expresso.ptexpresso.pt - 19 set. 00:07

Um jornal com paredes de fumo

Um jornal com paredes de fumo

Visita guiada pelos locais que marcaram a história do Expresso

Sejamos francos: era um edifício estranho para acolher um jornal. Mesmo muito estranho e mais ainda agora, quando olhado à distância de um tempo em que os regulamentos, diretivas, normas e diktats das autoridades sanitárias tornariam proibido tudo o que, nessa altura, fazia o dia a dia desta redação. Hoje, seria uma impossibilidade. Mas o edifício onde o Expresso nasceu, cresceu e se tornou um jornal de referência era mesmo assim. Na Duque de Palmela, no prédio de três andares (e mais o sótão) havia o enorme cão da porteira que passava o dia a ladrar no pátio interior do edifício. Depois, havia os velhos vizinhos que, a custo subiam a escadaria de madeira, lançando olhares de desprezo aos intrusos jornalistas, essa espécie de ‘ocupas’ que se instalou naquele prédio feito para o sossego das famílias e não para o reboliço das notícias. Havia uma loja de antiguidades e uma empresa de fretes marítimos, mais a família do casal da portaria, com os seus dois filhos, que mais cedo que tarde integraram a equipa do Expresso.

Mas, esse foi mesmo o princípio. Era o tempo em que se fumava em todas as pequenas divisões que formavam a redação, deixando um rasto de neblina pelos corredores da casa e um toque de sfumato às personagens que por eles passavam. Era o tempo em que os almoços levavam horas e juntavam uma tertúlia na cave do senhor Estrela e da dona Maria, com o Quitério a relatar ao pormenor cada prato de favas com chouriço, sem nenhuma ASAE para reparar que aquilo não tinha condições de higiene ou não sei mais o quê. Era o tempo em que o melhor sítio para festejar a passagem de cada ano de vida do jornal era o Whispers, uma discoteca (boîte para os ainda mais antigos) plantada num centro comercial. Que raio de sítio para se apinharem políticos e artistas de todas as variedades, mas o certo é que não havia quem faltasse. Tudo ao molho e fé no bar, que era aberto até ser dia, para alegria dos resistentes, cada vez mais próximos e colados, fossem eles paquetes ou jornalistas ou diretores ou governantes. A história do Expresso fez-se em vários lugares. Nestes e em muitos outros. Do centro de Lisboa a Laveiras, da Boavista até Matosinhos as sedes foram mudando nestes 47 anos de um roteiro de lugares onde, muitas vezes sem se saber, se foi fazendo (parte) da história de um país.

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