ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 20 jan. 12:58

De plástico disperso a uma ilha. Como chegámos aqui?

De plástico disperso a uma ilha. Como chegámos aqui?

O i falou com o homem que revelou ao mundo a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, que tem uma área 17 vezes maior do que Portugal. O capitão Charles Moore ajuda-nos a traçar as origens do conhecimento do problema

Foi com a descoberta da Grande Mancha de Lixo do Pacífico que a sociedade começou a ficar alerta para o flagelo do plástico e se apercebeu dos perigos que uma dependência tão acentuada do plástico pode ter. Atualmente, a comunidade científica estima que aquela que é a maior ilha de lixo flutuante do mundo – apesar de haver lixo em todos os oceanos –, tem cerca de 1,6 milhões de quilómetros quadrados e cerca de 80 mil toneladas de resíduos. Para precisar a dimensão, nada melhor que uma imagem: a dita ilha podia comportar 17 conjuntos de Portugal continental e ilhas.

Mas como foi “descoberta” esta ilha de lixo localizada no Pacífico Norte? O feito é atribuído ao capitão Charles Moore – que esteve em novembro em Lisboa para a palestra “A sea of plastics”, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – e remonta a 1997. Ao i, Charles Moore recorda que estava navegar do Havai para Long Beach, na Califórnia – de onde é oriundo – quando começou a ver, no giro subtropical do Pacífico Norte, “resíduos de plástico à superfície para onde quer que olhasse”. Não era uma ilha de lixo, como hoje, mas sim “pequenos pedaços intermitentemente”, precisa.
Moore esteve sempre ligado ao mar; o pai era um “marinheiro ávido”, como gosta de o descrever, e desde criança que cruza o mar. Essa proximidade levou-o a criar, em 1994 – antes da descoberta no Pacífico –, a Algalita Marine Research Foundation, uma associação sem fins lucrativos destinada a investigação científica para restituir as águas costeiras da Califórnia do Sul. Depois do infeliz encontro, o capitão e investigador mudou o rumo da investigação desenvolvida pela associação e centrou-se no estudo do impacto dos plásticos nos oceanos.

Questionado pelo i quanto às principais conclusões que já apurou, Charles Moore não hesita ao afirmar que “o plástico fundamentalmente altera a ecologia da região”. Debruçando-se em específico sobre os microplásticos, o capitão alerta que “os microplásticos estão a invadir a biosfera”, avançando que está a finalizar um artigo que será publicado numa revista científica em breve.

Em relação ao futuro, não faz previsões animadoras: à pergunta “acha que algum dia iremos conseguir limpar todo o plástico que existe nos oceanos”, Moore responde um assertivo “não”. Por outro lado, acredita que há algo que todos podemos fazer para diminuir a dependência do plástico e ajudar a diminuir a dimensão do problema: “reduzir o consumo de plástico”, afirma ao i.

Desde a sua descoberta, de resto, tem vindo a recolher resíduos plásticos do oceano para estudo e tem dado a conhecer o problema em todo o mundo, através de palestras e apresentações.

Limpar o oceano: uma missão impossível? Charles Moore pode negar a possibilidade de retirar o plástico dos oceanos, mas há quem pense de forma diferente. É o caso de Boyan Slat, o jovem engenheiro herdeiro de uma grande fortuna que decidiu aplicar o seu dinheiro na criação de um sistema para fazer isso mesmo.

Criou para tal a fundação The Ocean Cleanup, em 2013, e em setembro último, o sistema que criou começou a operar no Pacífico. Não faltaram vozes críticas, que descartaram desde o início que o sistema conseguisse recolher o plástico das águas – incluindo Charles Moore, que recorda ao i que o sistema “nunca poderia ter funcionado” e que “disse isso” a Boyan Slat quando ele lhe “falou da ideia há 10 anos” – e houve quem defendesse mesmo que o sistema iria criar outros problemas, e a verdade é que no fim do ano vieram a público notícias que davam conta de que o processo estava a passar por várias dificuldades. Apesar dos obstáculos encontrados, Boyan Slat mostra-se esperançoso no sistema em entrevista ao i (página 17). E ainda que Moore afirme que se “provou que tinha razão” quanto à ineficácia do sistema, Slat não recua e garante ao i que “o objetivo do The Ocean Cleanup é livrar os oceanos do mundo inteiro de plástico”.

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