www.jornaldenegocios.ptjng@negocios.pt (Jornal de Negócios) - 16 mai. 21:12

Marques Mendes: Tudo o que em Cabrita se mete dá asneira. Vai sair do governo mas é mais tarde

Marques Mendes: Tudo o que em Cabrita se mete dá asneira. Vai sair do governo mas é mais tarde

As notas de semana de Marques Mendes no seu comentário habitual na SIC. O comentador fala sobre a festa do Sporting, o regresso do turismo e as PPP na Saúde, entre outros temas.

A FESTA DO SPORTING

  1. Primeiro, parabéns ao Sporting, ao seu Presidente Frederico Varandas e ao seu treinador, Rúben Amorim. O Sporting foi um justo vencedor, o seu presidente mostrou grande coragem ao assumir a liderança do clube e Rúben Amorim foi uma retumbante surpresa.
  2. Segundo, quanto aos incidentes: importa reconhecer que evitar incidentes e falhas na saúde pública seria sempre difícil. Festejar um título de campeão nacional de futebol, ainda por cima com 19 anos de ansiedade, só podia gerar excessos. Posto isto, há que dizer que foi mau de mais. Assistimos nos últimos dias a três espectáculos absolutamente deploráveis:
  3. Primeiro: a passividade das autoridades, sobretudo a PSP e o MAI. Não foram capazes de planear, preparar e executar uma operação eficaz para evitar ou menorizar os problemas de segurança e saúde pública. Isto não acontece por acaso. Isto sucede porque o poder político se põe "de cócoras" perante os clubes de futebol. Tem medo de perder votos e, por isso, verga-se e ajoelha-se perante o futebol. Não exerce a sua autoridade. Agora foi com o Sporting, mas com o Benfica ou o FCPorto seria o mesmo.
  4. Segundo: a complacência das autoridades perante as claques. Uma vez mais, foram as claques a provocar incidentes. É sempre assim. No Sporting, no Benfica ou no Porto. Comportam-se como um bando de energúmenos. Esta gente não gosta de futebol. Do que gosta é de confusão. Mas ninguém as põe na ordem. São um Estado dentro do Estado.
  5. Terceiro: as autoridades a fazerem striptease na praça pública. A exporem-se nas televisões. A passarem culpas umas às outras, sobretudo entre PSP e CMLisboa. Culpa para cá, culpa para lá; email que se enviou, email que se perdeu, reunião que se fez, reunião que não se fez! Outro espectáculo lamentável. Parece o poder na rua!
  1. Há uma conclusão a tirar: se houvesse um MAI com autoridade nada disto sucedia. O problema é que Eduardo Cabrita está profundamente fragilizado e diminuído na sua autoridade. Esta situação já está a contaminar as próprias forças de segurança. Um Ministro sectorial fragilizado pode ser um problema para o Governo. Um Ministro fragilizado com funções de soberania é um problema para a autoridade democrática do Estado.

COSTA SEGURA CABRITA

  1. O PM fez o que era previsível – voltou a "segurar" Eduardo Cabrita. Ele vai sair mas será mais tarde. Quando o PM fizer a remodelação que está prevista para depois das eleições autárquicas. É um clássico. Todos os Primeiros-Ministros remodelam a meio do mandato. Até lá, António Costa vai tentar "esconder" os Ministros mais impopulares para não prejudicar o PS nas autárquicas.
  1. Até ao fim do ano, o PM tem pela frente dois momentos-chave:
  2. Um, já se sabia, o Orçamento: As primeiras conversas com o PCP já começaram e parece que correm bem. Não são ainda negociações. São contactos preliminares. Mas atenção: a procissão ainda vai no adro. E há autárquicas pelo meio.
  3. O outro, a remodelação: é um teste à autoridade de António Costa. Veremos se faz uma remodelação a sério ou uma remodelação pífia. Há que distinguir entre popularidade e autoridade. O PM está com popularidade alta. Mas já não tem a autoridade que tinha. Isto viu-se com as declarações de Galamba. O PM de há três anos faria o que fez a João Soares: substituiria o SE. Só que o PM já não tem a autoridade que tinha.
  1. Em matéria de remodelações, para já, só mesmo a novidade da remodelação de instalações. Governo e CGD estão em conversações para que vários ministérios, actualmente dispersos por vários pontos da cidade de Lisboa, passem para o edifício-sede da CGD e se concentrem nessas instalações. A questão é esta: a CGD, depois do emagrecimento de estruturas que fez, tem espaço livre a mais no seu edifício-sede; o Governo tem os seus ministérios dispersos uns dos outros, o que não é muito operacional. Assim, podem chegar a um acordo para a transferência de vários ministérios para o edifício-sede da CGD. Para já, decorrem conversações. Nada está decidido. Mas a ideia está em curso.

A VACINAÇÃO

  1. O estado da arte
  2. À escala global, analisando os grandes países e regiões do mundo, constata-se o problema sério deste processo de vacinação: os países ricos e regiões ricas têm vacinas suficientes (caso dos EUA, RU, UE); os países e regiões pobres ficam para trás (caso de África e da Índia). Conclusão: aumentam as desigualdades no Mundo e não se acaba com a pandemia.
  3. À escala nacional, o processo continua bem e em bom ritmo: 4,6 milhões de doses administradas; mais de 3 milhões com uma dose; quase um milhão e meio com vacinação completa; dentro de uma semana teremos as pessoas até aos 60 anos vacinadas; e atingiremos na próxima semana as 5 milhões de doses administradas.
  1. Posto isto, há que enfatizar:
  2. Logística – Este fim de semana foram vacinadas cerca de 200 mil pessoas. Um trabalho notável de uma organização que envolve 4.700 profissionais, sete dias por semana.
  3. Doentes Covid – Começarão a ser vacinadas na semana que começa no dia 23. E podem usar a plataforma de auto-agendamento.
  4. Pessoas abaixo de 60 anos que tomaram a 1ª dose de AstraZeneca – Querendo, podem tomar a 2ª dose da mesma vacina. Não há problema. Não querendo, terão de aguardar novos estudos que estão a ser feitos.
  5. Pessoas com 50 ou mais anosAté 10 de Junho, sensivelmente, estarão vacinados todos os portugueses que tenham 50 ou mais anos. É essencial (é até esta faixa etária que se concentram 98% das mortes por Covid).
  6. Espanha anunciou que 70% da sua população estará vacinada até ao dia 18 de Agosto (imunidade de grupo). Por cá, o Almirante Gouveia e Melo prevê que o mesmo objectivo se alcance no início de Agosto. A Península em sintonia!

O REGRESSO DO TURISMO

  1. A partir de amanhã, o turismo britânico vai começar a regressar em força ao Algarve e à Madeira. Excelente notícia. Basta ter em conta esta realidade: 3/4 da queda do PIB em 2020 deveu-se ao colapso do turismo. Recuperar o turismo é decisivo para recuperar a economia.
  1. As voltas que a vida dá! Há um ano estávamos a criticar o RU por nos ter colocado na lista negra das viagens, afectando o nosso turismo. Um ano depois estamos felicíssimos porque o RU nos colocou na lista verde.

Há um ano como agora, a culpa e o mérito não são do RU. Há um ano a culpa era nossa: não tínhamos a pandemia controlada. Agora, o mérito também é nosso: baixámos a sério o número de infeções. Conclusão: para termos sucesso temos que saber fazer o nosso trabalho de casa.

  1. Nesta caminhada vamos beneficiar do facto de Espanha, Itália e Grécia não estarem na lista verde do RU, onde está Portugal. Oxalá as nossas empresas turísticas saibam aproveitar esta oportunidade, causando uma boa impressão. Para isso, o controle sanitário é essencial. Os turistas vêm, voltam, contam aos colegas e amigos e a imagem que tiverem de Portugal é decisiva para o futuro.
  1. Finalmente: a Final da Liga dos Campeões no Porto. Pelo segundo ano consecutivo, joga-se em Portugal. Desta vez com algum público. Isto é francamente bom para o turismo e para a imagem do país. E prova que a FPF está em alta junto da UEFA.

AS PPP DA SAÚDE

  1. Um recente relatório da Tribunal de Contas veio reconhecer, preto no branco, que as PPP da Saúde são vantajosas para o Estado. Em dois planos: no plano da eficiência e no plano financeiro. Segundo o Tribunal de Contas, as quatro PPP existentes na Saúde conduziram a uma poupança ao Estado de 203 milhões de euros.
  1. Perante estes dados, há algumas constatações e conclusões a tirar:
  2. Primeira: esta constatação não é feita por uma associação privada, um grupo privado ou uma auditora privada. É feita por um tribunal. Neste caso, o Tribunal de Contas, o grande juiz financeiro do país.
  3. Segunda: isto não significa que o SNS seja mau, que se deva acabar com o SNS ou sequer generalizar as PPP da Saúde. Nem pensar. O SNS é insubstituível e representa uma mais-valia de sucesso.
  4. Terceira: o que isto significa é que é bom para o país e para o próprio SNS que haja dentro do sistema de saúde alguns hospitais em regime de PPP. Porque introduz diversidade; porque gera uma competição saudável dentro do SNS; porque faz com que haja referências diferentes dentro do SNS que incentivam a uma maior qualidade e eficiência da gestão pública.
  • Perante estas evidências oficiais, matar as PPP será um desastre. Infelizmente, parece que é mesmo isso o que se prepara para acontecer.
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