rr.sapo.ptrr.sapo.pt - 20 jan. 12:23

“Costa e Centeno nada fizeram para o futuro”, acusa Miguel Morgado

“Costa e Centeno nada fizeram para o futuro”, acusa Miguel Morgado

“É preciso pôr os portugueses a desejar o futuro em vez de se remendarem com o presente”, diz o antigo assessor de Passos Coelho em debate com Luís Aguiar-Conraria e Nuno Botelho.

“O grande desafio político da próxima geração, o grande desafio dos próximos 30 anos é aumentar as expectativas do povo português que se tornaram muito baixas”, defende Miguel Morgado no Conversas Cruzadas deste domingo.

“Para utilizar uma expressão de que gosto: é preciso pôr o país, os portugueses ‘a desejar o seu futuro outra vez’. Os portugueses deixaram de desejar o futuro para se remendarem no presente. É esse o nosso problema. É imensamente castrador nas possibilidades de imaginação económica, política e social para o país se rejuvenescer”, defende o professor universitário que foi assessor de Passos Coelho durante o governo da coligação e assume divergências com a direcção de Rui Rio.

“A cultura socialista, a cultura do PS coligado com o BE, o que tem feito nos últimos 20, 30 anos em Portugal é o inverso: baixar radicalmente as expectativas do país, António Costa e Centeno são 'grandes políticos' porque não conduziram novamente o país à bancarrota, ‘são uma maravilha’, insiste Miguel Morgado, carregando no registo irónico.

Já Luís Aguiar-Conraria contrapõe ao julgamento do deputado social-democrata com erros de avaliação estratégica do PSD e da liderança de Pedro Passos Coelho.

“Mas as expectativas de que o país se dirigia de novo para a bancarrota foram criadas pelo PSD, ao falar da governação suicida do PS. Foi o PSD a fazer com que não levar o país à bancarrota se tenha transformado, em si mesmo, numa vitória política”, contradita Aguiar-Conraria, professor de economia Universidade do Minho

Miguel Morgado não objeta a crítica, mas insiste num ciclo de oportunidade perdida. Um mais. “Mas o ponto é que quando Passos foi embora, Costa e Centeno não fizeram mais nada e ficaram a capitalizar apenas os esforços de... apenas ter gerido o status-quo. Foi isso que Costa e Centeno fizeram”, diz o deputado do PSD.

Miguel Morgado: “PS converteu crescimento medíocre à escala global num ‘milagre’ económico”

“No actual contexto de recuperação económica mundial, Costa e Centeno converteram um crescimento medíocre - nesse contexto mais global - num milagre económico. E houve uma complacência geral a concorrer para que este governo não fizesse absolutamente nada quanto a preparar o futuro”, acusa Miguel Morgado

“Sei que ninguém segue os debates na AR, mas são importantes como referência do pensamento dos partidos sobre si próprios e sobre os outros. Em qualquer momento, seja qual for o debate, PS e Bloco dizem sempre o mesmo: ‘é verdade o que temos aqui para propor não é grande coisa, mas ao menos não cortamos pensões...’, insiste Morgado, agora sem ironizar.

“Temos um problema cultural face à abertura que a sociedade e o sistema político (não) vão tendo para com alguns debates. O caso paradigmático é o da sustentabilidade da segurança social. Por isso a absoluta irresponsabilidade do Partido Socialista - nesta legislatura e neste mandato - dizer na AR, e não vale negar porque eu estava lá e ouvi, vários deputados que são agora membros do governo, afirmarem que não existe rigorosamente nenhum problema de sustentabilidade”, acusa Miguel Morgado.

“No PS disseram que não havia nenhum problema na segurança social e que isso é apenas um fantasma ideológico do neoliberalismo e por aí adiante. Quando as coisas são assim tratadas com esta resposta do partido no governo e esta resposta é tida como uma espécie de dogma a fechar de uma vez por todas o debate então nós temos um sério problema cultural”, alerta o deputado do PSD que vai mais longe e alerta para “o mais grave de todos os problemas” porque fundeado social e culturalmente no país que somos.

“É o problema da poupança. Um economista achará uma redundância o que vou dizer, mas é uma espécie de tautologia interessante. A razão pela qual Portugal é um país tão endividado é porque não há poupança. Claro que isto é uma tautologia...”, admite Miguel Morgado que prossegue.

“Mas, elaborando este ângulo mais cultural, sem poupança não existe autonomia. Se as famílias estiverem muito endividadas vão estar culturalmente predispostas para aceitar relações de clientelismo e de dependência face ao Estado. O mesmo vale para as empresas”, indica o autor do livro ‘Autoridade’ da FFMS.

“Se as empresas estiverem fortemente endividadas vão querer colocar-se nas mãos do governo, dos partidos políticos e nós voltamos ao mesmo ciclo de dependência e endividamento que só pode depois de ter a resposta de Rocha Andrade, esta semana, ‘ah querem normalizar o país, então vamos aumentar impostos’, na referência de Miguel Morgado à entrevista do deputado do PS ao Jornal de Negócios/Antena 1 e à frase: “não é possível satisfazer reivindicações sem aumentar impostos”.

Nuno Botelho: “Mas está tudo doido?”

Contra a voracidade fiscal implícita na frase do ex-secretário de estado dos assuntos fiscais está o empresário Nuno Botelho, presidente da influente Associação Comercial do Porto.

“E tem havido uma maior arrecadação de impostos, uma receita fiscal muito maior em 2018 do que, por exemplo, em 2008. E continuamos a ter uma carga fiscal ainda mais elevada. Fruto da evolução económica o Estado consegue arrecadar mais impostos do que alguma vez jamais conseguiu, mas o Estado continua a devorar mais e mais receitas... não se percebe...”, critica Nuno Botelho. “Ainda esta semana ficamos a saber que o Novo Banco terá nova capitalização de 800 milhões”, acentua o jurista e empresário.

“E este governo acaba de aprovar, e o PR promulgar, uma lei que prevê escrutinar saldos bancários superiores a 50 mil euros. Ou seja, quem aforra vai ser vistoriado pelo fisco e, por sua vez, não se pode saber quem são os grandes devedores da CGD. Mas está tudo doido?”, dispara Nuno Botelho.

“Isso é a cultura do PS e por isso não saímos daqui. Por isso é que no fundo, no fundo, há um problema cultural. É preciso responder à preponderância cultural do Bloco de Esquerda - que, entretanto, venceu essa guerra com o PS - com uma resposta do lado não socialista ou da direita, como queiram chamar”, observa Miguel Morgado que já prometeu mobilizar um movimento para repensar o PSD e federar todo o centro direita português.

Luís Aguiar-Conraria: “Esperar não é saber. Quem sabe faz a hora”

“Desejar o futuro” à esquerda baixa expectativas? Responde Luís Aguiar-Conraria: “É um bom sound-bite para ser dito por líderes de direita, mas não tem nada de substantivo. Aqui o essencial, e já que estamos a falar de futuro e de jovens, é uma coisa que percebo quando falo com os meus alunos - e já falei com colegas que chegaram à mesma conclusão”, diz o professor da Universidade do Minho.

“É que se falarmos com alguém de 20 e tal anos, ninguém acredita que vai ter reforma quando sair do mercado de trabalho. Ninguém acredita que vai ter reforma. E, portanto, como já uma vez aqui disse a respeito de uma líder de direita 'esperar não é saber, quem sabe faz a hora'. Está na altura dos líderes forçarem o debate sobre a segurança social e chamarem a si a resolução do problema”, insiste Luís Aguiar-Conraria.

'Nós tentámos e fomos dizimados", replica Miguel Morgado. “Tentaram e voltem a tentar, portanto tentem outra vez e consigam”, reponta Aguiar-Conraria. “Chamem os jovens a esse debate, porque é algo decisivo. Neste momento os jovens dão como adquirido que não vão ter direito a reforma. Não podemos é desistir deste debate”, insta Luís Aguiar-Conraria.

Miguel Morgado: “Agora depende de Rui Rio”

Por último, mas não menos importante, a semana mais intensa do ano de Rui Rio na liderança do PSD. A aprovação da moção de confiança - por (quase) dois terços dos conselheiros nacionais - confere ao líder uma trégua na conflitualidade permanente na grande casa laranja. E agora Rui Rio? Responde Miguel Morgado, ex-assessor de Passos Coelho que sempre assumiu divergências com o novo líder social-democrata e quer ver o PSD como o farol que federe toda a família política não socialista.

“Agora depende de Rui Rio. Rio é que vai ter de aproveitar a oportunidade que lhe é dada - e é-lhe mesmo dada pelo Luís Montenegro, talvez involuntáriamente, ainda não percebi, mas é uma oportunidade de Rio fazer diferente”, faz notar.

“Sempre assumi que a minha grande divergência com Rui Rio que nesta fase, mais vale dizê-lo, é insanável e irreconciliável é uma divergência de natureza estratégica”

“Por isso, a única maneira de Rui Rio aproveitar bem esta oportunidade que lhe é dada é inverter o rumo estratégico que seguiu. Inverter mesmo do ponto de vista literal. Não pode ser uma ligeira mudança aqui e ali”, alerta Miguel Morgado.

“Caso contrário o PSD não fica à altura da sua vocação, assumida desde a sua fundação, no sistema político português: ser uma alternativa essencial ao Partido Socialista com um projecto de governação e de sociedade que seja essencialmente diferente do PS”, prossegue o deputado

“Se Rui Rio fizer isso, então, óptimo. Se não o fizer, então, este Conselho Nacional do Porto fica apenas como um episódio que serviu para o PSD estar sob os olhos da opinião pública durante alguns instantes, não muitos, e não necessáriamente aos melhores olhos da opinião pública”.

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