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Calçado regressa a Milão em busca da retoma

Calçado regressa a Milão em busca da retoma

Empresas tentam recuperar os meses perdidos com o confinamento. Portugal vai ter 33 empresas na Micam, menos de metade de 2019.

É sob o signo da incerteza que arranca amanhã, em Milão, a maior feira do calçado do mundo. A Micam, na sua 90ª edição, conta com 500 expositores internacionais, um terço dos habituais, e com cinco mil visitantes inscritos. Há um ano, sem pandemia, passaram pelo recinto de exposições, a Fiera Milano Rho, mais de 44 mil pessoas. Portugal faz-se representar por 33 empresas, contra as 81 que lá estiveram há um ano. De entre os ausentes, grandes marcas como a Fly London, Lemon Jelly ou Luís Onofre. “A Micam é a feira mais importante do mundo, com um grande peso dos mercados extracomunitários. E eu percebi que os meus clientes mais importantes não vão a Milão, pelo que não fazia sentido estar lá”, diz o empresário de Oliveira de Azeméis e que lidera a associação do setor, a APICCAPS.

E foi precisamente a pensar em todas as empresas que não vão a Milão que a associação lançou o novo portal Portuguese Shoes, que pretende ser “a maior montra de calçado português alguma vez criada”, para dar a conhecer a 50 mil profissionais em todo o mundo cerca de 10 mil artigos – o número estimado no final do ano, mas que continuará a crescer – dos mais de 400 sócios da APICCAPS. “As feiras são importantes, mas percebemos que há muita gente que não se sente confortável em viajar até Itália no atual contexto, designadamente da parte dos compradores e, em especial, dos extracomunitários. E se os clientes não vão à Micam, temos nós de chegar até eles, com esta nova alternativa. Uma ferramenta que veio para ficar e que poderá, até, vir a substituir a presença em alguns dos certames internacionais”, admite Luís Onofre.

O universo digital é uma das grandes apostas do setor, nomeadamente através do seu plano estratégico, que inclui um “roteiro para a economia digital”. O FOOTure 4.0 nasceu em 2018, mas, em ano de pandemia, mostrou-se particularmente acertado. Que o diga Luís Onofre, que, este ano, regista quebras de 47% e de 53% nas lojas da marca no Porto e em Lisboa, respetivamente, enquanto as vendas online cresceram 120%. Uma coisa não compensa totalmente a outra, admite, mas é o suficiente para obrigar as empresas a olhar “de outra forma” para o negócio na internet. “Os retalhistas vivem momentos dramáticos. Há lojas físicas que começam a equacionar se faz sentido a sua existência e isso é muito assustador. Sou muito old school e admito a minha desconfiança em relação a este movimento, mas tive de me resignar e seguir por este caminho, tentando intensificar o trabalho online do setor”, explica.

E este é o momento certo para isso. ”É um ano importante para tirarmos conclusões sobre o futuro da tecnologia no nosso sector”, defende. Desde o início do ano, mais de 80 empresas de calçado já investiram no segmento digital, através da associação a plataformas internacionais de prestígio, como a Amazon, bem como na criação de lojas online e de campanhas de marketing digital. Apesar de todos os esforços realizados, os dois meses de confinamento que obrigaram muitas empresas a encerrar, em abril e maio, tiveram consequências e, possivelmente, não serão recuperados.

Exportações em queda
As exportações estão a cair 19,3%, no acumulado do ano, para um total de 878 milhões de euros. O que já representa alguma recuperação, apesar de tudo. Em abril a quebra foi de 53%, em maio de 44%. Em junho, a perda face ao mês homólogo foi de 20% e em julho as exportações já só caíram 13,9%.
Mesmo assim, no acumulado de janeiro a julho, o setor exportou menos 209,5 milhões do que em igual período de 2019. Isto depois de, nos últimos dois anos, ter já perdido 165 milhões de euros. “O setor da moda estava já a passar por uma recessão grande e a pandemia só a veio agravar”, admite o presidente da APICCAPS, que teme pelo futuro.

“A resiliência dos industriais de calçado tem sido excecional, mas se o atual estado de coisas se prolongar, se as quebras de inverno forem como as de verão, vamos ter encerramentos, não vale a pena escamoteá-lo”, admite Luís Onofre. Os seguros de crédito são uma das principais preocupações. “A grande maioria dos nossos clientes não tem hoje seguro de crédito. O simples facto de uma empresa aceder a uma moratória é razão para a perda do seguro e isso não é plausível. Estamos a trabalhar na base da confiança, mas isso cria-nos uma instabilidade muito grande. A Comissão Europeia tem que ter uma palavra sobre isto”, diz este responsável, que garante: “a situação tem que ser revista a curto prazo, ou muitas empresas poderão deixar de existir”.

1,8 mil milhões de euros
O valor aproximado das exportações em 2019, uma quebra de 5,7% face ao ano anterior.

878 milhões de euros
Foi quanto o setor vendeu ao exterior nos primeiros sete meses do ano, uma quebra de 19,3%.

5100 milhões de pares
É a quebra estimada para o consumo mundial de calçado em 2020, dos quais 908 milhões na Europa.

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