visao.sapo.ptvisao.sapo.pt - 22 abr. 13:00

Viagens terríveis e outras epifanias no livro "Cinco Travessias do Inferno", de Marta Gellhorn

Viagens terríveis e outras epifanias no livro "Cinco Travessias do Inferno", de Marta Gellhorn

“Como correu a viagem?”, pergunta-se. Nem todas as respostas têm a lucidez e o humor negro da jornalista norte-americana Marta Gellhorn. O livro Cinco Travessias do Inferno já está à venda nas livrarias
Jornalista, Martha Gellhorn (1908-1998) foi grande correspondente de guerra, pioneira da profissão ao serviço dos grandes média da época

Jornalista, Martha Gellhorn (1908-1998) foi grande correspondente de guerra, pioneira da profissão ao serviço dos grandes média da época

Ela nunca descreveria as suas dezenas de viagens com o otimista “correu às mil maravilhas”. Martha Gellhorn (1908-1998) não foi uma turista distraída, ainda que a própria confesse que a memória lhe misturou dados e datas, nada amparados pela pasta “fininha” e com poucas fotografias que lhe sobrou das aventuras pelo mundo. Jornalista, grande correspondente de guerra, pioneira da profissão ao serviço dos grandes média da época, sem precisar de encomendas para apanhar um avião, ela atribui o seu desassossego à infância em Saint Louis, no Missouri. “A minha relação com as viagens era a mesma do leopardo com as suas manchas. Toda a minha vida fora viajante, desde pequena, quando andava nos elétricos da minha cidade natal que me transportavam até Samarcanda e Pequim, até ao Taiti e Constantinopla.” Os nomes dos lugares, afiança, “eram a magia mais poderosa”: Suriname? Tinha de conhecer um lugar assim batizado (lê-se no prefácio de Carla Baptista). Um impulso que cumpriu numa vida extraordinária.

Inspirado por uma estada fortuita numa praia grega deplorável (Kastelli), este volume impagável arruma as “melhores de entre as piores viagens”: China, Caraíbas em versão ilhas, África, Rússia e Israel. São uma montanha-russa épica, cheia de mosquitos, baratas e homens escarradores, choques culturais e protocolos rid��culos, personagens romanescas e motoristas de antologia, cenas copofónicas, águas contaminadas – e muito humor negro. No primeiro relato, pretexto para a cobertura da guerra sino-japonesa, Martha embarca com um “Companheiro Reticente”; C.R., adivinha-se, é o então marido, Ernest Hemingway. Nas restantes, ela enfrenta, só, roteiros que apenas o tempo suavizará. Mas houve epifanias felizes: a nadar “em estado de graça” numa enseada de Saint-Martin; ou rodeada pelas montanhas azuis do vale do Rift, perto de Nairóbi. “A felicidade é muito mais do que a ausência de dor. Pareceu-me que a natureza do meu sangue tinha mudado, alguma substância nova e rica me percorria as veias e exaltava o coração.” Leia, e faça-se ao caminho.

Cinco Travessias do Inferno (Tinta da China, 384 págs., €24,90) reúne cinco périplos dos muitos realizados pela autora, correspondente de guerra pioneira, que testemunhou todos os grandes conflitos do século XX, do Vietname à Guerra Civil Espanhola ou à Segunda Guerra Mundial

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