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Salvar o normal

Salvar o normal

Passaram quase 20 meses desde o início da pandemia no nosso país e muitos são os aspetos em que aparenta nada termos ganho com o acumular do tempo e do conhecimento sobre esta realidade.

Tal como em muitas ocasiões, a comunicação continua sem ser clara - quer a oficial, quer a que vai sendo disseminada pelos média -; as medidas restritivas nem sempre são cientificamente sustentadas e incorporam algumas incoerências; a estratégia global (ao nível da testagem e vacinação) permanece errática e enfrenta múltiplas dificuldades operacionais no terreno.

Na perspetiva dos cidadãos, o sentimento de incerteza e insegurança vai sendo substituído por posturas mais extremadas, resvalando para o "negacionismo" ou o "alarmismo", em que se posicionam aqueles que contestam todo e qualquer constrangimento às suas liberdades individuais e aqueles que veem um holocausto em qualquer aglomeração de pessoas.

Ou, como referia a coordenadora da task-force comportamental, Margarida Gaspar de Matos, no último "Explicador", da Rádio Observador: "um país que se divide entre o medo e o tédio".

Em algum discurso coletivo, regressa a ideia de que se está apenas a tentar "salvar o Natal", propiciando a realização dos convívios familiares e tentando depois (com medidas como a obrigatoriedade do teletrabalho e o retardamento do início das aulas do segundo período), mitigar os ciclos de contágio que daí poderão resultar.

Na esfera pública local, as mensagens têm sido um pouco mais claras: não se põe em causa a evocação da quadra festiva, assumindo o importante impulso da dinamização económica, mas cancelando ou não organizando sequer as iniciativas que possam verdadeiramente comportar mais riscos (com destaque para as celebrações de passagem de ano).

Em linha com as intervenções do presidente da República, "a vida continua" e todos temos que nos ajustar ao momento em que "a pandemia passa a endemia", uma doença com que teremos que lidar na rotina de cada comunidade.

Por mais que os números continuem a crescer ao longo das próximas semanas, importará contextualizar com a realidade anterior, com especial ênfase para a relação entre infeções, internamentos e óbitos.

A título de exemplo, em Braga, há um ano, registava-se por dia o dobro das infeções atuais, sendo que o número de internados em cuidados intensivos era por si só superior ao número de doentes hoje internados no hospital local.

Como desde o início, sobressai a importância do comportamento individual responsável: respeitar regras, testar, vacinar. Enfim, o normal.

Presidente da Câmara Municipal de Braga

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