luisdelgado - 5 dez. 19:30
Visão | De quem é a tese do passageiro?
Visão | De quem é a tese do passageiro?
O PM foi ainda mais gráfico e explosivo: "é das coisas mais revoltantes e desprezíveis a que tenho assistido!" Por que raio se demitiu, afinal, Eduardo Cabrita?
“Não ia a conduzir, era passageiro”. Esta frase, dita com firmeza, em 28 de agosto de 2021, não é de Eduardo Cabrita. Ele, na sexta-feira, limitou-se a repetir. Confiante que sabia o que dizia. Teve azar. Quem a disse foi o chefe do seu Governo, António Costa, o mesmo que lhe apontou a porta de saída.
A memória é sempre escassa, curta, e passageira, mas conviria não esquecer a entrevista de António Costa à SIC, num sábado de Congresso do PS, no Algarve, em que se indignou com o “aproveitamento político” do trágico acidente na A6, com a viatura em que seguia o ministro da Administração Interna (MAI).
O primeiro-ministro (PM) foi duro, incisivo e demolidor: é “lamentável como a perda de uma vida humana” se transformou num “ataque político a uma pessoa que era um passageiro num automóvel”. Estava tudo dito? Estava tudo encerrado? Não, nada disso. O PM foi ainda mais gráfico e explosivo: “é das coisas mais revoltantes e desprezíveis a que tenho assistido!”
Por que raio se demitiu, afinal, Eduardo Cabrita? Em agosto tinha sido imunizado pelo primeiro-ministro, na manhã de sexta limitou-se a repetir o mesmo argumento, e ao final do dia, cabisbaixo, anunciou que tinha pedido a demissão. Que foi imediatamente aceite, diga-se. E imediatamente substituído.
Desta, assim, não estava à espera o ex-ministro da Administração Interna. Acordou como passageiro, e acabou o dia como culpado. Terá percebido, finalmente, que em política não há misericórdia. Nem bondade. Nem perdão. Se Eduardo Cabrita pudesse voltar atrás, recuar no tempo, no gesto, na atitude, certamente que teria saído, pelo seu próprio pé, no dia do acidente. E ele até perguntou.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.