sol.sapo.ptsol.sapo.pt - 19 set. 09:50

'Ana Gomes seria uma má, instável e desestabilizadora Presidenta'

'Ana Gomes seria uma má, instável e desestabilizadora Presidenta'

Manuel dos Santos diz que o PS está a ‘enredar-se num novelo de contradições’ e admite votar em Marcelo Rebelo de Sousa.

A cidadã Ana Gomes, por iniciativa própria ou estímulo alheio, decidiu ser candidata nas próximas eleições presidenciais. Está no seu direito. O meu conhecimento pessoal da pessoa em causa, fundado numa certa convivência política de oito anos no Parlamento Europeu, mas não só, impede-me, absolutamente que  a apoie. Infelizmente, se fosse eleita, mera hipótese académica, seria uma má, instável e desestabilizadora Presidenta. A magistratura da presidência nunca pode ser desempenhada por alguém que se atira de cabeça e por razões exclusivamente mediáticas.

Ana Gomes é militante do PS e já desempenhou cargos relevantes em nome do Partido Socialista. Seria de esperar que tivesse mais apoios dentro do PS?

Irá ter muitos apoios dos dirigentes do PS, espero que apenas a título individual, sem que daí resulte qualquer prejuízo para o resultado final, que acabará por ser ajustado à normalidade e ao bom senso. Esta candidatura terá inevitáveis virtudes para o aparelho socialista, porque não evita a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, mas pode limitá-la, ajudando assim a controlar os ímpetos de mudança de atitude e comportamento no segundo mandato.

Há uns meses defendeu que António José Seguro devia ser candidato. Seguro saiu da política depois de ter sido derrotado por António Costa. Tem pena que ele não regresse à política ativa?

Seria o meu candidato ideal à Presidência da República. Penso que ele e Passos Coelho, como seguramente outros, fazem falta ao debate público que está a degradar-se de um forma preocupante em Portugal. Espero que reconsiderem e compreendam a necessidade da sua intervenção e regressem a curto prazo. Como é óbvio, estarei, completamente, ao lado de Seguro.

O Governo está a negociar o Orçamento do Estado para 2021 com os partidos de esquerda. António Costa fechou a porta a entendimentos com a direita e falou numa crise política se não houver acordo com o Bloco e o PCP. Estas negociações para aprovar o orçamento serão mais difíceis devido à crise provocada pela pandemia?

Não é conveniente fechar portas a potenciais entendimentos políticos no período extremamente delicado que vivemos. Não é conveniente e muito menos do interesse nacional. A não ser que se esteja a apostar numa estratégia de ‘quanto pior, melhor’ nada justifica esse comportamento. A abertura de uma crise seria irresponsável e causaria prejuízos dificilmente suportáveis pela sociedade portuguesa. O responsável por isso deve ser, severamente, penalizado.

Há condições para o Governo durar quatro anos ou existe o risco de uma crise política antes do final da legislatura?

O Orçamento para 2021, e os que se seguirão, serão difíceis de negociar, não apenas por causa da situação pandémica que vivemos e consequente crise económica e social, mas sobretudo porque o modelo em que tem de assentar a nossa recuperação e desenvolvimento, em linha com as opções da União Europeia, não tem nada a ver com os modelos de sociedade defendidos pelos dois partidos que têm vindo a sustentar o Governo.

Está a referir-se ao Bloco de Esquerda e ao PCP.

Exato. Desta vez as coisas são diferentes e o escrutínio e monitorização da União Europeia será mais exigente. Por isso e a manter-se a posição absurda do primeiro-ministro, de fechar as portas a partidos à direita do Partido Socialista, poderá haver interrupção da legislatura. Por razões constitucionais e interesse corporativo de todos os partidos, isso nunca sucederá antes de 2022.

Estamos preparados para lidar com a crise económica e social provocada pela pandemia?

Não estamos, mas com a ajuda e a solidariedade europeias e renunciando a comportamentos politiqueiros, desadequados e irracionais temos condições para nos prepararmos. Aliás, não há alternativa.

A resposta da União Europeia foi adequada?

A resposta da União Europeia, se nela incluirmos a política do Banco Central Europeu, foi a adequada para princípio de conversa. Mas só os ignorantes ou irresponsáveis não compreendem como os processos de decisão europeia são lentos e a implementação dos instrumentos e medidas morosos e, às vezes, cheios de surpresas. Teremos de esperar, pacientemente, para ver.

Acredita que Portugal vai utilizar bem os fundos da União Europeia?

É absolutamente indispensável que o faça. A União Europeia e o próximo Presidente da República serão elementos chave para esse sucesso. E esse sucesso também tem muito a ver com a base de apoio político do Governo que tem de se identificar como o modelo de sociedade prevalecente na União Europeia.

Nas últimas eleições apareceram novos partidos. Algumas destas novas realidades estão a conseguir consolidar-se. Como é que olha para estes novos partidos?

O fortalecimento da democracia convive bem com o aparecimento de outras alternativas. É, por isso, importante que apareçam novos partidos e que se consolidem. É preciso contudo que não se trate de partidos zombie que só obedecem à lógica egoísta dos seus fundadores.

O que pensa do Chega de André Ventura?

Não é, nem poderá vir a ser da minha área política, mas acho bem que uma corrente mais à direita tenha representação no espetro partidário nacional e não desejo a sua extinção. Os ataques primários que têm sido feitos a esse partido e ao seu líder só servem para os fortalecer. A reação de algumas das figuras de ‘referência’ da apelidada esquerda tem sido irracionais.

Fala-se há muito tempo em mudanças no sistema eleitoral. É defensor de que é preciso mudar alguma coisa nomeadamente para travar o aumento da abstenção?

Faço um balanço positivo do funcionamento do sistema eleitoral que tem provado bem em diferentes circunstâncias, mas reconheço que é necessário combater a abstenção que retira alguma legitimidade aos eleitos. Defendo várias alterações entre as quais o voto obrigatório e o voto com escolha preferencial previsto no modelo belga.

António Costa foi muito criticado por integrar a comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira nomeadamente devido ao envolvimento do presidente do Benfica em alguns casos de justiça. Foi um erro político?

Se fosse primeiro-ministro ou presidente da câmara de um concelho onde o meu clube de eleição tivesse interesses diretos teria provavelmente mais cuidados. Mas não considero que seja um ‘crime’ que um agente político afirme publicamente a sua opção por uma candidatura ou um projeto. Não foi a primeira vez que António Costa e Fernando Medina pertenceram à comissão de honra de Luís Filipe Vieira e não me lembro de barulho semelhante.

Uma das diferenças é que Luís Filipe Vieira está envolvido em problemas com a justiça... Continua a apoiá-lo?

Sou sócio do Benfica, já tive posições relevantes e irei apoiar sem hesitação o Luís Filipe Vieira a quem reconheço uma obra notável ao serviço do clube e do desporto português. Nunca assisti a uma perseguição tão violenta e injusta a um dirigente desportivo e nunca testemunhei uma campanha tão violenta contra um clube ímpar no contexto nacional e contra uma instituição bancária em dificuldades que tem de ser ajudada para não acabar mal. Felizmente que a sagacidade do presidente do Benfica pôs, para já, um ponto final nesta situação.

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