ou seja, novembro representou efetivamente a consolidação da 5ª vaga, depois de um mês de outubro em baixa face aos valores de setembro. A explicação para esta evolução poderá estar na perda de eficácia do primeiro período vacinal, sobretudo junto das populações mais idosas, situação recuperada com o início da 3ª dose. A média diária de casos foi, assim, mais baixa em outubro (690 casos por dia) face a setembro (1045 casos) e mais elevada em novembro (1.887 casos por dia), um aumento muito expressivo.

  1. Os doentes internados

O número médio diário de doentes internados foi, em setembro, de cerca de 525 camas ocupadas com doentes covid, baixou sensivelmente em outubro (319 camas ocupadas) e voltou a subir significativamente em novembro, ainda que sem atingir os valores médios de setembro (513 camas ocupadas). A ocupação de camas de cuidados intensivos teve uma evolução similar: mais elevada em setembro (106 camas ocupadas, em média diária), descida sensível em outubro (60 camas ocupadas) e retoma da ocupação em novembro (80 camas ocupadas).A relação entre os doentes internados em cuidados intensivos versus os que estão em internamento geral, ilustra uma clara redução da gravidade: 20% em UCI em setembro, 19% em outubro e 15% em novembro. Do mesmo modo, se relacionarmos os novos casos diários com o número diário de doentes internados, verificamos que as situações de doença de maior complexidade tendem a diminuir: 50 doentes internados por 100 novos casos diários em setembro, 46 em outubro e apenas 27 em novembro.

  1. Os óbitos

O número de óbitos diários atingiu o seu valor mais elevado em novembro, com uma média diária de 9,5. Esse valor foi 58% acima do valor registado em outubro (6 óbitos por dia) e 36% superior ao registado em setembro (7 óbitos por dia). Ou seja, a exemplo do que aconteceu nos outros indicadores, regista-se uma descida de novos óbitos em outubro e uma acentuada subida em novembro. Mas também aqui percebemos que o peso dos óbitos nos novos casos de infeção apresenta, em novembro, uma clara tendência de descida: 7 óbitos por 1000 novos casos em setembro, subida em outubro para 8,5 e descida para 5 em novembro. Poderá parecer estranho que se constate menor gravidade na casuística da covid e se registe um aumento de óbitos. Mas, como se vê, esse aumento é menos do que proporcional ao aumento de casos e, por outro lado, será de considerar que a perda de imunidade da vacina nos mais idosos, vacinados em janeiro e fevereiro, possa ter aberto uma janela de gravidade/mortalidade até à toma da dose de reforço, entretanto colmatada no mês de novembro.

Quando analisamos os óbitos por grupos etários, percebemos melhor o impacto da vacinação. Em setembro, dos óbitos registados, 60% ocorreram em pessoas com 80 e mais anos, em outubro esse valor foi de 70% e em novembro baixou para 59%. Embora continue a ser o grupo etário predominante na mortalidade por covid, a ideia de que a grande maioria dos idosos foi já inoculada com a 3ª dose da vacina poderá explicar a redução da mortalidade em novembro. Importa, todavia, perceber se a covid foi diagnóstico principal ou secundário em relação a estes óbitos, pois supõe-se que a multimorblidade das pessoas idosas possa determinar óbitos com covid e não por covid. Dá também a sensação de que no decurso do mês de outubro, o facto de parte substancial dessa população ter visto diminuído o efeito de imunização do primeiro período vacinal, poderá explicar mais infeção e mais mortalidade.

Isso mesmo parece resultar da análise da incidência da infeção por grupos etários. De facto, o grupo de cidadãos com 80 e mais anos representou em setembro 4,7% de todos os infetados, mas em outubro a sua importância relativa subiu para 7,4%, denotando maior exposição ao vírus. Em novembro, e já com a dose de reforço amplamente distribuída, a incidência neste grupo etário baixou para 3,5%.

Não restam dúvidas de que o desenvolvimento célere e eficaz da vacinação, embora não tivesse controlado plenamente a progressão do vírus, teve um efeito positivo e insubstituível no controlo dos níveis de gravidade dos infetados. Como acima se deixou demonstrado, o peso relativo dos óbitos, dos doentes internados e dos doentes críticos baixou significativamente nesta 5ª vaga, dando espaço e tempo para uma resposta mais bem preparada e com menos efeitos dramáticos para a vida das pessoas.

  1. A comparação internacional

Portugal ocupa uma posição privilegiada quanto à vacinação no contexto mundial. É o país europeu com mais pessoas completamente vacinadas e só tem dois países no mundo à sua frente: os Emiratos Árabes Unidos e Singapura. Isso dá-nos uma vantagem relevante na hora de compararmos os impactos atuais da incidência da Covid. Nos últimos 7 dias (com o último dia a 2 de dezembro), Portugal apresentava uma média diária de 285,01 novos casos por milhão de habitantes, valor muito abaixo da média da EU (702,81). Na mortalidade por Covid nos últimos 7 dias (último dia a 3 de dezembro), Portugal tinha 1,39 óbitos por dia, por milhão de habitantes e a EU 4,25(*). Estas diferenças, mais do que qualquer outra explicação, assentam seguramente na nossa capacidade vacinal, inclusivamente já com a dose de reforço. E parece claro que, apesar do recrudescimento da Covid por toda a Europa, Portugal destaca-se pela positiva, com uma situação bem menos complexa do que a que se vive em França, na Alemanha, Reino Unido, Áustria, Holanda ou República Checa, só para citar alguns exemplos mais contrastantes.

Todos devemos, assim, tomar a 3ª dose da vacina, independentemente do lote ou do laboratório que a produz. A sua eficácia está ampla e categoricamente comprovada e os seus resultados, para os indivíduos e para a sociedade, são altamente compensadores.

(*) cf. “OurWorldindata”

ÍNDICE SINTÉTICO DE RISCO POR INFEÇÃO PELO VÍRUS DA SARS – CoV -2

(semana de 28 de novembro a 4 de dezembro de 2021)

Na passada semana a pandemia continuou a aumentar em todas as vertentes consideradas. A notícia menos má foi que as taxas de crescimento foram mais moderadas do que na semana anterior. A dimensão que mais subiu foi a dos doentes internados (+ 28%), logo seguida dos doentes em UCI (+ 21%). De salientar que, quer nos óbitos (média diária de 15,57 óbitos), quer no número de novos casos (média diária de 3.313 casos) ultrapassamos, pela primeira vez, os valores- limite do baixo risco (15 óbitos/dia e 3200 casos/dia, respetivamente). É de supor que a continuidade de crescimento da pandemia nos leve para o risco moderado a partir da próxima semana, sendo, por isso, plenamente justificadas as medidas de contenção que o governo adotou.

. ÍNDICE SINTÉTICO DE RISCO: 0,900137 (baixo risco)

. TENDÊNCIA: subida acentuada

. COR DO SEMÁFORO: verde

. DIMENSÃO PIOR: positividade dos testes

. DIMENSÃO MELHOR: número de doentes internados

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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