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Licenças são estratégia para recompensar trabalhadores

Licenças são estratégia para recompensar trabalhadores

Empresas apostam em licenças sabáticas como uma proposta de benefícios pouco habitual no mercado português.

Há quem parta à aventura e no final da experiência traga um foco maior e se sinta mentalmente refrescado. Mas também há quem fique em casa a acompanhar os primeiros momentos de um novo filho. Não há um motivo concreto para pedir uma licença sabática, algo em que empresas como a consultora Everis ou a plataforma de e-commerce de luxo Farfetch estão a apostar.

No caso destas organizações, este tipo de licenças faz parte dos benefícios disponíveis para os colaboradores, num mercado onde a competição pelo talento representa um desafio para os empregadores.

Na Everis, que disponibiliza esta opção desde 2017, cada colaborador pode ausentar-se até dois meses por ano – embora também haja abertura para prolongar a licença. Tanto Simão Castro como Marta Oom de Sousa, trabalhadores da consultora, optaram por licenças mais longas. No total, já 22 trabalhadores da Everis fizeram um pedido do género.

Simão Castro, consultor, viajou ao longo de cinco meses por sete países, percorrendo Malásia, Laos ou Índia, em 2019. Trekking, meditação ou ioga faziam parte do plano de viagens. A semente da ideia já existia há anos, mas só no final de 2018 ganhou coragem. “Gostava de tirar uma licença, tenho esta ideia, são cinco meses e a minha intenção é voltar”, disse ao responsável de unidade. Em janeiro, estava a entrar num avião. Meses depois, já de regresso ao escritório, reconhece que, além do “turismo puro e duro”, reteve da experiência “alguma capacidade de foco e paciência”.

Já Marta Oom de Sousa optou pela experiência de voluntariado e rumou, pela segunda vez, até Calcutá para trabalhar com as Missionárias da Caridade ao longo de três meses. Antes de regressar a Portugal, contabilizou 32 dias e 800 quilómetros a fazer a rota francesa do Caminho de Santiago. Afirma não ter sentido qualquer tipo de nervosismo na apresentação da ideia. “Durante a experiência é muito bom o descanso de saber que tinha alguém para me receber.”

O regresso ao trabalho após a licença foi mais desafiante. “Calhei num projeto mais complexo quando voltei”, em julho de 2019. “Foi um regresso um bocado acelerado, não houve tempo para fazer coisas mais calmas, mas fui muito acompanhada. Qualquer dificuldade emocional era muito mitigada pelas pessoas que me estavam a acompanhar.”

Joana de Almeida, head of talent management da Everis, refere que “este tipo de licenças é uma forma muito prática de demonstrar aquilo em que acreditamos a nível de valores e da forma como tratamos e nos preocupamos com os nossos colaboradores”.

“Entendemos que, enquanto empresa, possibilitar este benefício aos nossos colaboradores é um ganho para todos. Queremos pessoas felizes na Everis, neste contexto de mercado de TI, é algo que queremos manter e que não é fácil para as empresas do nosso negócio ter os colaboradores sempre com graus de satisfação elevados. A procura é muito grande, o mercado é muito sexy e o nosso objetivo, ao longo da experiência dos nossos colaboradores, é que encontrem a felicidade e propósito na Everis”, resume.

Devolver tempo

Na Farfetch existe desde abril de 2019 o programa Boomerang, pelo qual os trabalhadores podem ter acesso a uma licença paga de oito semanas, desde que tenham cinco anos de casa. Ana Sousa, VP People da Farfetch, foi a primeira a experimentar o programa – quase como um piloto.

“Por volta de 2015 ou 2016 começámos a tentar desenhar benefícios diferentes daquilo que existia no mercado, pelo menos no português. Muitas empresas, como a Google, Facebook, por aí fora, já têm estes programas há muito tempo.” Se durante algum tempo a empresa achou que “ainda não estaria em condições para lançar um programa destes”, devido ao crescimento rápido da empresa, tudo mudou o ano passado.

“Se as pessoas dão tudo e são muito empenhadas e comprometidas vamos dar-lhes de volta aquilo que nos pediam: tempo”, afirma, destacando que o grande objetivo deste Boomerang é a “ida e volta, porque a ideia é que a pessoa regresse”. Num ano, já foram recebidos 110 pedidos.

No caso de Ana, as oito semanas foram ocupadas com uma viagem entre amigos pela Austrália e Nova Zelândia, numa autocaravana. Além de lições de liderança, destaca que foi quase como um “refresh mental”. “Já estava numa fase de quase de cansaço emocional, no sentido de precisar de tempo, de fazer um reset.”

Entre os trabalhadores, o feedback é semelhante. “Voltam mais motivados, com vontade a dobrar e essa energia é notória.” Todos os funcionários que usufruíram da licença continuam na empresa, afirma Ana Sousa.

Para Nuno Salvaterra, head of agile coaches da Farfetch, os motivos para usufruir do Boomerang foram bem diferentes. Pai pela terceira vez, aproveitou a oportunidade para criar uma “espécie de licença parental intermédia”.

Não foi a primeira vez que esteve ausente por um período de tempo prolongado, algo que ajudou a aprender a desligar. “Há uns anos era diferente de como sou agora; tinha muita dificuldade em desligar e permanentemente, mesmo ao fim de semana e à noite, estava muito na minha matriz estar em cima da situação.”

“Também sou líder de equipas e tive um feedback muito transparente da minha equipa de que, estar a trabalhar fora de horas, em férias ou ausências prolongadas, passava um mau exemplo para as outras pessoas”, explica. “Quase que refletia nos outros que era esperado que estivessem permanentemente ligadas, mesmo em alturas de férias. Recebi muito bem esse feedback, entendi e hoje em dia consegui mudar.” Desta vez, afirma que conseguiu desligar completamente.

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