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"As empresas não podem, simplesmente, fechar. A economia tem de se mexer"

"As empresas não podem, simplesmente, fechar. A economia tem de se mexer"

A frase é de Ana Santos, da marca Carlos Santos, mas traduz o sentimento generalizado no sector

Com ou sem pandemia, é preciso reforçar laços com os clientes existentes e procurar novos negócios. O Dinheiro Vivo foi ouvir as expectativas de quatro das empresas que estarão, até quarta-feira, em Milão, na maior montra de calçado do mundo.

Ambitious pela Europa a visitar clientes
A Ambitious, marca da Indústria de Calçado Celita é uma das presenças habituais na Micam, e este ano não é exceção. Aliás, desde julho que a equipa comercial da empresa de Guimarães tem estado em contínuas visitas a clientes. Pedro Lopes, que estará fora praticamente três semanas, entre Holanda, Itália e Bélgica, lembra que “este ano em especial é preciso dar particular atenção ao contacto próximo com os nossos clientes, que praticamente não têm viajado”. E se a montanha não vai a Maomé…

A empresa tem participado em pequenos certames de cariz mais local, mas o regresso às grandes feiras deu-se com a presença na Gallery, que decorreu em Dusseldorf, na Alemanha, de 1 a 3 de setembro e se revelou um sucesso. “Foi um shot de motivação. Dois dias de trabalho intenso, com visitantes a quererem comprar. Trazemos indicadores muito positivos”, refere.

As expectativas para a Micam são significativas, mesmo com a ausência de compradores extracomunitários, sobretudo porque Itália é o principal mercado da Ambitious, que exporta para 47 países, incluindo alguns mais ‘improváveis’, como a Síria ou Mongólia. “Dada a situação da pandemia, sabemos que a feira vai ter menos expositores e menos visitantes, mas contamos, ainda assim, fazer um trabalho interessante, mesmo que não fique ao nível de estações anteriores”, diz Pedro Lopes.

Com duas fábricas e 200 trabalhadores, a Celita aderiu ao lay-off em abril e fechou, retomando o trabalho em maio. E desde então as encomendas não têm faltado, levando a empresa a só fechar uma semana para férias. O que não significa que recupere o que perdeu. “Temos noção que vamos chegar ao final do ano com quebras, de quanto é difícil, para já, fazer previsões. Temos indicadores muito positivos em países como Itália, Alemanha, Escandinávia ou Holanda, mas vamos ter quebras nos extracomunitários”.

A Celita faturou 20 milhões de euros em 2019, dos quais 35% assegurados pela Ambitious. Lançou-se, recentemente, no vestuário, com a apresentação de uma coleção cápsula, em parceria com o designer Patrick de Pádua, mas a pandemia não ajudou. Leva à Micam a nova coleção para primavera-verão 2021 e inova, no calçado, com a entrada num novo segmento de produtos, com uma linha mais casual, com recurso a solas recicladas.

Carlos Santos crê nas oportunidades de 2021
Referência no calçado de luxo para homem em Portugal, a Carlos Santos é outra das marcas que não falha a sua presença em Milão. Nem com a covid-19. “Tivemos três momentos desde a tomada de decisão. Primeiro fomos pela velha máxima de que ‘em tempos de crise, bons negócios podem surgir’. Num segundo momento, o fator covid começou a pesar, mas, agora, já interiorizámos que se não fosse a pandemia poderia ser uma outra crise qualquer, como já passámos por tantas, e, portanto, lá estaremos, com as devidas precauções e na esperança que tudo corra pelo melhor”, diz a diretora marketing e de vendas da Zarco, a empresa de São João da Madeira que detém a marca. Ana Santos recusa-se, no entanto, a avançar com previsões. “Criar expectativas para esta feira seria um contrassenso”.

Com 80 trabalhadores, a Zarco fechou em março e trabalhou em abril e maio a 50%, com recurso ao lay-off. Retomou o trabalho a tempo inteiro em junho, mas longe da capacidade total da fábrica. A Carlos Santos tem uma loja online, mas que representa ainda pouco nas vendas da marca. “Até porque as plataformas online carecem de investimentos paralelos constantes”, diz. A três meses do fim do ano, Ana Santos reconhece que “este ano já não vai ter grandes melhorias”, mas acredita que 2021 trará novas oportunidades. “As empresas não podem simplesmente fechar. O mundo, a economia, tem de se mexer”, argumenta.

Felmini com metade da equipa habitual
Quem conhece a Micam sabe que o stand da Felmini é sempre dos mais concorridos e animados. Este ano, com as limitações impostas pela pandemia, não o será, mas a localização do espaço, junto a uma porta de entrada no pavilhão e com um banco corrido mesmo em frente, ajudará a distribuir o atendimento aos clientes. Em vez das seis pessoas habituais, a equipa da J. Moreira, a empresa de Felgueiras que detém a marca, será composta apenas por três elementos, mas a presença na Micam não esteve nunca em causa.

“Uma empresa que trabalha em moda, diretamente para o retalho, não pode deixar de estar na Micam. Admitimos que em vez dos 600 ou 700 visitantes que costumamos ter, possamos ter só 200, mas são clientes e temos de estar lá para eles. E até podem aparecer outros, tudo é possível, não podemos é perder o dinamismo”, diz Joaquim Moreira. O stand vai ser, pela primeira vez, dividido entre a Felmini e a Be-mood, a aposta mais recente.

Com 140 trabalhadores, a empresa de Felgueiras fechou em abril para lay-off. Retomou em maio e o trabalho não falta. Tudo encomendas para a Felmini. “É o nosso orgulho, não fabricamos para marca nenhuma a não ser a nossa”, diz o empresário. O online tem sido uma das áreas de grande aposta, com o desenvolvimento de um catálogo digital, durante o confinamento.

Flex & Go não parou para férias
Especializada em calçado e conforto, a Flex & Go garante mesmo que dispõe dos sapatos “mais flexíveis e confortáveis” para o dia a dia da mulher. A marca, propriedade da Cindicalfe, de Castelo de Paiva, é uma das presenças habituais na feira e 2020, mesmo com pandemia, não será exceção. “A Micam é um ponto de referência do contacto com os clientes, é uma feira em que se trabalha muito bem e de onde se trazem encomendas”, diz André Oliveira, responsável comercial da empresa. Claro que, com a covid-19, e a incerteza associada a que tipo de visitante irá à feira, as expectativas são limitadas. “Sabemos que vai ser complicado, mas temos de ser positivos. Tudo o que vier é ganho”, frisa.

Com 70 trabalhadores, a Cindicalfe esteve mês e meio fechada, e regressou ao trabalho em maio. Desde aí, não parou, nem para férias. “Tínhamos encomendas a que era preciso dar resposta e não podíamos arriscar a que fossem canceladas”, explica André Oliveira. Que admite que, mesmo assim, o ano será de quebra. As férias serão gozadas no próximo mês. “Claro que é chato, mas são os ossos do ofício. E esperemos que seja para o bem de todos, a longo prazo”.

Presente em cerca de 20 mercados, a Flex & Go tem em Itália e Espanha os seus principais clientes. “Vamos trabalhar para que os clientes apareçam. Não podemos parar”.

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