visao.sapo.ptsvicente - 4 dez. 19:14

Visão | Liderança, resiliência e solidariedade: o exemplo português

Visão | Liderança, resiliência e solidariedade: o exemplo português

Se há uma coisa que o vírus não pede é passaporte ou NIF! Resultado: deparamo-nos com uma nova variante, uma nova vaga, com origem, presume-se em África, continente abandonado relativamente à distribuição das vacinas

A pandemia veio demonstrar um sem número de coisas, algumas que conhecíamos, mas que não verbalizávamos ou atribuíamos importância e outras às quais éramos completamente alheios.

Duas delas são, do meu ponto de vista, de extrema importância, não apenas para o tempo que vivemos como para o futuro que desejamos ter.

A primeira é que o vírus é inteligente.

 Aliás, ao que parece todos os vírus são inteligentes, uma vez que encontram caminhos certos para o hospedeiro ideal.

Mas o coronavírus é ainda mais inteligente, uma vez que se transforma a uma velocidade bem maior que os demais, mutando-se e adaptando-se às circunstâncias e aos obstáculos que lhe vão sendo colocados. Perante esta realidade, resta apenas combatê-lo, tentando antecipar, por um lado as suas mutações (coisa bem difícil, se não impossível, de levar a cabo) e, por outro, tomando todas as medidas já conhecidas para a proteção de todos.

A segunda evidência é que o ser humano, ao contrário do vírus, é pouco inteligente. Ou melhor dizendo em verdadeiro português: é burro (que me perdoem as animálias de quatro patas).

No mundo global em que vivemos, era do mais elementar bom senso fornecer vacinas e inoculá-las a TODA a população humana, onde quer que se encontrasse e fosse qual fosse o seu nível económico ou de desenvolvimento.

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Deparamo-nos com este paradigma que nos define a pouca inteligência: enquanto nalguns países ditos desenvolvidos se grita, se manifesta contra medidas de proteção e se recusa a vacinação com base em teorias estapafúrdias de conspiração, noutros essas vacinas não chegam, as proteções necessárias não são suficientes (refiro-me a máscaras, que nos incomodam tanto, mas que nalguns locais são meros panos atados e pouco limpos), a higienização é impossível, por falta de condições de salubridade.

Era inevitável que o vírus se propagasse.

Ou seja, estamos a colher os frutos da nossa falta total e absoluta de solidariedade!

Portugal, neste aspeto, teve um papel exemplar!
Não só partilhou com os países da CPLP vacinas como fez algo único, extremamente difícil, mas crucial: estabeleceu e levou a cabo um plano de vacinação de sem-abrigo e de migrantes irregulares.
Isto é, trouxe para o combate e para a área protegida aqueles que normalmente não figuram nas estatísticas, aqueles que não existem

Pouco interessam as cimeiras ou as recomendações da OMS, se no terreno a situação é dramaticamente sub-humana.

Pensar que tal situação não acarretaria consequências para os países do denominado primeiro mundo é nada saber de História e sobretudo nada entender do ser humano no seu geral.

Naturalmente que em tempo de guerra não se limpam armas.

Mas convém que se aprenda qualquer coisa com o combate e que essa coisa seja entendida a montante, como prevenção e não como reação tardia.

Portugal, neste aspeto, teve um papel exemplar!

Não só partilhou com os países da CPLP vacinas como fez algo único, extremamente difícil, mas crucial: estabeleceu e levou a cabo um plano de vacinação de sem-abrigo e de migrantes irregulares.

Isto é, trouxe para o combate e para a área protegida aqueles que normalmente não figuram nas estatísticas, aqueles que não existem.

Não conheço mais nenhum país que o tenha feito!

Certo que muito devemos à task-force criada e ao seu comandante. Mas nem a task-force surgiu de geração espontânea nem o vice-almirante se colocou em campo por sua livre iniciativa ou por iniciativa do ramo das Forças Armadas de que faz parte! 

Foi o Governo que o determinou!

As vozes do “deita abaixo” (como é fácil não se falar de calos quando não calçamos os sapatos apertados dos outros) dirão que tal aconteceu devido aos abusos cometidos, aos escândalos trazidos a público.

Inegável. Mas inegável também que as instituições, governo, partidos, ONGs, SNS, clubes recreativos, de futebol… Todas elas são constituídas por pessoas. E em todas, sem exceção, há bom e mau, pessoas responsáveis e irresponsáveis.

Foram cometidos erros nos últimos dois anos? Imensos!

Mas, ao contrário das crises económicas das quais se vislumbram sempre sinais no horizonte, uma crise pandémica não se faz anunciar. Chega e há que lidar com ela sem qualquer livro de economia, de ciência política ou de instruções que nos valha.

Encara-se com o peito aberto, com tenacidade, resiliência e sobretudo liderança.

Mesmo assim, Portugal cresceu. Mesmo assim, as pessoas não viram os seus rendimentos diminuídos. Mesmo assim, não foram precisas medidas de austeridade.

Aos que agora, sim, falam de necessidade de crescimento económico e empresarial, que já anunciam período austero,  há um recado que todos nós devemos ter em contra e dar no momento adequado: as empresas e a economia são as pessoas e é fácil quando outros semeiam, colherem-se os frutos.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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