observador.ptobservador.pt - 20 jan. 22:14

Eclipse da Lua. Está prestes a começar o espetáculo astronómico do ano

Eclipse da Lua. Está prestes a começar o espetáculo astronómico do ano

O único eclipse lunar total do ano está a começar. A Super Lua já está a brilhar no céu desde as 17h. Madrugada dentro ficará vermelha (ou de sangue). Uma Lua de Lobo. Rara. Igual só em 2021.

Quando o relógio bater as duas horas, 36 minutos e 30 segundos desta madrugada de domingo para segunda-feira, a Terra, a Lua e o Sol vão começar a alinhar-se e o nosso planeta vai impedir a luz solar de chegar à superfície lunar. O resultado será o espetáculo astronómico mais significativo de 2019 e um fenómeno raro de cinco horas e 12 minutos minutos.

Se tiver curiosidade e coragem suficientes para ficar acordado e enfrentar o frio e ver o eclipse lunar em véspera de dia trabalho, vá até à janela e olhe para poente: dentro de algumas horas verá a Lua a desaparecer ligeiramente até ficar completamente vermelha. Se preferir resguardar-se, nós asseguramo-nos que não perde nada: o Observador vai fazer-lhe companhia madrugada dentro com uma descrição minuto a minuto do que vai acontecer no céu. E vamos mostrar tudo o que se passar aqui em Portugal e pelo mundo fora. Caso queira ver tudo em direto aproveite o livestreaming do Centro Ciênvia Viva de Constância.

O espetáculo da Super Lua já começou

O eclipse lunar de esta madrugada não é especial apenas pela coloração peculiar da Lua. É-o também porque estamos perante uma Super Lua. E é “super” porque a Lua vai entrar em fase Cheia quando forem 05h16, isto é, apenas quatro minutos depois de o nosso astro vizinho passar na zona mais escura da sombra terrestre. Mas isso não basta para que o nosso satélite natural nos pareça maior do que o normal — até porque a existência de uma Lua Cheia é obrigatória num eclipse. Ela vai parecer-nos maior porque daqui às 19h59 a Lua Cheia ficou apenas 357.342 quilómetros e 247 metros da Terra este ano. Essa é a segunda maior aproximação da Lua à Terra, ou seja, o segundo maior perigeu de 2019.

Só o facto de ser uma Lua Cheia tão especial já convenceu os mais curiosos de olhos pregados mo céu. Havia bons motivos para isso: o nosso astro vizinho está 14% maior e 30% mais brilhante do que se estivesse no apogeu. Além disso, durante o nascimento, a Lua é iluminada por luz branca que depois é refletida para a Terra e se torna avermelhada quando dispersa na atmosfera terrestre.

O resultado é o que se vê nestas imagens aqui em baixo.

Coruche, Portugal.

Carlos Neves

Também tirou fotografias ao nascer da Lua? Ou pretende ficar de lentes apontadas ao luar durante esta noite? Pode enviar-nos as suas imagens para o e-mail mlferreira@observador.pt. Mas aproveite  para seguir os conselhos que os astrofotógrafos Miguel Ventura e Pedro Ré deram ao Observador: use sempre um tripé, evite utilizar telemóveis em vez de máquinas fotográficas, escolha lentes que permitam ampliar a distância focal e esteja atento a parâmetros como ISO [sensibilidade da câmara à luz], tempo de exposição e abertura da lente. Além disso, se tiver um telescópio à mão, tire proveito dele: aponte a máquina ao foco principal do instrumento.

Entretanto, quem não pode estar de máquina fotográfica em punho recorreu a outro tipo de arte. Começam a surgir na Internet as primeiras brincadeiras acerca do fenómeno que vai reinar esta noite. Uns já gozam com a avalanche de imagens que se esperam após uma noite de Lua gigante e vermelha. Outros brincam com a incapacidade que alguns não conseguem ultrapassar de tirar más fotografias à Lua.

Here we go!

Posted by Astrophotography by Douglas J Struble on Sunday, January 20, 2019

Sobre o eclipse de hoje a noite

Expectativa // Realidade pic.twitter.com/sJKbkOYCx7

— Wesley (@wvdes) January 20, 2019

Que eclipse vem aí?

O eclipse de esta noite vai ser visível tanto em Portugal Continental como nas ilhas do primeiro minuto até ao último. O ponto máximo do fenómeno será às cinco horas, 12 minutos e 14 segundos, pois é a essa hora que a Lua estará completamente mergulhada na zona mais escura da sombra da Terra. Apesar de estar escondida nessa sombra, a Lua não vai desaparecer — como aliás, nunca acontece durante os eclipses lunares. Ficará vermelha, daí que popularmente se diga que estamos perante uma Lua vermelha ou de sangue.

É assim por causa da atmosfera terrestre. Imaginemos um planeta Terra sem a atmosfera de 800 quilómetros de altura que absorve a radiação ultravioleta e que nos protege da colisão de corpos celestes vindos do espaço. Se assim fosse, os raios solares que entram na nossa atmosfera e que iriam passar tangentes à Terra — porque não estão direcionados para chegar à superfície — seguiriam em frente sem mudar de direção. Mas como a atmosfera existe, ela desvia a trajetória desses raios solares, fazendo com que entrem dentro da sombra da Terra. Ou seja, a sombra da Terra não é completamente escura, daí a Lua nunca desaparecer durante um eclipse.

Mas porque é que fica vermelha e não de outra cor qualquer? Por causa da Lei de Dispersão de Rayleigh: a eficiência da dispersão varia com o inverso do comprimento de onda à quarta. Ou seja, quanto maior o comprimento de onda, menor é este efeito de desvio provocado pela atmosfera. Acontece que os comprimentos de onda maiores são os vermelhos por isso são os menos desviados e seguem quase na mesma trajetória. Por outro lado, os azuis são os mais desviados, por isso ficam dentro da atmosfera. É por isso que o céu é azul.

Mas não é apenas pela coloração peculiar do eclipse lunar que este fenómeno é especial. É-o também porque estamos perante uma Super Lua. E é “super” porque a Lua vai entrar em fase Cheia quando forem 05h16, isto é, apenas quatro minutos depois de o nosso astro vizinho passar na zona mais escura da sombra terrestre. Mas isso não basta para que o nosso satélite natural nos pareça maior do que o normal — até porque a existência de uma Lua Cheia é obrigatória num eclipse. Ela vai parecer-nos maior porque daqui às 19h59 a Lua Cheia ficou apenas 357.342 quilómetros e 247 metros da Terra este ano. Essa é a segunda maior aproximação da Lua à Terra, ou seja, o segundo maior perigeu de 2019.

January 21 2019 Moon Eclipse @ Stellarium simulation

???? Simulação no Stellarium do Eclipse da Lua de dia 21, (aproximado) das 03:36, pico 04:41, fim 06:50 @ Branca #moon #eclipse #d21 #january #superMoon

Posted by Carlos Neves on Saturday, January 12, 2019

E quanto à parte de ser conhecida também como uma Lua de Lobo? Bom, esse nome não tem qualquer justificação científica. Não existe qualquer referência a um lobo na astronomia. Diz-se que esta é uma Lua de Lobo porque é a primeira Lua Cheia do ano. Mas essa referência, tal como o nome “Lua de Sangue”, é meramente popular.

Eventos de observação noturna espalhados pelo país

Caso prefira guardar o momento apenas na memória, há vários locais espalhados pelo país que vão estar de portas abertas para receber os exploradores do céu noturno. Nas ilhas, o Observatório Astronómico de Santana e a Associação de Astronomia da Madeira vão abrir portas para receber os observadores do céu noturno. Na Madeira, vai haver astrónomos em Gaula, Caniço e Funchal para captar imagens do eclipse.

No Algarve, o Centro de Ciência Viva em Faro também tem uma atividade organizada para esta madrugada, mas tem de se inscrever através do e-mail inscricoes@ccvalg.pt. E quando chegar ligue para Filipe Dias, responsável pelo AstroClube, através do número +351 969 523 661.

Se estiver no Porto e quiser companhia durante o eclipse, o Observatório de Astronomia do Parque Biológico de Gaia vai estar aberto para que o público possa assistir ao fenómeno. A mesma iniciativa foi tomada pelo Observatório Geofísica e Astronómico da Universidade de Coimbra, pelo Centro de Ciência Viva de Constância (Santarém) e pelo Observatório Astronómico do Alqueva (Évora).

De resto, também o Observatório Stella Maris, de Cristóvão Cunha, vai receber até 60 pessoas em Aguiar da Beira, distrito da Guarda. Só tem de ligar com antecedência para o número +351 926 670 528 para se inscrever. Clique nos links para saber mais sobre cada uma das atividades.

Se preferir ficar por casa, essa também é uma hipótese a considerar. Basta que tenha alguma janela com vista para poente e que não viva num local com prédios muito altos para conseguir ver a Lua. O eclipse acontece já durante a madrugada, quando o astro já está alto no céu, por isso não necessita obrigatoriamente de ter uma vista desimpedida para o horizonte.

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