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Pedro Galego: ″Atendemos os casos oncológicos, mas a patologia benigna fica para trás″

Pedro Galego: ″Atendemos os casos oncológicos, mas a patologia benigna fica para trás″

Pedro Galego, urologista no Hospital do Espírito Santo, em Évora, lamenta a falta de profissionais na região e diz que esta se deve não só a incapacidades administrativas e financeiras de recrutamento, mas também com a parca oferta de condições atrativas para fixar os médicos. Acompanhamento de doentes com problemas na próstata acaba por ser penalizado.

"Mesmo nos casos urgentes, a urologia em Évora não consegue responder em menos de um mês", afirma Pedro Galego, urologista no Hospital do Espírito Santo, questionado sobre o tempo médio para uma consulta de especialidade naquela unidade. No âmbito do projeto "Próstata de Lés a Lés", desenvolvido pelo DN, JN e TSF, o médico aponta os parcos recursos humanos em Évora, e no Alentejo em geral, como o principal fator de queixa sobre as condições de trabalho e acompanhamento de doentes com problemas na próstata. A situação, explica, tem vindo a agravar-se e são as doenças benignas que são deixadas para trás. "Os casos oncológicos são cada vez mais frequentes e dedicamo-nos tanto a eles que não conseguimos dar resposta aos outros doentes". O resultado é o recurso à medicina privada para obter tratamentos e um receio generalizado na população que se sente desprotegida pela falta de acompanhamento, admite.

A falta de profissionais na região está relacionada não só com incapacidades administrativas e financeiras de recrutamento, mas também com a parca oferta de condições atrativas para fixar os médicos. A expectativa é que o, tão apregoado e muito adiado, novo hospital de Évora possa resolver parte dos problemas quando estiver a funcionar. Pedro Galego, em tom de brincadeira, diz esperar que as notícias do arranque das obras não sejam mais "um mito tal como o tema da próstata que envolve sempre muitos mitos e desinformação. Talvez o mito se torne agora realidade".

As feições do rosto retomam a seriedade quando afirma que o Alentejo está à espera há mais de 20 anos. "Um novo hospital em Évora fará toda a diferença na cidade e em toda esta grande região. A infraestrutura e as novas condições técnicas seriam um ótimo incentivo para chamar e fixar aqui jovens especialistas que se queiram deslocar do litoral para o interior. A falta da nova unidade, por tudo o que representa, é a grande lacuna que temos".

"Chegam à consulta completamente às escuras"

"É um mito na população, e não só aqui no Alentejo, afirmar que os doentes submetidos a intervenções cirúrgicas à próstata vão ter incontinência urinária e disfunção erétil", garante o urologista explicando de imediato que a tecnologia tem hoje capacidades que resultam em grandes taxas de sucesso. "O avanço no sentido prático da operação tem sido enorme e os resultados mostram isso. Pouco a pouco conseguimos demonstrar essa realidade e a ajuda do passar a palavra, boca a boca, melhora o conhecimento da população". Ainda assim, o especialista defende a necessidade de alertar a população para as questões de prevenção. "É um assunto que ficou esquecido no domínio público e raramente vem para a comunicação social".

Sobre a caracterização da população de Évora em termos de literacia para a saúde e concretamente para o cancro da próstata, generaliza-a e compara-a à restante população alentejana. "Está envelhecida e pouco informada. Quando os homens chegam a uma consulta de urologia vêm completamente às escuras. Habitualmente são encaminhados pelo médico de família, mas quando chegam nem sabem bem porque é que lá estão".

Valorizar o Exame PSA

Se a sociedade precisa de estar mais atenta e receber informação de qualidade sobre questões de saúde, também a medicina geral e familiar necessita de apoio, pelo menos assim pensam os urologistas. Neste caso, Pedro Galego deixa um apelo relacionado com o novo paradigma da prevenção do cancro prostático, que não estando convencionado aposta, cada vez mais, no rastreio que deve começar nos cuidados primários de saúde. "Custa-me perceber que são gastos rios de dinheiro a pedir valores de glicemia, valores de colesterol, de triglicéridos e uma análise tão simples ao PSA, que pode fazer toda a diferença para detetar casos, fique de fora quando o médico de família pede análises ao sangue".

Com o novo conceito à luz dos mais recentes desenvolvimentos científicos, o objetivo da urologia passou a destacar o que considera o real valor do exame PSA, o antigénio prostático específico, usado na generalidade para rastrear homens assintomáticos a partir dos 45-50 anos. Quanto mais precoce for o exame e a deteção dos casos mais possibilidades terapêuticas existem para tratar esses doentes. A nova corrente em defesa da valorização do PSA é recente e deita por terra ideais que há mais de uma década vinham a fazer caminho. Os especialistas estão agora a pedir aos pares da medicina geral e familiar uma nova atitude. Pedro Galego até exorta a Associação Portuguesa de Urologia a fazer eventos direcionados e encetar sessões clínicas, com objetivos de alterar os conceitos e as práticas ainda em voga, para otimizar o padrão de prevenção na saúde prostática.

dnot@dn.pt

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